A reunião do FOMC dessa semana confirmou as expectativas do mercado de manutenção da fed fund rate, continuando no patamar de 5,25%-5,50%. O comunicado mostrou que o comitê continua preocupado com a ausência de progresso da desinflação no 1T24, de forma que precisam de confiança nos próximos dados para que voltem a falar sobre a possibilidade de redução dos juros. Assim, Powell retirou de seu open remark a parte em que dizia que o comitê acredita ser apropriado reduzir a restrição da política monetária em algum momento esse ano. Além disso, na coletiva foi discutido os preços de aluguéis, que foram os catalisadores da inflação no primeiro trimestre do ano. Para o presidente do Fed deve haver uma desaceleração a frente, mas sabe que o lag entre a transmissão da política monetária e a desaceleração dos preços está mais longo do que esperavam.
Foram criadas 175 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola nos EUA em abril, ficando aquém do projetado pelo mercado que esperava uma criação de 243 mil vagas. As áreas que registraram maiores ganhos de emprego foram as da saúde, assistência social e de transporte e armazenamento. Além disso, a taxa de desemprego saiu de 3,8% em março para 3,9% em abril, também acima dos 3,8% esperados pelo consenso. O salário médio por hora subiu 7 centavos, representando um aumento de 0,2% m/m e atingindo US$ 34,75. Dessa forma, o rendimento médio por hora tem um aumento acumulado de 3,9% nos últimos 12 meses.
O PMI industrial oficial da China recuou de 50,8 pontos em março para 50,4 pontos em abril. Apesar da queda, a leitura foi acima dos 50,3 pontos previstos pelo mercado e ainda mostra o setor em patamar de expansão. O dado destoa do PMI Caixin, que contempla empresas privadas e menores, avançou de 51,1 em março para 51,4 em abril sendo o sexto mês consecutivo acima de 50 pontos, que marca a divisão entre expansão e contração da atividade, também acima das expectativas do mercado de 51 pontos. Essa alta está relacionada com a melhora nas condições de demandas. A entrada de novas encomendas teve o ritmo mais rápido em mais de um ano, ao mesmo tempo que os novos pedidos do exterior aumentaram no maior ritmo em quase três anos e meio.
O CPI na zona do euro ficou em 2,4% em abril na base anual, mostrando estabilidade em relação a março. O dado foi em linha com o esperado pelo consenso. Na comparação mensal, o índice de preços subiu 0,6%, desacelerando na comparação com a variação de 0,8% m/m registrada em março. O núcleo do CPI, por sua vez, ficou em 2,7% na base anual, também representando desaceleração com março. As maiores contribuições para a leitura segundo a Eurostat foram serviços, alimentos, álcool e tabaco.
O PIB da zona do euro subiu 0,5% a/a no 1T24, acima dos 0,2% esperados pelo consenso. Na comparação trimestral, o produto teve uma variação de 0,3%, também superior a expectativa do mercado de 0,1% t/t. Esse crescimento foi impulsionado pela retomada de crescimento da Alemanha, além de uma forte expansão da economia espanhola. Além disso, o PIB do 4T23 foi revisado para baixo, mostrando uma contração de 0,1% ao invés da estagnação reportada anteriormente, confirmando que a zona do euro estava em recessão técnica no 2S23.
A Amazon começou o ano reportando resultados acima do esperado. O segmento da Amazon Web Services (AWS) foi responsável por 17% das receitas totais e teve alta de também 17% nas suas vendas. A receita da Amazon somou US$ 143,3 bilhões, valor levemente acima do consenso e 12,5% maior em relação ao 1T23. As vendas de anúncio reportaram 25% a/a de crescimento, maior alta entre todos os segmentos, e contribuiu com 8% da receita total da empresa. Os cortes de custos implementados desde 2022 refletiram em margens melhores, com lucro ajustado de US$ 0,98 por ação enquanto se esperava US$ 0,83. É importante ressaltar que a Amazon nunca pagou dividendos, e com os bons resultados do 1T24, a pressão fica ainda maior para que haja o compartilhamento de parte lucro com os acionistas.
A Apple entregou números razoáveis referentes ao 1T24. Dado o baixo volume de vendas que já havia sido antecipado ao mercado, a empresa conseguiu superar temores de Wall Street. Sua receita líquida foi de US$ 90,8 bilhões, enquanto a FactSet apontava US$ 90,5 bilhões. Isso marcou uma baixa de 4% a/a, sendo a 5ª queda observada na receita nos últimos 6 trimestres. As vendas de iPhones caíram 10,5% e somaram US$ 46 bilhões, levemente abaixo do consenso de Wall Street, devido principalmente à queda na demanda chinesa. O segmento de serviços mais uma vez foi um dos maiores destaques positivos, com alta 14,2% na receita de US$ 23,9 bilhões, superando em US$ 800 milhões a estimativa de pesquisas realizadas pela FactSet. Além disso, o lucro por ação foi de US$ 1,53, acima dos US$ 1,51 por ação que o mercado esperava.
