26/06/24

Análise da Semana - 6 a 10 de Maio de 2024

A ata da reunião do Banco Central Europeu de abril mostrou que o comitê entende que a inflação da zona do euro está caminhando para voltar à meta de 2%, afirmando que já estão na fase de começar a cortar juros em junho se os dados de salário e inflação se mantiverem na trajetória atual. Mesmo com esse direcionamento por parte do BCE, as autoridades disseram que a trajetória dos juros após a próxima reunião ainda é incerta, tendo em vista a volatilidade da inflação e a incerteza em relação aos próximos passos do Fed sobre os juros americanos. Mesmo assim, a maioria acredita que o corte de junho não será pontual, mas que a falta de guidance existe para que o BCE tenha flexibilidade em caso de mudanças no cenário.

Foi um bom trimestre para a Berkshire Hathaway. Na reunião anual com os investidores, Warren Buffett anunciou que diminuiria a posição da empresa em Apple. O relatório liberado junto aos resultados do 1T24 mostrou que a posição de Apple foi reduzida em 13%. Ainda assim, a empresa de Buffett teve um ganho de capital no valor de US$ 11,2 bilhões, uma vez que vendeu as ações após a Apple ter publicado os primeiros resultados de 2024 bastante positivos. O segmento de seguro da Berkshire teve um lucro de subscrição total de US$ 2,6 bilhões, impulsionado maiores taxas de curto prazo.

A Disney reportou seus números do 1T24, mostrando receitas em linha com o esperado pelo mercado, mas superando a expectativa de lucros. As receitas da companhia tiveram uma variação positiva de 1% a/a, totalizando US$ 22,08 bilhões, enquanto houve um aumento de 30% a/a no lucro ajustado por ação, ficando em US$ 1,21 contra US$ 1,10 esperado pelo mercado. A empresa possui três frentes: entretenimento, sports e experiências. O destaque da leitura foi o segmento de entretenimento, com aumento de 6 milhões no número de assinantes do Disney+ e a maior receita média por usuário, que foram os principais fatores responsáveis pelo bom desempenho no segmento. A receita operacional do segmento aumentou 17% a/a e os streamings da Disney tiveram o primeiro trimestre lucrativo. Por outro lado, o negócio de TV da Disney ficou para trás, tendo em vista que as pessoas estão cada vez menos usando TV a cabo. Finalmente, a venda de conteúdos, licenciamento e outras receitas, como bilheteria, caíram 40% a/a no trimestre.

Os números referentes ao 1T24 da UBS mostraram surpresas positivas, tanto na receita, que foi de US$ 12,74 bilhões contra US$ 11,86 bilhões esperados, quanto na receita por ação, que totalizou US$ 0,52 contra US$ 0,18. Assim, o banco voltou a entregar lucro depois de dois trimestres no prejuízo. O destaque operacional do resultado foram os segmentos de Wealth Management, com uma receita de US$ 6,14 bilhões, 4,2% acima do esperado, e de Investment Bank, superando as expectativas em 11,6% e entregando uma receita de US$ 2,75 bilhões.  Além disso, o resultado também foi positivamente afetado pelos efeitos contábeis relativos à compra do Credit Suisse. Junto a isso, o banco comunicou que pretende finalizar a aquisição do CS até o final desse mês, além de entregar sinergias de US$ 1,5 bilhões além do que já havia sido reportado. Por fim, a UBS anunciou que recomprará US$ 2 bilhões em ações ao longo dos próximos dois anos.

 

Brasil

A reunião do Copom dessa semana anunciou um corte de 25 bps na taxa Selic, conforme o esperado pelo mercado, reduzindo a taxa para 10,50%. A votação foi dividida, com 4 votos para um corte de 50 bps e 5 para o corte de 25 bps. No comunicado, o comitê expressou que o mercado de trabalho tem mostrado um maior dinamismo do que esperavam, em contraste com o que vinham comunicando anteriormente sobre um cenário de desaceleração econômica. Assim, o BC afirma de forma indireta que a projeção do hiato do produto estava equivocada, podendo afetar a projeção da inflação do comitê fazendo com que seja necessária uma revisão metodológica futura. Além disso, deram mais destaque, em tom preocupado, para a política fiscal. O comunicado reforçou a importância de uma política fiscal crível para a ancoragem das expectativas de inflação e redução nos prêmios de risco. Se antes falavam de uma reancoragem apenas parcial das expectativas, dessa vez o comitê falou sobre expectativas desancoradas, dando um sentimento mais duro para o texto. Ainda, deram uma “especial ênfase” pelo “firme compromisso de convergência da inflação à meta”, e não mais ao redor da meta como já foi expresso pelo comitê anteriormente. Vale ressaltar também, que não houve nenhum tipo de forward guidance, tornando o Copom data dependente para continuar ou não o ciclo de corte de juros.

