22/04/24

Análise da Semana - 25 a 28 de Março de 2024

A ata do Copom referente a reunião da semana passada reiterou o risco de um processo desinflacionário mais lento tanto no cenário doméstico quanto no internacional. Nas economias internacionais, o cenário de queda na inflação é mais incerto tendo em vista a resiliência da economia americana, impactando as condições financeiras globais. Os membros do Copom não enxergam o processo desinflacionário mais lento como cenário-base, porém mesmo assim entendem que o aumento na incerteza pede mais cautela na condução da política monetária. De maneira unanime, o comitê continuou afirmando que a taxa de juros e sua trajetória serão aquela necessária para a convergência da inflação para a meta.

O IPCA-15 apresentou uma variação de 0,36% m/m em março, desacelerando em relação a alta de 0,78% m/m em fevereiro. Essa leitura ficou acima da mediana das projeções do mercado, de 0,3% m/m. Mesmo assim, essa é a menor variação desse período desde 2020. Com o dado, o IPCA-15 acumula uma variação de 4,14% nos últimos 12 meses, também ficando levemente acima dos 4,09% esperados pelo mercado e da meta de inflação perseguida pelo Banco Central, de 3,0%. A principal influência individual dessa leitura foi a alta de 2,39% m/m no preço da gasolina. Entre os grupos, o destaque foi o de alimentação e bebidas, com alta de 0,91% m/m.

Em fevereiro, o Brasil gerou um saldo de 306 mil postos de trabalho com carteira assinada segundo o Caged. Esse dado foi acima das expectativas dos analistas, que previam a criação de 245 mil vagas. Esse foi o terceiro melhor saldo registrado em fevereiro da história. Todos os grandes grupos de atividades pesquisados tiveram um saldo positivo no mês, com destaque para o setor de serviços. Além disso, o salário médio de admissão foi de R$ 2.082,79, sofrendo uma redução de R$ 50,42 em relação à remuneração média de contratação registrada em janeiro.

A Pnad contínua do trimestre móvel encerrado em fevereiro revelou uma taxa de desemprego de 7,8%, ficando acima do trimestre móvel anterior encerrado em janeiro, quando foi registrado uma taxa de 7,6%. Isso significa que nesse período havia 8,5 milhões de desempregados no país. Assim, a taxa de desemprego aumentou 4,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior, encerrado em novembro. Esse resultado ficou em linha com a mediana das expectativas do mercado.

A temporada de divulgação de resultados continua no Brasil. Na última terça-feira, a Simpar mostrou ter tido o 4T23 em linha com as expectativas do mercado. JSL e Automob foram os destaques positivos, enquanto Vamos e Movida foram aquém do esperado. O trimestre teve influência de itens não recorrentes, com impacto de R$ 426 milhões na Movida e despesas da Ciclus de R$ 16 milhões. Devido a estes não recorrentes a Movida teve resultados fracos, porém de modo geral estáveis. Os números da Vamos foram mistos, com o segmento de aluguel sólido, enquanto as concessionárias e despesas financeiras prejudicaram o resultado. A JSL apresentou margens fortes e crescimento orgânico e a Automob se beneficiou de aquisições e alta de 51% a/a na receita. O Ebitda ajustado da Simpar subiu 13% a/a e somou R$ 2,1 bilhões, já a receita teve alta de 16% a/a e foi de R$ 8,5 bilhões. O prejuízo líquido marcou R$ 718 milhões, enquanto o prejuízo líquido ajustado foi de R$ 304 milhões, dados em linha com as expectativas.