Brasil
Foram abertas 244.315 vagas de emprego formal no mês de março, segundo Caged. Esse resultado é o mais alto para o mês desde 2020, quando foi iniciada a série histórica com nova metodologia. Mesmo assim, esse número mostra uma desaceleração de 20,1% m/m. Dentre os cinco grandes grupos de atividades econômicas, o único que registrou saldo negativo foi o de agropecuária, especialmente no Rio Grande do Sul, Mato Grosso e São Paulo. Além disso, o salário médio de admissão no mês foi de R$ 2.081,50, mostrando estabilidade em relação à média de fevereiro.
O setor industrial brasileiro cresceu 1% m/m em março, impulsionado pela indústria de alimentos, segundo os dados da PIM. O destaque da leitura foi o açúcar e produtos do complexo de carnes. No acumulado dos últimos 12 meses. A indústria de alimentos teve uma alta de 4,5% enquanto a indústria geral registrou variação de 0,7%. A segunda maior influência da leitura foram os produtos têxteis, com uma alta de 4,5% m/m.
Santander foi o primeiro banco brasileiro a divulgar o resultado do 1T24. A carteira de crédito cresceu 5% a/a e 2% t/t, sendo que essa alta levemente acima da expectativa do BTG se deu principalmente devido aos segmentos de pessoa física, financiamento ao consumo e empréstimo PME. Já a margem financeira total da empresa subiu 8% t/t e 14% a/a, somando R$ 15,2 bilhões, impulsionada por maior volume de operações e spreads mais altos. Esse trimestre mostrou sinais claros do começo da recuperação do banco liderada pelo CEO Mario Leão, com destaque para o LAIR, que teve crescimento de 86% t/t e 90% a/a. Por sua vez, o ROE foi de 14%, enquanto o lucro ajustado marcou R$ 3 bilhões, com altas de 37% t/t e 41% a/a e, respectivamente, 9% e 6% acima do estimado pelo BTG.
O Bradesco apresentou um primeiro trimestre em linha com as expectativas. Os resultados foram de acordo com o guidance do banco, visto como positivo já que em 4T23 que os números vieram bem abaixo das previsões. Porém, é importante ressaltar que o banco ainda enfrenta uma delicada fase de reestruturação. A inadimplência teve melhora trimestral de 30 pontos e marcou 4,8%, impulsionada principalmente pelas pessoas físicas e carteira de PME. As despesas operacionais caíram 10% t/t, refletindo uma maior eficiência nas operações. Enquanto o consenso da Bloomberg apontava R$ 3,87 bilhões de lucro líquido recorrente, o Bradesco entregou R$ 4,21 bilhões, leve baixa de 1,6% a/a e alta de 46,3% t/t.
O 1T24 da Weg foi marcado por uma melhora na rentabilidade. Houve uma queda na receita líquida, o que era de se esperar, e pode ser explicada pelo cenário de câmbio e menor entrega de energia renovável no Brasil. O EBITDA somou R$ 1,8 bilhão, representando alta de 5% a/a e baixa de 3% t/t, com uma margem de 22%, valor 1 p.p. acima da previsão do BTG. A receita de exportação da Weg foi de R$ 4,1 bilhões, alta de 3% a/a e 6% abaixo do estimado pelo BTG. Impulsionada pela demanda da América do Norte, as exportações medidas em dólar cresceram 8% a/a. Já a receita doméstica foi em linha com o consenso e marcou alta de 7% a/a, somando R$ 3,9 bilhões e tendo como destaque as vendas de equipamentos industriais. Por sua vez, o lucro líquido se manteve estável ao ano e reportou baixa de 24% e foi de R$ 1,3 bilhão.
O Iguatemi começou 2024 com um trimestre bastante positivo. A receita teve uma alta de 6,1% a/a e somou R$ 304,1 milhões, que se deu principalmente pelos segmentos de locação temporária, aluguel percentual e estacionamento. Já as vendas de mesmas lojas e mesmas áreas subiram 7,3% e 10,3% a/a. O Ebitda da empresa marcou os R$ 225,7 milhões, alta de 13,4% a/a, enquanto a margem Ebitda avançou para 74,1%. O FFO ajustado subiu 38,7% a/a e somou R$ 153,7 milhões com margem de 50,5%, frente aos 38,6% do 1T23. Por sua vez, o lucro ajustado foi o principal destaque positivo, já que ficou em R$ 108,4 milhões, representando 63% de crescimento anual.
