26/03/24

Análise da Semana - 18 a 22 de Março de 2024

O FOMC anunciou a manutenção da taxa básica de juros americana no intervalo de 5,25%-5,50%, conforme esperado pelo mercado.  O comunicado não teve muitas alterações, indicando que o comitê ainda precisa sentir confiança nos dados para iniciar o ciclo de queda de juros. O FOMC também incorporou as surpresas inflacionárias recentes, elevando a projeção do núcleo para 2024, além de uma elevação nas expectativas de crescimento. Dessa forma, o comitê aumentou a mediana dos juros para 2025 e 2026, apesar de não alterar as expectativas para esse ano. Para Powell, a conjuntura econômica local e global não aponta para o retorno das taxas para os níveis pré-pandemia. Com isso, o mercado espera que o início do ciclo de corte de juros seja em junho. De qualquer forma, o presidente do comitê sugeriu que não haviam discutido sobre as reuniões futuras.

O PMI composto dos EUA, que conta com os setores industriais e de serviços, caiu de 52,5 pontos para 52,2 em março, ficando em linha com as expectativas.  O PMI de serviços foi o responsável pela queda, com recuo de 52,3 pontos em fevereiro contra 51,7 pontos em março, representando o menor nível nos últimos três meses. Já o PMI industrial teve uma alta de 52,2 pontos em fevereiro para 52,5 pontos em março e, dessa forma, atingiu o maior nível dos últimos 21 meses, ficando acima dos 52 pontos projetados pelo mercado. Com essa leitura observamos ambos os setores em patamar expansionista, apontando para mais um trimestre de crescimento robusto do PIB americano.

 O CPI da zona do euro de fevereiro teve uma variação de 0,6%, de acordo com o esperado pelo consenso. O núcleo do índice avançou 0,7% m/m em fevereiro na base anual, também mostrando desaceleração em relação a janeiro. As maiores contribuições para o CPI no mês foram serviços, alimentos, tabaco e álcool.

Brasil

Na reunião do Copom foi anunciado o corte de 50 bps na taxa Selic, o que não representou surpresa para o mercado. O comitê se mostrou preocupado com os dados de atividades mais resilientes, com a menor qualidade na composição da inflação e com o cenário externo. Sendo assim, no guidance o Copom informou que opta por ter mais flexibilidade a partir de agora para conduzir a política monetária. Além disso, o comunicado deu a entender que só haverá mais um corte dessa magnitude. Dessa forma, as apostas para redução do pace ainda em junho ganham mais força.

A semana de resultados das companhias brasileiras continua. A Vivara reportou crescimento de 24% a/a de seu faturamento no último trimestre do ano passado, atingindo R$ 1 bilhão, com avanço significativo em todas as categorias e canais. A receita líquida da companhia também apresentou expansão, 20,8% a/a e o EBITDA ajustado aumentou 1,9 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano anterior. Segundo a empresa, esse resultado é reflexo, especialmente, da força da Black Friday no canal digital e da melhoria dos indicadores operacionais da plataforma implantada no 2S22. Por outro lado, foi registrada uma queda de 8,6% a/a de seu lucro líquido, totalizando R$ 144,1 milhões. Com isso, a empresa tem 19,6% de participação no mercado de joias nacional.

A Magazine Luiza apresentou seus números, mostrando a reversão de seu prejuízo ajustado de R$ 15,2 milhões no mesmo período do ano passado para um lucro líquido ajustado de R$ 101,5 milhões. Esses números estão acima da expectativa do consenso, que projetava ganho de R$ 55 milhões. Esse resultado está relacionado com o crescimento da rentabilidade das vendas, tendo em vista a estabilidade do volume delas. A administração da companhia viu o 4T23 como o trimestre da virada, tendo em vista as melhoras operacionais em todos os canais de venda, além de conseguirem diminuir suas despesas financeiras em 20% e, assim, a empresa conseguiu reverter a tendência negativa dos últimos anos. Mesmo assim, a Magalu fechou o ano com um prejuízo ajustado de R$ 550,1 milhões, ainda maior do que o saldo negativo de R$ 372,1 milhões do ano de 2022.

