26/06/24

Análise da Semana - 13 a 17 de Maio de 2024

O índice de preços ao produtor, PPI, nos EUA teve uma variação de 0,5% m/m em abril, depois de uma queda de 0,1% m//m no mês anterior. Na comparação anual, o índice apresentou um avanço de 2,2%, maior aumento anual desde abril do ano passado. A alta no mês foi acima do projetado pelo consenso, que esperava uma variação de 0,3% m/m. Quase 75% da variação no mês pode ser atribuída ao aumento no índice de serviços, que subiram 0,6% m/m. O núcleo do PPI teve um aumento de 0,4% m/m, representando uma aceleração ante a leitura de 0,2% m/m em março e, nos últimos 12 meses, o núcleo aumentou 3,1%.

O índice de preços ao consumidor, CPI, por sua vez, teve uma leitura abaixo do esperado pelo consenso, avançando 0,3% m/m em abril contra 0,4% m/m projetados. A leitura mostra desaceleração do índice em relação ao dado de 0,4% m/m em março. Na comparação anual, o CPI teve uma variação de 3,4% a/a, depois de ter chegado a 3,5% a/a em março. Os destaques da leitura foram os índices de habitação e gasolina, responsáveis por cerca de 70% do aumento mensal. Ainda, o núcleo da inflação teve uma alta mensal de 0,3%, desacelerando em relação a alta mensal de 0,4% nos últimos três meses, e o avanço anual foi de 3,6%.

Na reunião do Banco Popular da China, foi decidido manter as taxas de juros estáveis, de acordo com o esperado pelo mercado. Essa decisão está relacionada a um sentimento cautelosamente otimista, tendo em vista surpresas positivas nas exportações e à inflação ao consumidor de abril, que acabaram com a urgência em liberar estímulos monetários para a recuperação econômica do país. Mesmo assim, ainda existem pontos como o enfraquecimento o yuan e a incerteza em relação aos próximos passos do Fed, que restringem as possibilidades de flexibilização da política monetária.

O CPI da zona do euro teve uma variação em termos anuais de 2,4% em abril, nível estável em relação ao mês de março. No mesmo período do ano passado, a taxa estava em 7%. Já na comparação mensal, o índice de preços apresentou alta de 0,6%. O resultado veio em linha com o previsto pelos analistas. A maior contribuição do mês foi proveniente do setor de serviços, seguido por alimentos, álcool e tabaco, e bens industriais não energéticos. Por outro lado, os preços de energia recuaram. Dentre os países membros, os que tiveram taxas mais altas foram Romênia, Bélgica e Croácia, enquanto os que apresentaram as menores taxas foram Lituânia, Dinamarca e Finlândia.

 

Brasil

O volume de serviços no país mostrou uma recuperação em março, com uma variação de 0,4% m/m depois de queda em fevereiro. Esse resultado ficou acima do esperado pelo consenso, que previa uma alta de 0,2% m/m. Com isso, o setor acumula uma alta de 0,5% nos três primeiros meses do ano. O resultado corrobora com a visão de que o PIB do 1T24 será positivo. Mesmo que na comparação anual a leitura represente uma queda de 2,3%, o mercado entende que o desempenho do setor está em um nível saudável tendo em vista o contexto macroeconômico brasileiro. Além de estar em um patamar 12,1% acima do pré-pandemia.

O IBC-Br, índice de atividade econômica considerado uma previa do PIB, teve um recuo de 0,34% m/m no mês de março, depois de um avanço de 0,4% m/m em fevereiro. O dado ficou abaixo do esperado pelo consenso, que previa uma retração de 0,25% m/m. Na comparação anual, o índice teve uma queda de 2,18% a/a e nos últimos 12 meses acumula avanço de 1,68%. Por fim, o IBC-Br teve um aumento de 1,08% t/t no 1T24.

O BTG Pactual teve mais um trimestre com recorde de resultados. Assim como o lucro líquido, a receita do 1T24 foi recorde ao somar R$ 5,8 bilhões, com altas de 4,2% t/t e 23% a/a. O segmento de Investment Banking foi o maior impulsionador de resultado, sendo que o crescimento anual de 151% marcou a superação do efeito Americanas, contando ainda com a maior receita de M&A já registrada e forte resultado de DCM. Além de IB, todas as outras fontes de receita do banco também registraram crescimento consolidado. O lucro líquido ajustado foi de R$ 2,8 bilhões e marcou recorde histórico, com crescimento de 1,5% t/t e 27,7% a/a. O ROE de 22,8% foi o maior do setor bancário no 1T24, mostrando mais um motivo para se consolidar entre a primeira prateleira de bancos privados do Brasil junto ao Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil.