O volume do varejo restrito ficou estável em março em comparação a fevereiro, ficando abaixo do esperado e mostrando uma possível desaceleração do crescimento do setor, que vinha crescendo no ritmo mais rápido desde 2022. Isso pode ser explicado pela atenuação dos efeitos do aumento na renda observados no início do ano, além do fim do efeito positivo do pagamento de precatórios. Ainda, as boas leituras dos meses anteriores elevaram a base de comparação, ajudando também a explicar a estabilidade. A expectativa para o 2T23 já era de desaceleração e a catástrofe no Sul corrobora com esse cenário. Na comparação anual, o varejo restrito registrou um avanço de 5,7% no mês de março. Das oito atividades pesquisadas, sete tiveram recuo nas vendas, a única atividade com expansão foi a de artigos farmacêuticos. Já no varejo ampliado, o volume de vendas caiu 0,3% m/m no período e, em relação a março de 2023 foi observada uma queda de 1,5%.

O IPCA teve uma variação de 0,38% m/m em abril, mostrando uma volta na aceleração em relação a leitura de março que registrou alta de 0,16% m/m. Dessa forma, o índice acumula uma alta de 1,80% e, nos últimos 12 meses, 3,69%. A leitura ficou acima do esperado pelo consenso, que estimava aceleração de 0,35% m/m e 3,66% nos últimos 12 meses. A meta de inflação para esse ano é de 3%, com margem de 1,5 p.p. para mais ou para menos. Os destaques do período foram dos grupos de saúde e cuidados pessoais e alimentação e bebidas, responsáveis por maior parte da leitura altista. O grupo de saúde foi impactado pelo reajuste nos preços dos produtos farmacêuticos, enquanto o grupo de alimentação pode ser explicado pela menor oferta de alguns produtos como cebola, tomate, café e mamão, por conta dos fenômenos climáticos no fim de 2023 e início de 2024 que afetaram as produções. A leitura ainda não deve refletir a catástrofe causada pelas chuvas no RS, mas espera-se um impacto em produtos como arroz, carnes e laticínios.

Itaú foi o primeiro banco a liberar os resultados do 1T24 nessa semana. Mais uma vez, o trimestre contou com números sólidos e até levemente acima das expectativas. A carteira de crédito foi um dos destaques positivos, já que avançou 1% t/t e 5,6% a/a e foi impulsionada pelos empréstimos corporativos e empréstimo a PME. Seu crescimento foi mais reduzido nesse trimestre, já que o foco foi a redução de risco e o guidance aponta altas maiores nos próximos trimestres de 2024. O índice de inadimplência > 90 dias foi de 2,7%, com baixa de 10 pontos base t/t. Já o lucro líquido superou a previsão do BTG em 1% e somou R$ 9,8 bilhões, que representa alta de 4% t/t e 16% a/a. Além disso, o ROE foi de 21,9% e a expectativa é de que permaneça no patamar favorável dos 20% ao longo de 2024.

O Banco do Brasil mostrou números sólidos no primeiro trimestre. Seu lucro líquido ajustado subiu 8,8% a/a e foi de R$ 9,3 bilhões. O Javier Milei tomou algumas atitudes a fim de desvalorizar a cotação oficial do peso argentino, refletindo numa melhora nos resultados de títulos indexados ao dólar na carteira do banco argentino Patagônico, que tem o BB como controlador. O índice de inadimplência permaneceu nos 2,9%, mesmo valor do 4T23. Por sua vez, a carteira de crédito do banco somou R$ 1,14 trilhão, com um aumento de 10,2% nos 12 meses e 2,7% t/t. O ROE, ficou em 21,7%, ficando atrás somente do Itaú, frente ao 4T23 quando o Banco do Brasil conseguiu superar seus pares. 