A Rede D’or fechou o ano de 2023 com números sólidos, mas levemente diferente do esperado pelo mercado. O Ebitda contábil veio 12,8% abaixo da expectativa do BTG e foi de R$ 1,48 bilhão, marcando alta de 90% a/a. Diferente do que se esperava, o maior destaque positivo do Ebitda foi a Sula, segmento de seguros da empresa responsável por contribuição de R$ 60 milhões. Por sua vez, a alíquota do IR e as despesas de depreciação, amortização e financeira caíram mais do que se previa. O segmento hospitalar reportou receita líquida de R$ 6,3 bilhões, com alta de 9% a/a, enquanto a taxa de ocupação de leitos caiu 50 bps a/a e o ticket médio subiu 8,5% a/a. A Sula ficou aquém da expectativa do BTG, já que a sinistralidade caiu 100 pontos enquanto o previsto era uma queda de 400 pontos. O lucro líquido contábil marcou uma melhora nas margens da Rede D’or e somou R$ 645 milhões, valor 1,8% maior do que o BTG antecipava.

A JBS registrou números fracos referentes ao 4T23. A receita líquida da empresa foi de R$ 96,3 bilhões, que representa alta de 3,7% a/a e 5,4% t/t, enquanto o Ebitda marcou R$ 5 bilhões e ficou abaixo do esperado pelo BTG Pactual. A dívida líquida apresentou melhora, fazendo o índice de alavancagem (IFRS16) cair de 5,5x no 3T23 para 5,1x. Seu lucro líquido de R$ 82,6 milhões foi o principal ponto de atenção do trimestre, já que teve uma queda expressiva de 96,5% a/a e 85,6% t/t. No acumulado do ano de 2023, a JBS reportou prejuízo líquido de R$ 1 bilhão frente ao lucro líquido de R$ 15,5 bilhões em 2022. Ainda que tenha havido queda nas margens, esses resultados não causaram grande surpresa ao mercado visto o momento de rearranjos operacionais que a JBS se encontra nos últimos períodos.

Apesar da sazonalidade do quarto trimestre, a Rumo conseguiu entregar resultados sólidos. Sua receita líquida somou R$ 2,6 bilhões, alta de 17,8% a/a e 4,5% acima da estimativa do BTG Pactual. O Ebitda chegou no R$ 1,2 bilhão, baixa de 12% a/a e a margem do Ebitda foi de 57%. Os volumes transportados subiram 9% a/a, sendo que os volumes agrícolas tiveram alta de 11% e os volumes industriais se mantiveram constantes. A alavancagem ficou estável na comparação trimestral, com Dív. Líquida/Ebitda em 1,8x e o Capex foi de R$ 1,2 bilhão. O lucro líquido foi muito abaixo do esperado, no valor de R$ 1 milhão enquanto o BTG tinha previsto R$ 114 milhões, em função de uma depreciação maior e maiores despesas relacionadas à solução de incidentes de segurança pública. Apesar do lucro líquido mais fraco que o esperado, a Rumo conseguiu apresentar resultados resilientes em meio a uma sazonalidade menos favorável. A empresa tem uma boa perspectiva para 2024 e um posicionamento forte e estratégico de longo prazo na promissora indústria de produção de grãos do Brasil.

A Cosan apresentou um lucro líquido acima expectativas. A Moove, empresa de óleos lubrificantes, foi destaque do grupo Cosan com Ebitda de R$ 272 milhões, com alta de 36% a/a e alto volume de produtos negociados. A Radar, segmento de terras agrícolas foi beneficiada pela reavaliação no seu portfólio de terras no valor de R$ 1,8 bilhão. A Compass, de infraestrutura, apresentou alta no Ebitda, porém ficou abaixo do consenso do mercado e o guidance para 2024 não é muito positivo. A reclassificação de ações da Vale que não farão mais parte do caixa influenciou a alta de 0,7x t/t vista na razão de Dív. Líquida/Ebitda, que ficou em 2,4x no 4T23. O lucro líquido da Cosan foi de R$ 2,37 bilhões, cerca de 17% acima da previsão do BTG e teve expressiva alta frente ao lucro líquido de R$ 806 milhões no 4T22 e R$ 679 milhões no 3T23.

