O PIB do 1T24 dos EUA aumentou a um ritmo anualizado de 1,6%, número abaixo dos 2,4% estimados pelo mercado. Abrindo entre os componentes do PIB, os gastos dos consumidores foram os principais responsáveis pelo número ter vindo abaixo das expectativas. Ainda do lado negativo, menos investimentos em estoques e menores exportações também ajudam a explicar o número mais fraco. Do lado positivo, os investimentos das empresas e os gastos do governo ajudaram a manter o PIB positivo. Os números foram ruins criando a percepção de um cenário de baixo crescimento e resiliência da inflação. O dado elevou as expectativas de que os juros possam inclusive não ceder em 2024.
Nos Estados Unidos, o PCE de março aumentou 0,3% em relação a fevereiro. Assim como se esperava, o núcleo do índice de preços de gastos com consumo nos 12 meses foi de 2,8%, mesmo valor visto em fevereiro. Esse valor indica que a inflação no país não está acelerada, mas ainda se encontra num nível relativamente alto e o Fed tem esforços a serem feitos para diminuir o nível de preços nos EUA. A inflação anual aumentou entre 2,4% e 2,6% durante quatro meses consecutivos até março, enquanto a meta do Fed era uma alta de 2%. A permanência de uma política monetária restritiva no país causa receio de uma desaceleração econômica, mas a inflação precisa cair em ritmo mais acelerado para que haja redução das taxas de juros. A meta das taxas de juros impostas pelo Fed permanece entre 5,25% e 5,50% e deve ser mantida nesse patamar.
O Banco Central japonês decidiu manter a taxa de juros no patamar entre 0 e 0,1%. A escolha pela taxa de juros foi feita um mês depois de ter o primeiro aumento de juros em 17 anos no país e descarte de instrumento de controle da curva de juros que era usado até então. A meta de 2% de inflação deve ser alcançada nos próximos anos, segundo as autoridades monetárias do Japão, que também afirmaram que estão dispostos a aumentar os custos dos empréstimos em 2024 se necessário. Kazuo Ueda, presidente do Bacen japonês, falou em seu discurso que um aumento na taxa de juros será feito caso a inflação supere as projeções vistas hoje. Não existe data definida para um eventual aumento das taxas de juros, enquanto uma redução nas compras de títulos feitas pelo BC do Japão foi descartada por Ueda.
A zona do euro apresentou alta no PMI composto preliminar do mês de abril. O setor de serviços teve a melhora mais significativa, sendo capaz de compensar a queda vista no setor industrial. Segundo a S&P, o PMI compilado do continente europeu subiu para 51,4 em abril, frente ao 50,3 de março e a expectativa de 50,7 apontada pela Reuters. O nível de 50 difere da contração do crescimento econômico, e a Europa está no seu segundo mês de crescimento. O PMI de serviços foi de 52,9 e teve alta mensal de 1,4, enquanto o setor industrial, que está abaixo dos 50 desde 2022, teve uma queda de 0,5 e marcou PMI de 46,1 em abril. Por outro lado, a produção industrial apresentou crescimento de 0,2 e foi de 47,3. A expectativa do mercado é que o mês de maio terá um crescimento econômico ainda maior.
A Meta mostrou que seu investimento pesado em IA foi capaz de gerar resultados melhores do que o esperado. A dona do Facebook teve alta na receita líquida de 27% a/a, somando US$ 36,46 bilhões frente à expectativa de US$ 36,12 bilhões. Por sua vez, os custos caíram 7% a/a, impulsionados pela queda de 10% no número de funcionários e 16% de vendas e marketing. Refletindo essas melhores margens, o lucro líquido ajustado deu um salto de 110% a/a e somou US$ 12,37 bilhões com EPS de US$ 4,72 frente aos US$ 2,20 do 1T23. Além disso, o fluxo de caixa livre foi de US$ 12,53 bilhões, representando alta anual de 81%. Porém, o guidance da empresa indicou investimentos ainda maiores em IA nos próximos trimestre e é de se esperar uma queda no lucro e margens ao longo de 2024.
A Alphabet teve um 1T24 que superou bastante as provisões do mercado. A receita da Alphabet cresceu 15% a/a, superando em US$ 1,8 bilhão o consenso do Wall Street e foi de US$ 80,5 bilhões, advinda principalmente da alta demanda por anúncios online. O Google foi responsável por uma receita de US$ 46,2 bilhões em anúncios, enquanto o YouTube contribui com US$ 8,1 bilhões, valor 5,2% maior do que o previsto por Wall Street. Já o Google Cloud teve uma alta de 28,5% no faturamento, impulsionado pela operação de IA. A margem operacional da Alphabet foi de 32%, alta trimestral de 4,5%. Além disso, uma recompra de ações no valor de US$ 70 bilhões e pela primeira vez pagamento de dividendos no valor de US$ 0,20 por ação. O EPS foi de US$ 1,89 por ação, enquanto o FactSet estimou que seria US$ 1,51.