SLC Agrícola apresentou queda na produtividade referente à soja. Os números desse trimestre são referentes ao período de colheita de soja em 2023/24. O El Niño já havia reduzido a produtividade da área plantada em 2023, mas em 2024 a soja caiu mais 4,5% a/a e ficou nos 3.276 kg/ha. A queda no preço da soja teve impacto negativo no resultado, já que sua margem unitária caiu 59% a/a. Em menor escala, a produção de algodão mostrou solidez em suas margens, com R$ 5,3 mil/ton e crescimento de 52% a/a do volume de vendas. No total, as receitas somaram R$ 1,8 bilhão, queda de 12% a/a, enquanto o EBITDA foi de R$ 704 milhões e sua margem permaneceu em 36%. De um modo geral, os resultados foram em linha com o esperado pelo mercado e a queda no preço da soja teve um efeito sobre a receita arrecadada, mas as margens se mantiveram estáveis. 

O lucro líquido referente ao 1T24 da Rede D’Or subiu 182% a/a.  A SULA, segmento de seguro, surpreendeu positivamente com sua sinistralidade em queda de 260bps t/t e 610bps a/a para 82,5%. O fluxo de caixa gerado foi de R$ 1 bilhão, refletindo a melhoria do capital de giro e um Capex menor. O EBITDA foi um destaque positivo, já que somou R$ 1,9 bilhão com alta de 42% a/a, superando a expectativa do BTG em 10% e foi impulsionado pelo resultado positivo da SULA. A unidade hospitalar da empresa teve aumento dos leitos e seu EBITDA cresceu 14%, somando R$ 1,66 bilhão. Por sua vez, o lucro líquido conseguiu superar a alta de 22% a/a nos custos de depreciação e amortização e de 19% t/t impulsionado pelos sólidos resultados operacionais, no total foram R$ 809,3 bilhões, representando uma alta de 25,5% t/t.

Santos Brasil entregou números sólidos e melhora significativa nas suas margens. As operações de cais subiram 27% a/a, impulsionadas por importações e exportações e maior qualidade do mix operacional e preços de Tecon Santos e Imbituba, gerando uma receita de contêineres de R$ 499 milhões, alta de 70% a/a. No total, a empresa gerou uma receita líquida de R$ 645 milhões, adição de 51% a/a e em linha com o consenso, além de uma margem de 50%. O EBITDA total da empresa foi de R$ 321 milhões, representando alta de 110% a/a e dentro da expectativa do BTG. O lucro líquido somou R$ 148 milhões, alta de 223% a/a. De modo geral, essas altas nas margens refletem o momento delicado que as operações da empresa enfrentaram no ano passado e a reclassificação contratual que era de conhecimento do mercado.

A CSN Mineração começou 2024 com números fracos. Influenciada pela baixa no preço de minério de ferro, a CSN apresentou um resultado abaixo das expectativas. As receitas caíram 44% t/t e 32% a/a, somando R$ 2,8 bilhões, enquanto a produção cresceu 2% a/a. Os preços líquidos CIF marcaram US$ 61,8/t, comparados ao benchmark de US$ 124/t da China. O EBITDA ajustado marcou R$ 1,1 bilhão, com quedas de 59% t/t e 44% a/a e ligeiramente abaixo do esperado pelo consenso. O fluxo de caixa livre surpreendeu positivamente ao somar R$ 1 bilhão, impulsionado por uma melhora no capital de giro da empresa.

A Vivara mostrou que teve crescimento da receita no 1T24. O foco do trimestre foi o fim de subsídios fiscais, já que a maior carga tributária do ICSM e Cofins reduziria as margens da empresa. A Vivara conseguiu driblar as questões fiscais e apresentou vendas brutas excluindo deduções fiscais no valor de R$ 575 milhões, que representa alta de 18% a/a e é 2% acima da expectativa do BTG. A receita líquida foi em linha com o consenso e subiu 13% a/a, enquanto as vendas das lojas Life tiveram crescimento de 59% a/a. Por sua vez, o EBITDA ajustado sofreu queda de 64% t/t, devido a reclassificação de tributos a serem pagos. O lucro líquido sofreu com a nova carga tributária e alcançou os R$ 36 milhões, valor 7% menor ao ano, mas acima da projeção de R$ 25 milhões do BTG.

