26/06/24

Análise da Semana - 20 a 24 de Maio de 2024

A ata do FOMC mostrou o comitê mais hawkish quando comparado a reunião de março, tendo em vista a preocupação com as surpresas inflacionárias do primeiro trimestre do ano. Assim, os membros do comitê mostraram maior inclinação para manter a política monetária restritiva por um período mais longo, até terem evidências claras de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a meta. Vale ressaltar que a ata está relativamente desatualizada, principalmente ao considerar as surpresas baixistas mais recentes nos dados de CPI e payroll. No documento há uma indicação de que existe uma expectativa de desinflação gradual, porém a um ritmo mais lento do que o esperado anteriormente. Dessa forma, o Fed projeta que a inflação se aproxime da meta de 2% até 2026, por conta da expectativa de melhor equilibro entre demanda e oferta nos mercados de trabalho e de bens. A principal preocupação do comitê está relacionada ao aumento nos preços do núcleo de serviços e nos preços dos bens essenciais.

O PMI composto da zona do euro subiu para 52,3 pontos em maio, depois de uma leitura de 51,7 pontos em abril, ficando acima do consenso de 51,8. Esse dado representa a maior alta do ano, além de permanecer acima do nível de expansão. Setorialmente, o PMI de serviços ficou estável no mês, marcando 53,3 pontos e abaixo da expectativa de 53,4, enquanto o PMI industrial subiu, atingindo 47,4 pontos, ainda em patamar de contração, mas acima dos 46,1 esperados. Essa leitura indica que a economia na zona do euro está ganhando força, com novos pedidos crescendo de forma saudável e um ritmo de contratação constante por parte das empresas, com a confiança empresarial atingindo seu pico dos últimos 27 meses.  

Nvidia superou as expectativas otimistas do mercado referentes ao 1T24. As vendas subiram 262% a/a e 18% t/t e somaram US$ 26 bilhões, número US$ 1,4 bilhão acima do consenso de Wall Street. O trimestre foi marcado por um expressivo crescimento da demanda por chips de processamento de inteligência artificial em nuvem, com receita de US$ 22,6 bilhões, responsável por 87% da receita total da empresa e representando alta de 427% a/a. A nova demanda por inteligência artificial foi o principal impulsionador desse número, uma vez que esse foi o primeiro trimestre que contou com essa fonte de receita. A margem bruta bateu recorde histórico ao subir para 78,9%. Por sua vez, o EPS da Nvidia foi de US$ 6,12 e teve alta de 19% t/t e 461% a/a, enquanto se esperava US$ 5,6 por ação. O guidance para o próximo trimestre também superou o esperado que já era otimista, com receita de US$ 28 bilhões enquanto previa-se US$ 26,6 bilhões.   

 

Brasil

Segundo a projeção dos ministérios do Planejamento e da Fazenda, divulgada essa semana, o governo central deve fechar o ano com um déficit primário de R$ 14,5 bilhões, isto é, 0,1% do PIB. A projeção ainda está dentro da margem de 0,25% do PIB definida no arcabouço fiscal, apesar de a meta do resultado primário deste ano ser zero. Essa estimativa é pior do que a última divulgada pelo governo em março, que indicava um déficit de R$ 9,3 bilhões, apesar de não mudar em relação a proporção do PIB. O aumento da projeção se dá pelo aumento de R$ 24,4 bilhões nas despesas primárias, totalizando uma despesa primaria projetada de R$ 2,21 trilhões. Desse aumento, a maior parte é proveniente de despesas obrigatórias e apenas RR$ 4,3 bilhões de despesas discricionárias. No relatório também é mencionado o impacto primário de R$ 12,9 bilhões referentes a recursos para atender à calamidade pública no Rio Grande do Sul, porém esses gastos não são computados no cálculo de resultado primário nem nos limites do novo arcabouço fiscal.

A XP Inc teve uma performance negativa no 1T24. A captação líquida do banco foi de R$ 15 bilhões, 1 bilhão abaixo do trimestre passado. Sua receita institucional caiu 14% t/t ao somar R$ 354 milhões, influenciada principalmente pela queda na atividade de clientes institucionais brasileiros. Já os ativos sob custódia subiram 20% a/a e 2% t/t, no total de R$ 1,14 trilhão com captação líquida de R$ 15 bilhões. Porém, as despesas administrativas somaram R$ 1,4 bilhão, marcando alta de 36% a/a. A razão entre as despesas gerais, de vendas e administrativas e receita líquida, chamada de índice de eficiência, ficou nos 36,5% nos 12 meses. Os números performaram sutilmente abaixo da expectativa do BTG, que já não era muito positiva. Em resumo, esse trimestre foi prejudicado pela persistência dos juros elevados e falta de iniciativas para novos negócios, fazendo a ação do banco despencar após o anúncio dos resultados.