Mercados
Na última semana do mês, os mercados se ajustaram ao comunicado do Fed, agenda otimista e conseguiram performar majoritariamente. Na agenda internacional, os principais drivers de preço foram a decisão de juros nos EUA, Payroll e continuidade da temporada de balanços por lá. Também podemos destacar o PMI industrial da China e o PIB e inflação na zona do euro, dados que fizeram menos preço. No Brasil, mercado de olho nos números do Caged, perspectiva de crédito pela Moody’s e a continuidade da temporada de balanços.
Conforme já esperado pelos mercados, o Fed manteve a taxa de juros básica americana inalterada no intervalo entre 5,25% e 5,50%. O comitê destacou que ainda faltam sinais mais claros de uma convergência inflacionária e reforçou o tom já visto nas últimas duas reuniões. Powell também frisou que o combate à inflação não está garantido e ressaltou a importância dos próximos dados para definir o rumo e o direcionamento da política monetária. Vale destacar que o presidente do Banco Central Americano também eliminou algumas especulações de um eventual aumento de juros. Segundo Powell, seriam necessários dados convincentes de que a atual política restritiva não está fazendo efeito e que esse não é o cenário base do comitê. Nesse sentido, os yields cederam na parte mais curta da curva e as bolsas no geral reagiram de forma positiva. Consequentemente, o dólar frente a uma cesta de moedas e contra o real enfraqueceu.
Deve-se lembrar também do Quantitative Tightening anunciado pelo órgão americano. A partir de junho, o Fed irá reduzir o ritmo de venda de títulos soberanos e com isso pretende diminuir a liquidez, o dinheiro em circulação e reduzir seu balanço. O volume de vendas se limitará em US$ 25 bilhões por mês, uma redução de aproximadamente 60% da oferta.
O Payroll americano veio bem abaixo de todas as expectativas e sugeriu, na margem, uma desaceleração do mercado de trabalho americano. Nessa linha, as taxas dos Treasuries americanos caíram fortemente depois da divulgação do dado e do aumento mais fraco da renda no geral. Os yields chegaram a cair mais de 10 bps ao longo de quase toda a curva americana e o título de dois anos chegou a ser negociado com quase 17 bps de fechamento em comparação ao patamar visto no dia anterior. As bolsas americanas reverteram as perdas dessa semana; o S&P 500 voltou a marca de 5100 pontos e a Nasdaq 100 superou o índice das quinhentas ações com maior valor de mercado em um rally liderado por Apple e outras gigantes de tecnologia. Agora, o mercado de juros tem setembro como cenário base para início de cortes, com um total previsto de 50 bps de flexibilização nesse ano.
Dentre o noticiário corporativo, a agência Moody’s manteve o rating do Brasil, mas elevou de “estável” para “positiva” a perspectiva do país. Essa nota ainda enquadra o país em um grau especulativo, mas o deixa a duas posições do tão desejado grau de investimento. A mudança da agência foi a primeira alteração desde 2018 e segundo a mesma, reflete as expectativas de um crescimento robusto do PIB brasileiro, impulsionado por reformas estruturais e um ambiente de menor incerteza política e econômica. Embora ainda haja desafios devido à alta dívida e sensibilidade a choques econômicos, a Moody’s destaca a força da economia diversificada do Brasil e instituições relativamente fortes. A agência projeta um crescimento anual do PIB de cerca de 2% para 2024 e 2025, com expectativas de melhoria nos déficits fiscais devido a reformas como o novo marco fiscal.
Em geral, não acreditamos que o Brasil seja capaz de driblar tão facilmente essa questão da trajetória da dívida e arrecadação a fim de estabilizar as contas públicas. Vimos recentemente a facilidade na alteração do objetivo fiscal para 2025, que saiu de um superavit primário de 0,5% do PIB para um déficit zero, que é a mesma meta para esse ano. Isso já colocou em risco toda a credibilidade do arcabouço e não à toa, estressou a ponta longa da curva de juros, que segue inclinada. Ademais, essa dependência de aumentos na arrecadação fiscal alinhada a capacidade limitada da redução de gastos e os constantes riscos de intervenção em companhias estatais são fatores que também corroboram como uma ameaça à credibilidade soberana.
Na comparação semanal, o dólar perdeu força contra o real e a curva de juros brasileira aliviou em todos os vértices, na média 14 bps. Já o Ibovespa demonstrou um volume majoritariamente comprador e acumulou uma valorização de 1,57%, fechando a semana aos 128.508 pontos. O saldo de capital estrangeiro continua negativo e acumula aproximadamente 2,5 bilhões de reais de retiradas.
Em resumo, o discurso de Powell e a leitura positiva do Payroll eliminou a especulação de um aumento de juros, fomentou o apetite ao risco e suportou as bolsas. Em outras palavras, foi reduzido o risco de cauda precificado por parte dos mercados. No Brasil, estima-se que a dívida pública deve chegar ao final do governo Lula em 80% do PIB e é essa percepção de aumento da dívida que produz o prêmio de risco visto atualmente na curva de juros real.
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