Na semana de resultados das fintechs, a empresa mais valiosa do mundo também superou expectativas. A Microsoft teve um aumento de receita de US$ 9 bilhões e superou o consenso em US$ 1 bilhão ao apresentar o total de US$ 61,9 bilhões, que representa alta de 17% a/a. O Azure, plataforma em nuvem, teve uma alta de 31% a/a na receita, maior do que os 28,6% que se esperava e com uma contribuição importante do segmento de IA. A computação em nuvem de todos os programas foi responsável por 43% da receita total da empresa. A margem de lucro bruto foi de 70% subindo 1% t/t e 18% a/a. Por sua vez, o lucro líquido somou US$ 21,9 bilhões, alta de 20% a/a, equivalente a um lucro de US$ 2,94 por ação enquanto a previsão do FactSet era de US$ 2,82 por ação.
Mais uma vez, a Tesla apresentou queda nas suas margens operacionais. O guidance já havia apontado uma piora, mas a queda foi maior do que se previa. O lucro médio por carro foi de US$ 3 mil, baixa de quase 50% a/a impulsionada pelo custo de IA para o Cybertruck. A receita de vendas ficou US$ 1,0 bilhão aquém do consenso da Bloomberg, com queda de 9% a/a no valor de US$ 21,3 bilhões. Já o lucro líquido caiu 55% a/a e marcou US$ 1,5 bilhão, ou seja, US$ 0,45 dólar por ação. Sua margem operacional foi de 5,5%, abaixo da expectativa de US$ 1,5 bilhão. Após os resultados, Elon Musk anunciou que o foco principal da empresa mudará de carros premium de luxo para automóveis elétricos mais populares e foi recebido com otimismo pelo mercado.
Caterpillar conseguiu mostrar números sólidos referentes ao 1T24. As Américas foram as maiores impulsionadoras de receita, com alta anual de 7,8% na América do Norte e 1,3% na Latina. Por outro lado, a região da Ásia e Pacífico teve queda de 4,7% e a divisão de Europa, África e Oriente Médio caiu 16,6%. A receita de vendas total da empresa somou US$ 15,8 bilhões, que representa leve baixa de 0,6% a/a. Nesse trimestre, a melhora na eficiência das operações gerou melhora nas margens mesmo com faturamento estável. A margem de lucro operacional foi de 22,2%, frente aos 21,1% do ano anterior. O lucro por ação da companhia foi de US$ 5,60 por ação, alta anual de US$ 0,69.
Quase 80% das empresas do S&P 500 até agora superaram as estimativas de lucros, de acordo com estrategistas do JPMorgan, mas as reações dos preços das ações têm sido desanimadoras, enquanto os balanços frustrantes são penalizados mais do que o habitual. Em função da postergação do início do ciclo de queda de juros nos EUA, apesar dos resultados positivos das empresas americanas, o mercado tem adotado uma postura mais negativa em geral.
Brasil
O IPCA-15, prévia da inflação, mostrou desaceleração no mês de abril. O índice apresentou alta de 0,21% em abril, frente aos 0,36% de março. O valor foi o menor na comparação anual desde 2020, no qual o IPCA-15 teve queda de 0,01%. A Reuters havia previsto um crescimento de 0,29% no índice, portanto o resultado foi melhor do que o esperado. O único setor que reportou queda foi o de transportes, com -0,49%. Entre os outros grupos de produtos, alimentação e bebidas teve o maior impacto positivo, com alta de 0,61%, em segundo lugar ficou saúde e cuidados pessoais com 0,78%. Em comparação ao IPCA-15 do ano passado, o índice teve queda de 0,36 p.p., enquanto o acumulado dos 12 meses marcou uma variação de 3,77%, frente ao 4,14% acumulado no mês de abril de 2023.
A Vale começou 2024 sem grandes surpresas, mas levemente abaixo do esperado. O destaque positivo do trimestre foi a geração de caixa livre, que foi de US$ 2 bilhões, ou 57% do Ebitda, devido principalmente ao capital de giro favorável. O Ebitda dos ferrosos somou US$ 3,4 bilhões, com baixa de 46% t/t, enquanto o de metais básicos foi de US$ 257 milhões, queda de 50% t/t. Esses valores foram impulsionados principalmente pela baixa interna da empresa nos preços do ferro e cobre. Já a receita líquida da empresa foi de US$ 8,45 bilhões, representado queda de 11% a/a e 7% acima da expectativa do BTG. As despesas totais e custos somados aumentaram em 9% a/a, resultando numa baixa anual de também 9% do lucro líquido, que somou US$ 1,8 bilhão.