O 1T24 da Localiza entregou números acima das expectativas. O RAC da empresa teve um aumento de 6% a/a, que representa o dobro do esperado pelo BTG, enquanto a tarifa média teve alta de 14% em linha com as previsões e ficou no valor de R$ 132. A receita líquida da empresa superou em 5% a estimativa do BTG ao crescer 20% a/a e somar R$ 2,4 bilhões, impulsionada pela nova configuração de repasse de custos implementada no trimestre. O EBITDA foi o único demonstrativo operacional que ficou aquém do esperado pelo BTG e marcou os R$ 2,9 bilhões com alta de 11% a/a. O segmento de seminovos Localiza continua a ampliar suas margens, com crescimento de 27% a/a de receita e 8% a/a de preço médio de venda. Por sua vez, o lucro líquido total foi de R$ 734 milhões e ficou 5,6% acima do antecipado pelo BTG Pactual, representando altas de 40,6% a/a e 4% t/t.

Simpar não surpreendeu ao mostrar melhora nos números do 1T24. As subsidiárias da empresa tiveram desempenho acima do esperado, os destaques da Vamos foram nos segmentos de aluguel e concessionárias, enquanto a Automob teve um crescimento de receita de 50% a/a. Já a Movida teve um trimestre mais positivo, porém o lucro líquido foi atingido por despesas financeiras e de depreciação maiores. O Capex líquido da Simpar apresentou queda de R$ 1,4 bilhões t/t e foi de R$ 2,9 bilhões no período, enquanto a alavancagem marcou 3,8x e o ROIC anualizado foi de 12%, valor maior que o custo de capital. A receita líquida somou R$ 9,1 bilhões, representando alta de 23% a/a e 7,3% t/t, enquanto o EBITDA foi de R$ 2,4 com alta de 21% a/a e em linha com as expectativas. Por sua vez, o lucro líquido marcou R$ 90 milhões, influenciado por despesas não recorrentes de R$ 32 milhões, fazendo o lucro líquido ajustado chegar aos R$ 122 milhões e superar expectativas.

A Petrobras começou 2024 com resultados aquém do esperado. Além dos demonstrativos operacionais, o primeiro trimestre marcou tensão com governo relacionada aos dividendos extraordinários e permanência de Jean Paul Prates como presidente e esse cenário teve impacto sobre os números da estatal. A receita de vendas foi de R$ 117,7 bilhões, queda de 15,4% a/a e R$ 9,5 bilhões abaixo do consenso da Bloomberg e influenciada pela queda no preço do petróleo. Por sua vez, o Ebitda ajustado marcou R$ 60 bilhões, representando baixas de 10,2% t/t e 17,2% a/a. A dívida líquida apresentou queda de 2,4% t/t e alta de 16,1% a/a e ficou nos US$ 43,6 bilhões. Já o lucro líquido caiu 23,7% e 37,9% a/a e somou R$ 23,7 bilhões, valor R$ 6,76 bilhões abaixo do consenso.

A Marfrig apresentou melhoras nas suas margens de acordo com expectativas. A proteína bovina foi responsável por 56% da receita líquida da empresa, enquanto os produtos derivados de proteínas de aves e suínos contribuíram com 44% das vendas. A receita total foi de R$ 30,4 bilhões, com alta de 3,8% a/a. Na América do Norte, as receitas somaram US$ 2,8 bilhões e tiveram alta de 9,6% enquanto o Ebitda foi de US$ 58 milhões com queda de 42,6% e volume total comercializado de 477 mil toneladas. Na América do Sul, a receita aumentou 11% e somou R$ 3 bilhões, enquanto o Ebitda cresceu 9,6% a/a. O lucro líquido da empresa foi de R$ 62,6 milhões, número muito positivo visto que a empresa reverteu o prejuízo que havia no 1T23.  

 

Mercados

Nessa semana de agenda econômica importante, os mercados se mantiveram bastante voláteis e, conseguiram, na média, performar. No espectro internacional, dados de inflação nos Estados Unidos e Europa e anúncio de estímulos para recuperação do setor imobiliário chinês foram os principais headlines. No Brasil, semana de vencimento de opções sobre o índice, fim da temporada de balanços, entrevista de Roberto Campos Neto e a demissão de Jean Paul Prates da Petrobras no radar dos investidores.