A Vamos teve um lucro líquido de R$ 195,5 milhões no 4T23, representando uma queda de 20% a/a. Segundo a empresa, essa queda está relacionada a efeitos não recorrentes e um pior desempenho das concessionárias de agronegócio na comparação com o ano anterior. Por outro lado, o EBITDA da companhia foi 16,6% maior na comparação anual, totalizando R$ 661 milhões. A receita líquida no período chegou a R$ 1,4 bilhão, 4,4% acima do observado no 4T22, acumulando uma receita de R$ 6 bilhões no ano.  O CEO da Vamos, Gustavo Couto, ressaltou o bom desempenho do setor de locação, com uma alta de 44% no EBITDA no ano. A administração da empresa vê um crescimento saudável de sua principal linha de negócio, sendo beneficiada pela redução da taxa de juros.

A Julio Simões fechou 2023 sem grandes surpresas nos seus resultados operacionais. Ambos os segmentos de ativos leves e pesados tiverem números sólidos, beneficiados pela consolidação da aquisição da IC Transportes no valor de R$ 4,4 milhões. A divisão automobilística teve um aumento na demanda, impulsionando a receita líquida de ativos leves a crescer 27% a/a e atingir os R$ 1,1 bilhões. A receita de ativos pesados registrou R$ 1 bilhão, com alta de 34% a/a. O Ebitda leve marcou R$ 198 milhões, representando alta de 31% a/a, enquanto o pesado foi de R$ 214 milhões e teve alta de 34% a/a. A receita líquida total da JSL somou R$ 2,2 bilhões, crescimento de 30% a/a e 7,5% t/t. Já o Ebitda atingiu os R$ 416 milhões, em linha com a expectativa do BTG e 34% maior ao ano. O lucro líquido superou estimativas e atingiu R$ 73 milhões, com alta trimestral de 27% e queda de 22% a/a causada pela desvalorização do peso argentino.

Houve uma leve queda nos números da CPFL no 4T23. A receita líquida somou R$ 10,5 bilhões no trimestre com baixa de 1,8% t/t e o ano de 2023 gerou R$ 39,7 bilhões de receita, alta de 1% em relação a 2022. O Ebitda foi de R$ 3,1 bilhões, representando queda de 18,2% devido a despesas de ação judicial e a incorporação total da usina hidrelétrica localizada em Campos Novos. Descontados os eventos não recorrentes, o Ebitda teria alta trimestral de 27,7%. A dívida líquida da empresa fechou o ano em R$ 23,9 bilhões, 2,1% maior do que em 2022, enquanto a Div. Liq/Ebitda caiu 0,02x e marcou 1,87x. Já o lucro líquido do 4T23 foi de R$ 1,32 bilhão, queda de 3,5% a/a e o lucro referente ao ano completo somou R$ 5,5 bilhões, alta de 6,1% desde 2022.

As vendas da Even tiveram alta de 125% t/t no último trimestre de 2023. As vendas atingiram R$ 522,9 milhões, número bastante acima do esperado, resultando em uma receita de R$ 938,5 milhões, que teve alta de 89% a/a. Seis novos projetos no valor de R$ 1,33 bilhão foram lançados no 4T23, dos quais 4 em São Paulo e 2 no Rio Grande do Sul, somando 18 projetos em 2023. O estoque de imóveis em SP fechou o ano em R$ 2,4 bilhões, equivalente a 20 meses de vendas líquidas. Houve uma queima de estoque no valor de R$ 213,3 milhões referente à aquisição de terrenos e desenvolvimento de novos projetos. Seu caixa líquido de R$ 197,5 milhões de 2022 foi revertido em dívida líquida no valor de R$ 394,4 milhões. O Ebitda somou R$ 142,6 milhões, alta expressiva de mais de R$ 120 milhões, enquanto o lucro líquido ficou em R$ 57,2 milhões comparado aos R$ 150 mil do 4T22.

Mercados

Nesse meio para o final do mês, as bolsas caminharam para a melhor semana do ano e os mercados no geral reagiram bem ao comunicado do banco central americano, que sinalizou três cortes de juros para ainda esse ano. Na agenda econômica internacional, os principais drivers de preço foram a decisão de juros nos EUA, CPI da zona do euro e surpresas na condução da política monetária de economias desenvolvidas, como a Suíça e o Japão. No Brasil, mercado repercutiu alguns ruídos políticos e o tom do comunicado do Copom, dado que corte de 50 bps na Selic já era esperado.