 

Mercados

Nessa semana mais moderada em termos de indicadores econômicos, os mercados se mantiveram instáveis e fecharam a semana majoritariamente no campo negativo, exceto a Nasdaq. No espectro internacional, o principal destaque foi a ata do FOMC, seguido do resultado da gigante de tecnologia Nvidia e o PMI da zona do euro. No Brasil, mercado repercutiu as expectativas do Boletim Focus e o relatório de avalição de receitas e despesas primárias do segundo bimestre desse ano.

A ata do FOMC impactou de forma moderadamente negativa os mercados. Os yields dos Treasuries subiram de forma branda e o dólar frente a uma cesta de moedas (DXY) apresentou uma leve valorização. As bolsas americanas também reagiram de forma marginal, demonstrando uma leve desvalorização. Resumidamente, os comentários dos membros do FOMC reiteraram o “higher for longer” já visto e precificado anteriormente pelos mercados. A discussão do comitê reside em manter os juros mais altos por mais tempo como forma de defesa para possíveis surpresas inflacionárias e caso a inflação não indique uma convergência sustentável para a meta de 2%. Nesse contexto, as apostas sobre início de corte de juros por lá continuam sendo majoritárias no segundo semestre desse ano e a probabilidade implícita na curva para que o ciclo comece em setembro está em 51,2%. Já para novembro, as apostas estão em 62,1%.

No ambiente doméstico, mercado reagiu mal a revisão altista das expectativas de inflação do boletim Focus e a projeção para o resultado primário desse ano, que saltou de R$ 9,3 bilhões para R$ 14,5 bilhões. Economistas e operadores vêm aumentando cada vez mais as apostas em uma pausa nos cortes da taxa Selic em junho dado a piora das expectativas de inflação. Segundo grupo de economistas, essa piora nas previsões inflacionárias sugere que o Banco Central está sem espaço para novos cortes de juros e alguns deles enxergam as estimativas de inflação subindo ainda mais acima da meta de 3%, podendo chegar a 4%. Nessa linha, vimos várias casas revisarem de forma pessimista suas projeções de juros terminal e bolsa para o final do ano. Algumas dessas instituições, inclusive, passaram a ver como improvável mais cortes de juros nesse ano e elevaram as projeções de Selic terminal para acima de 10,25%. Em linhas gerais, é consenso termos taxas de juros mais altas no segundo semestre dado esse contexto conturbado tanto no doméstico como nos Estados Unidos em termos de inflação, o que implica em uma maior dificuldade de ativos de risco performarem. Nesse sentido, instituições vêm recomendando maior exposição a empresas de valor e cases mais defensivos, como é o caso da Vale e algumas teses do setor de utilities.

Dentre os relatórios de research, destaque fica para a visão negativa do JP Morgan quanto ao desempenho do S&P 500 até o fim do ano. Segundo o banco, apesar dos recordes recentes das bolsas de Nova York, a previsão é de que o S&P termine o terminará o ano em 4,2 mil pontos, uma queda de cerca de 20% em relação ao nível atual. Com essa previsão, o JP se posiciona como o grande banco de Wall Street mais pessimista quanto às ações americanas. Em relatório, o estrategista-chefe de mercados do JP, Marko Kolanovic, admite que a posição pessimista sobre o mercado acionário americano impôs perdas ao portfólio do banco. Ainda assim, ele diz não enxergar catalisadores de alta no curto prazo. “Os juros estão restritivos e provavelmente permanecerão assim por mais tempo, as leituras de inflação têm sido mais altas do que o esperado (em média), o posicionamento e os ‘valuations’ dos investidores são altos, consumidores de menor renda estão demonstrando estresse e a incerteza geopolítica está no nível mais alto das últimas décadas”, justifica Kolanovic. Para ele, temas específicos, como o aumento da demanda por chips para inteligência artificial, não são suficientes para compensar os desafios que o mercado terá pela frente neste ciclo de contração monetária.

Na comparação semanal, o dólar se fortaleceu expressivamente contra o real e a curva de juros ilustrou essa piora das expectativas do quadro fiscal brasileiro, com DIs futuros estressando significativamente por toda extensão. O Ibovespa acumulou uma desvalorização de 2,85% e perdeu o suporte dos 126 mil pontos, fechando a semana aos 124.474 pontos. O fluxo e volume foram negativos e em geral, vimos um forte movimento vendedor no índice.

Visto esse escopo mais “hawkish” conforme descrito, pode-se induzir que o Fed será mais restritivo por mais tempo que o esperado e é isso que o mercado passou a refletir nos preços atualmente. Uma vez que o Brasil é um mercado emergente, essa precificação mais dura em termos de política monetária internacional gera mais volatilidade na moeda brasileira e estressa os juros para compensar o prêmio de risco. Para completar, a maior leniência esperada com a inflação quando os indicados pelo governo Lula forem maioria no Copom dificulta ainda mais a continuidade do movimento atual de suavização monetária.

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