Mercados

Na última semana do mês, os mercados se mantiveram estáveis e fecharam março com um tom mais nebuloso. No cenário internacional, mercado aguarda a divulgação do índice preferido do Fed, PCE, na sexta-feira, feriado no Brasil. Na agenda doméstica, os principais drivers de preço foram a prévia da inflação de março (IPCA-15) e a ata do Copom.

 A ata do Copom foi vista como mais hawkish e limitou o forward guidance de 50 bps apenas para a próxima reunião. O órgão explicou que as incertezas são a principal causa dessa remoção e alguns membros sugeriram um ritmo mais lento de flexibilização da próxima reunião em diante. Isso se deve a fatores externos e internos, onde se tem na mesa um cenário de desinflação global mais incerto e preocupações sobre o possível impacto das pressões salariais no ritmo da inflação de serviços. Copom salientou, principalmente, a necessidade de uma cautela maior para lidar com essa possível força do mercado de trabalho. Fora isso, esse ritmo mais cauteloso do BC pode também ter a ver com uma preocupação de que um dólar mais forte tende a pressionar os preços dos combustíveis e consequentemente a composição do IPC (que calcula os preços ao consumidor), o que provocaria um efeito inflacionário duplo.

O IPCA-15 de março veio acima do esperado e demonstrou serviços subjacentes ainda pressionados, apesar da desaceleração na margem do dado. Assim, combinadas essas leituras da prévia de inflação e política monetária, os DIs estressaram e a curva elevou ligeiramente a taxa terminal para 9,75% em 2024. Já o dólar ficou de lado em linha com o DXY e o Ibovespa seguiu em linha com o movimento visto nas bolsas de NY, operando perto da estabilidade.

O mercado doméstico vinha muito otimista com a política monetária, mesmo com os dados não sugerindo uma melhora substancial. Vimos logo no começo dessa semana os DIs na contramão dos yields americanos em uma tentativa de antecipação da suavização do tom da ata e um dado mais benigno da inflação, algo que não se concretizou. Dito isso, a surpresa no pregão subsequente recompôs as expectativas e consequentemente reprecificou os prêmios de risco. Nesse contexto, a curva DI mantém agora maior chance de corte 0,25 bps para a reunião de junho.

Nesse cenário de incerteza global, o Bitcoin acumula sete meses consecutivos de alta. Impulsionado pelo fluxo de ETFs e a temática do halving, vimos também um aumento da correlação da criptomoeda com o ouro. Resumindo, o halving é um evento programado que ocorre aproximadamente a cada quatro anos, no qual a recompensa pela mineração de um novo bloco na blockchain do bitcoin é reduzida pela metade. O próximo halving está previsto para o próximo mês. A ideia é transformar o bitcoin em um ativo deflacionário, dado que ao reduzir a quantidade de Bitcoins minerados, ajuda a garantir que a oferta em circulação cresça de forma reduzida até atingir os 21 milhões de quantidade. Assim, temos potencial de valorização do ativo ao longo do tempo na medida em que a oferta de novos bitcoins diminui e a demanda permanece estável ou aumenta. Por mais que a criptomoeda tenha apresentado uma correção na última semana, a tendência para o médio e longo prazo continua positiva. É possível afirmar que esse aumento da correlação do ouro com o bitcoin pode ser reforçado pela tese de aumento da reserva de valor visto o contexto econômico e geopolítico global, com guerra na Ucrânia e tensões recentes no Oriente Médio.

O dólar valorizou timidamente em relação ao real e a curva de juros brasileira inclinou, com DIs abrindo em média 7 bps dada reprecificação da Selic terminal para esse ano. O Ibovespa acumulou uma valorização/desvalorização de 0,8% e fechou a semana aos 128.106 mil pontos. No mais, o clima de aguardo continua tomando conta dos mercados, com a recente euforia perdendo força à medida que se recalibram as expectativas e se intensifica a cautela mediante a divulgação do PCE de fevereiro. Importante frisar que esse dado tem total potencial de balançar os mercados e as previsões acerca do início da flexibilização monetária nos Estados Unidos.

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