Conforme esperado, o Fed manteve a taxa de juros americana inalterada na reunião de quarta-feira. O que de fato gerou otimismo foi a indicação de que haverá três cortes de juros para esse ano. O impacto de curto prazo foi de volatilidade nos diferentes mercados e o foco recaiu na entrevista de Powell. Em resumo, segundo analistas, Powell tentou transmitir que o Fed está aberto a cortar taxas e ao mesmo tempo, tentando gerir as expectativas sobre quando isso de fato se concretizará. Mercado gostou da declaração do Fomc sobre desaceleração do aperto quantitativo e entendeu que isso reforça a aproximação do órgão americano ao início da flexibilização monetária. Dito isso, as bolsas americanas reagiram bem e o índice das 500 ações americanas mais líquidas atingiu recordes históricos. Os yields recuaram em toda a composição da curva americana e o dólar também perdeu certa força.

Em geral, o gráfico de pontos do Fed mostrou menor dispersão de opiniões dos membros acerca dos juros para o futuro. O “Dot Plot” sugere que a maioria dos dirigentes enxerga uma Fed funds rate terminal para 2024 no intervalo de 4,5% a 4,75%. Mesmo assim, ainda há um número relevante de membros que veem menor espaço para cortes. Para 2025, o cenário continua mais amplo e à deriva da evolução dos dados econômicos e consequente convergência da inflação. Parte do mercado acredita que existe uma maior propensão dos dirigentes a realizarem mais três cortes, implicando em uma taxa entre 3,75% e 4,00% para o final de 2025.

No Brasil, o mercado destoou um pouco da performance das bolsas americanas e teve uma valorização menor ao precificar a remoção do forward guidance do Copom e alguns ruídos internos. Como já precificado, o corte de 50 bps não impactou os ativos e o que de fato bateu na bolsa, no juros  e no dólar foi a opcionalidade do órgão por ter mais flexibilidade visto as incertezas à frente. Por ora, o Copom já deu mais um corte de 50 bps e sinalizou a possibilidade de diminuição do ritmo para junho visto essas incertezas que serão melhor clarificadas na ata divulgada na terça-feira que vem.

Dentre o noticiário corporativo, o destaque fica para a elevação do preço-alvo de Nvidia por parte do Bank of America, acarretando um upside implícito de aproximadamente 16% em relação ao preço de negociação atual. Analistas do banco revisaram as projeções para as vendas da Nvidia e veem bastante espaço para o papel continuar performando dado sólido pipeline para os próximos trimestres. Outro fator de extrema importância é o crescente impacto da inteligência artificial nos diversos mercados, que continuará influenciando positivamente a companhia. Vale também comentar sobre a “re-arquitetura” da infraestrutura computacional global, em que grande parte deverá ser feita com chips da Nvidia e exigirá investimentos na casa dos trilhões de dólares. Em resumo, essa crescente da IA alinhada a essa reestruturação computacional vai favorecer a empresa no futuro e mesmo com uma correção recente, a Nvidia é a terceira empresa mais valiosa do mundo.

O dólar apresentou bastante volatilidade e chegou a operar acima de cinco reais nessa semana, tendo uma ligeira valorização contra o real nesse intervalo. Por mais que o estresse doméstico tenha impactado os juros, a curva brasileira é altamente sensível aos yields americanos e o otimismo por lá equilibrou de certa forma essa balança. O Ibovespa conseguiu fechar a semana no positivo, com uma leve valorização de 0,21%, encerrando o pregão de sexta-feira aos 127.027 pontos.

Vale enfatizar do mesmo modo que o corte de juros inesperado na Suíça e a consequente hipótese de que outras economias desenvolvidas possam começar  também a reduzir os juros antes dos Eua fortaleceu o dólar frente a uma cesta de moedas. No mais, essa semana sinalizou um mercado mais confortável em carregar o risco de equity e essa força do DXY afetou um pouco o fluxo em emergentes, mas favoreceu as commodities.

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