 

Mercados

Nesse começo de maio movimentado, os mercados seguiram em média o otimismo visto no final da semana passada e conseguiram performar. Mesmo com um cronograma mais esvaziado nos Estados unidos, os dados positivos do emprego americano continuaram suportando as bolsas. Na Europa, economista-chefe do Banco Central afirmou que a inflação segue caminhando rumo ao centro da meta e as expectativas de corte de juros já no próximo mês são a maioria. Vimos mais incertezas sendo precificadas no escopo doméstico, em que a temporada de balanços em conjunto à decisão do Copom e as enchentes no Rio Grande do Sul adicionaram mais volatilidade ao Ibovespa.

O Copom diminuiu o ritmo de flexibilização e cortou a Selic em 25bps na reunião dessa semana. O mercado já tinha como maior probabilidade um corte de apenas 25 pontos, mas ainda assim, vimos os DIs futuros e o dólar estressarem na abertura subsequente, a curva consequentemente inclinar e a bolsa brasileira performar muito mal. Os ativos refletiram principalmente a decisão dividida do órgão, o que elevou o temor de que o Bacen aceitará maior risco de inflação quando os indicados pelo governo Lula forem maioria no comitê. Segundo ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, a divisão na decisão do Copom antecipou a mudança de comando do BC em mais de seis meses e não estava no radar uma divisão tão clara entre os diretores que foram indicados pelo atual governo e os que já estavam na alta cúpula do órgão na gestão de Jair Bolsonaro. De acordo com Kawall, a transição começou desde a primeira indicação de membros pelo Lula, mas do ponto de vista de perfil de condução da política monetária, começou na quarta-feira.

O IPCA veio levemente acima do esperado, mas mostrou desaceleração em serviços subjacentes. Os DIs tiveram leves oscilações e ficaram praticamente de lado na abertura, em linha com o Ibovespa. Os DIs de vencimento mais longo continuam mais pressionados dada reprecificação de prêmio de risco ao considerar as perspectivas de um possível BC mais dovish no futuro. Atualmente, curva do DI precifica 13 pontos de corte na Selic em junho e mercado fica na expectativa do Focus na segunda que vem e da ata do Copom na terça. Vale lembrar que as inundações e a crise humanitária no Rio Grande do Sul aumentam os receios sobre a trajetória da inflação brasileira dado que plantações de soja e arroz foram completamente devastadas, existe a dificuldade de escoar o que sobrou de produção e não há uma estimativa precisa de quantos gastos extras serão necessários para reparar os danos nos municípios.

O UBS, um dos maiores bancos de investimentos do mundo, elevou a recomendação da Vale de “neutra” para “compra” e citou uma melhora na relação risco-retorno da tese. Embora o banco permaneça preocupado com os fundamentos do minério de ferro a médio prazo e um potencial de queda do preço à frente, analistas reconhecem o desempenho operacional forte até abril e a diminuição de algumas das principais preocupações de ESG. Segundo relatório, a empresa deve se beneficiar do aumento dos volumes e dos prêmios do ferro e da pelota um horizonte de um a dois anos e enquanto os pares buscam crescimento, a Vale já está mais posicionada para distribuir mais caixa aos acionistas no futuro. Fora isso, a mineradora brasileira teve um desempenho inferior aos pares nos últimos doze meses dadas as preocupações de ESG e mesmo que ainda haja incertezas em relação à Samarco, a pauta deve ser resolvida ainda nesse primeiro semestre. Por fim, a administração também parece estar bem confiante de outras questões pendentes e tem havido melhora na governança.

Na comparação semanal, o dólar ganhou força contra o real e a curva de juros brasileira estressou com mais preocupações fiscais, em média 32 bps. O Ibovespa acumulou uma desvalorização de 0,68% e demonstrou um volume misto, fechando a semana aos 127.599 pontos já com a nova carteira teórica que entrou em vigor no começo dessa semana. O saldo de capital estrangeiro em maio totalizou R$1,6 bi e reverteu a tendência negativa vista no último mês.

No geral, mercados ligeiramente otimistas com cenário de flexibilização na Europa e expectativa de dois cortes de juros nos EUA ainda nesse ano. Domesticamente, mercado preocupado que, no ano que vem, quando Lula tiver indicado a maioria dos membros do comitê que vota para decidir os juros no Brasil, o banco central deixe de técnico e volte a ser mais político.

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