Mercados
Nesse cronograma movimentado de agenda econômica e forte em balanços de tecnologia, os mercados conseguiram, na margem, estancar parte do pessimismo visto nas últimas semanas e fecharam majoritariamente esses últimos cinco dias no campo positivo. No escopo internacional, o foco se direcionou ao PCE, prévia do PIB dos EUA e resultados de algumas gigantes americanas de tecnologia e varejo, como Google, Microsoft e Amazon. No Brasil, atenções ficaram voltadas à prévia da inflação de abril (IPCA-15) e o contexto externo.
A prévia do PIB dos EUA decepcionou dado ritmo anualizado ter vindo aproximadamente 30% abaixo das estimativas do mercado. O deflator do PIB também demonstrou uma inflação maior que a esperada, com núcleo variando significativamente. Em linhas gerais, os números foram ruins e criaram a perspectiva de um baixo crescimento alinhado a uma inflação ainda resiliente. Nessa linha, faz sentido termos visto os yields e os ativos de risco estressarem após release do dado. O dólar frente a uma cesta de moedas (DXY) cedeu ligeiramente, mas contra o Real, a moeda americana se valorizou.
Posteriormente, nessa sexta, o índice de preços para gastos de consumo pessoal (PCE) de março proporcionou certo fôlego aos mercados e aos juros dada manutenção do mesmo patamar visto em fevereiro. Mesmo em um nível que ainda gere certo incômodo ao Fed, a leitura foi na margem positiva, pois o número de março não piorou ao ponto de pôr em risco algum corte de juros nesse ano. Mas, deve-se ressaltar também que o dado não alterou o contexto desenhando pelo Fomc e não contribuiu para fomentar a confiança do órgão de que a inflação está de fato convergindo para a meta. Em outras palavras, esse PCE apenas reiterou a precificação de uma postergação do início do ciclo de flexibilização, que provavelmente, será mais sutil. Atualmente, vemos a bolsa de Chicago demonstrar uma ligeira especulação de não haver cortes de juros em 2024, mas as apostas majoritárias para início dos cortes residem em setembro, com uma probabilidade implícita de aproximadamente 56%.
O IPCA-15 de abril foi interpretado positivamente ao ficar abaixo das estimativas e apresentar desaceleração nos núcleos. Desse modo, os DIs futuros recuaram mais de 10 bps e a curva voltou a precificar cerca de 30 bps de redução da Selic agora em maio, sugerindo novamente a probabilidade de manutenção do ritmo de cortes de 50 bps. Para junho, curva aponta 16 bps de redução, com uma Selic terminal em 10,25% para esse ano. Vale lembrar que a leitura positiva do PCE americano e essa prévia da inflação impulsionaram o desempenho do mercado doméstico e ajudaram na recuperação do Real, que desvalorizou por sete semanas seguidas. Ações mais sensíveis aos ciclos econômicos foram os grandes destaques dessa alta do Ibovespa.
Dentre as análises de mercado e relatórios de research, vale o destaque para o Bank of America, que vem defendendo a compra do real contra o iene. Segundo o banco, a virada para um tom mais hawkish do Banco Central brasileiro alinhada à expectativa de crescimento mais robusto do PIB brasileiro nesse ano sustentam a tese. Esses fatores combinados ao aumento dos yields americanos e a possibilidade do fortalecimento dos preços das commodities também favorecem a posição. Segundo relatório do time de estratégia, "de um ponto de vista de valuation, o real brasileiro está barato e deve se beneficiar de grandes diferenciais de juros reais e de surpresas positivas no crescimento econômico". Fora isso, o time também destaca os três principais riscos do carrego dessa posição, que seriam a hipótese de uma intervenção direta do BoJ no câmbio para evitar a desvalorização da moeda, a sugestão de um novo aperto monetário em junho por parte do órgão japonês e/ou a possível intervenção do governo brasileiro em empresas estatais.
Na comparação semanal, o dólar perdeu força significativa contra o real e a curva de juros brasileira inclinou, com DIs mais curtos fechando e longos abrindo considerando preocupação com fiscal. Impulsionado por um dado mais fraco de inflação nos EUA e prévia benigna da inflação doméstica, o Ibovespa acumulou uma valorização de 1,12% e fechou a semana aos 126.612 pontos. Mesmo com a recuperação de um moderado apetite ao risco, o saldo de capital estrangeiro na B3 continua negativo e desde o começo do mês, já se retirou mais de R$ 10 bilhões do mercado doméstico.
Até agora, esse ano vem sendo marcado por bastante volatilidade e principalmente, pela remoção das expectativas de cortes agressivos e antecipados pelo Fed. Como já citado, esse PCE “estável” não colocou em risco os cortes de juros ainda nesse ano, mas a inflação resiliente combinada a uma atividade fraca vista nos Estados Unidos são fatores preocupantes e que contribuem para um cenário ainda nebuloso.
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