O índice de preços ao consumidor amplo americano, principal indicador de inflação nos EUA, mostrou uma leve desaceleração e foi bem recebido pelo mercado. O dado não só veio abaixo do esperado na medição cheia, como também demonstrou uma desaceleração no núcleo, algo que não foi visto nos três primeiros meses do ano. Considerando esse dado mais positivo, mercado depositou esperança de que o índice de preços está de fato convergindo para uma trajetória benigna e que isso possa encorajar o Fed a mudar a direção da política monetária vigente. Dito isso, os yields recuaram significativamente e os índices futuros de ações reagiram bem ao anúncio, operando estáveis. O dólar frente a uma cesta de moedas (DXY) cedeu refletindo essa expectativa de queda de juros e contra o real, a moeda americana se valorizou ligeiramente, operando perto de R$ 5,15. Por mais que esse CPI de abril tenha tido uma leitura benigna, vale ressaltar que a inflação americana ainda está longe da meta de 2% e o Fed precisa ver consistência nessa convergência para que de fato possa começar o ciclo de flexibilização. Mesmo assim, o mercado reagiu no curto prazo e elevou as apostas em um corte de 50 bps para esse ano, de 37,3% para 38,3%. Para um corte até setembro, a probabilidade implícita de cortes também subiu, de 69,0% para 74,0%.

Por mais que os recentes dados da inflação americana tenham animado os investidores, acreditamos que os juros americanos se manterão mais altos por mais tempo. Conforme citado acima, vemos que ainda há um longo caminho para que a inflação chegue na meta de 2% e que para que isso se concretize, é necessária a manutenção desse nível de contração monetária. Fora isso, o atual déficit fiscal americano é muito relevante e o mercado vem exigindo um maior prêmio de risco para a rolagem dessa dívida. Ainda que os agentes de mercado e as projeções sugerem um pouso suave da economia americana, o spread entre os yields de 2 e 10 anos continua invertido, um sinal que historicamente sugere recessão. Interessante destacar que essa recessão ainda não se materializou e mesmo assim, o spread continua invertido.

O Ibovespa apresentou bastante volatilidade nas sessões dessa semana, mas conseguiu se manter no campo positivo, acumulando uma valorização de 0,49% e fechando a semana aos 128.165 pontos. No geral, pregões foram marcados por resultados corporativos, ruídos políticos internos, noticiário na China e melhora na margem do humor no exterior. Alguns resultados positivos e a ligeira recuperação do minério frente ao anúncio de estímulos ao setor imobiliário chinês em crise, contrabalançaram a piora do humor oriunda dos comentários mais duros do presidente do Banco Central e a extensão do impacto da demissão de Jean Paul Prates da Petrobras. Nessa linha, em que temos uma piora na percepção do risco fiscal, as opções passaram a precificar chance de 66% de manutenção da Selic em junho e a curva praticamente zerou as apostas em possíveis cortes adicionais. Vale ressaltar que a divisão e relação mais desafiadora dentro do próprio Copom também pressiona os juros e o cenário doméstico no geral. Não à toa, vimos as taxas dos títulos prefixados do Tesouro Direto voltarem a rondar patamares próximos de 12%, ou seja, praticamente 1% ao mês. Além disso, nesse contexto de um cenário misto considerando a relação de emergente/desenvolvido entre Brasil e Estados Unidos, o dólar perdeu certa força contra o real e a curva dos DIs futuros deu uma leve achatada, com vencimentos mais curtos abrindo e longos fechando.

Dentre o noticiário corporativo, vale o destaque para a China, que divulgou um amplo pacote para impulsionar o mercado imobiliário em crise. As autoridades flexibilizaram regras hipotecárias e incentivaram governos locais a comprarem casas. O Banco Popular da China (PBoC) eliminou a taxa mínima de juros hipotecários em todo o país e reduziu as taxas mínimas de entrada para compradores de primeira viagem de 20% para 15% e para segundas residências de 30% para 25%. Essa ação emergente surgiu após dados oficiais mostrarem que os preços dos imóveis em abril registraram as quedas mensais mais acentuadas em uma década, mesmo após várias políticas de ajuda ao setor. Esta medida marca uma nova fase na campanha do governo para resolver o maior obstáculo ao crescimento econômico dado que essa crise imobiliária não só ameaça a estabilidade social, com aumento de protestos e inventários de habitação não vendida em máximas, mas também interrompeu as obras de construção, colocando milhares de pessoas em risco de desemprego.

Em resumo, dada curva invertida nos EUA, é válida a hipótese de que o mercado esteja reprecificando totalmente o risco “Estados Unidos”, buscando estabelecer com precisão um prêmio de risco mais adequado visto crescente endividamento americano. No escopo doméstico, expectativa é de o mercado trabalhar com mais prêmio na curva, dado que a divisão do Copom contribui para minar a ancoragem inflacionária e a credibilidade futura do Banco Central. Daqui em diante, também veremos quanto a tragédia no Rio Grande do Sul de fato impactará no resultado primário e na dívida de longo prazo, variante que já resultou na abertura expressiva das inflações implícitas nos últimos dias.

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