26/03/24

Análise da Semana - 11 a 15 de Março de 2024

O CPI americano de fevereiro acelerou em relação à leitura do mês anterior, saindo de 0,3% m/m para 0,4% m/m. Na comparação anual, o índice teve uma variação de 3,2%. Essa leitura foi em linha com o esperado pelo consenso. O índice de preços teve pressão principalmente vindas dos preços de habitação e da gasolina, responsáveis por mais de 60% da alta mensal. O núcleo da inflação teve alta de mesma magnitude, acumulando um avanço anual de 3,8%.

As vendas no varejo os EUA tiveram um avanço de 0,6% m/m em fevereiro. O resultado foi aquém da alta de 0,8% m/m prevista pelo consenso. Essa leitura foi impulsionada principalmente pelo aumento de vendas nas concessionárias de automóveis e nos postos de gasolina. Foi observado que os gastos dos consumidores estão diminuindo conforme as famílias enfrentam uma economia mais restritiva. Na comparação anual, o indicador teve um avanço de 1,5%.

Brasil

O IPCA de fevereiro teve uma variação de 0,83% m/m, marcando uma aceleração relativa à leitura de janeiro de 0,42% m/m. Esse dado ficou acima da mediana das projeções, de 0,78% m/m de alta, apesar de dentro do intervalo das projeções. Mesmo assim, essa é a menor taxa registrada no mês desde 2020. Dessa forma o índice acumula uma alta de 4,50% nos últimos 12 meses, ficando acima do centro da meta estabelecida pelo BC de 3% para 2024, porém dentro da margem de tolerância. Essa leitura foi impactada principalmente pelo aumento nos custos de educação, pela sazonalidade e reajuste de mensalidade de instituições de ensino.

As vendas no varejo apresentaram o maior aumento no volume de vendas em um ano no início de 2024. As vendas no setor aumentaram 2,5% m/m em janeiro recuperando o ritmo observado no final do ano passado e ficando bem acima do esperado pelo mercado, isto é, uma leitura de 0,2% m/m. Isso se dá principalmente pelo fato de que o setor sofreu bastante em dezembro, fazendo com que muitos subsetores investissem em liquidações, de forma que as maiores quedas de dezembro se tornaram as maiores altas de janeiro. No ano o varejo deve se beneficiar com o mercado de trabalho aquecido e o ciclo de corte nas taxas de juros.

O volume de serviços no Brasil subiu 0,7% m/m em janeiro, depois de uma alta de mesma magnitude observada no mês anterior. A mediana das projeções era de uma variação negativa de 0,5% m/m. Quatro das cinco atividades pesquisadas mostraram alta, com destaque para o setor de informação e comunicação e a única retração do mês foram dos serviços prestados às famílias. Na comparação anual, o indicador teve um avanço de 4,5%, também bastante acima do esperado. Dessa forma, o setor está 13,5% acima do patamar pré-pandemia.

Foram abertas 180.395 vagas de emprego formal em janeiro segundo o Caged. Esse resultado representa um pouco mais do que o dobro de vagas registradas no mesmo mês do ano anterior. Assim, o estoque no mês, definido pela quantidade total de vínculos empregatícios ativos, totaliza 45 milhões, representando uma variação positiva de 0,39% m/m. Além disso, o salário médio de admissão teve uma variação positiva de 3,38% m/m, totalizando R$ 2.118,32. Dentre e serviços foi o que mais realizou contratações no mês, enquanto o comércio registrou mais demissões, o que é natural por conta da sazonalidade.

O lucro líquido do 4T23 da Localiza surpreendeu positivamente o mercado. De um modo geral, os números operacionais da empresa tiveram alta expressiva se descontados os impactos não recorrentes. O volume de aluguel de carros a curto prazo subiu 10% a/a e somou R$ 2,3 bilhões de receita, alta de 22% a/a e 4% acima da expectativa do BTG Pactual. Já a receita de aluguéis a longo prazo foi de R$ 1,9 bilhão, melhora de 40% a/a e 10% maior que o previsto pelo BTG. A receita geral da Localiza marcou os R$ 7,9 bilhões, em linha com as expectativas do mercado e com alta de 34% a/a e 8% t/t. Já o Ebitda foi de R$ 2,9 bilhões, subiu 33% a/a e 7,6% t/t, influenciado por mudanças na alocação dos custos. Por sua vez, o lucro líquido ajustado somou R$ 751 milhões, valor acima do esperado pelo mercado e com altas de 17,8% a/a e 6,8% t/t.

A Petrorio conseguiu bons resultados no 4T23 mesmo com queda no preço do petróleo. Assim como seus pares, o trimestre da Prio sofreu com a queda de 3% dos preços do petróleo. Também houve uma redução nos volumes de venda da empresa, impulsionada por um acordo da JOA com a Repsol. O Ebitda sofreu queda de 26% t/t, somando US$ 476 milhões, valor 8% menor que a previsão do BTG. Porém, a Prio teve o menor custo de produção registrado de US$ 6,8/boe e geração de caixa de US$ 200 milhões com yield de 3%. A razão de Div. Líquida/Ebitda teve queda e alcançou 0,7x (-0,2x). O lucro líquido foi beneficiado pela redução de custos e foi acima da expectativa do BTG, somando US$ 315 milhões, alta de 60% a/a e queda de 9% t/t.  

A Cyrela apresentou números sólidos referentes ao último trimestre de 2023. Sua receita foi impulsionada pelo aumento de vendas líquidas foi no valor de R$ 1,7 bilhão, um pouco acima das expectativas e com altas de 25% a/a e 5% t/t. As despesas de G&A aumentaram 8% a/a, principalmente pelo aumento de 152% a/a referente a indenizações. A margem bruta teve leve alta de 0,2% t/t e foi de 33,7%, enquanto a margem líquida foi de 14,5% e o ROE marcou os 13,1%. Além disso, tiveram aquisições de terrenos que geraram uma queima de caixa de R$ 94 milhões. Já o lucro líquido cresceu 19% a/a mas teve queda de 1% na base trimestral e ficou alinhado com o consenso do mercado, no valor de R$ 248 milhões.  

O 4T23 da Lojas Renner foi em linha com as expectativas do mercado. No trimestre marcado por Black Friday e Natal, a Renner teve um aumento no volume de vendas natural para o varejo. As despesas operacionais tiveram alta de 7,9% a/a e ficaram em R$ 1,22 bilhão, enquanto a receita líquida da empresa aumentou 7,1% a/a e atingiu R$ 3,8 bilhões. Um destaque positivo foi o segmento de serviços financeiros, por meio da marca Realize, que reverteu o prejuízo de R$ 34,6 milhões no 4T22 para lucro de R$ 3,2 milhões no 4T23. O Ebitda marcou R$ 1 bilhão, impulsionado pelos resultados de varejo e crédito. A margem Ebitda cresceu 0,7% a/a e foi de 26,5%. Já o lucro líquido do trimestre somou R$ 526 milhões, representando alta de 9,4% a/a, enquanto o lucro total referente ao ano de 2023 caiu 24,4% e foi de R$ 976,3 milhões.

Mercados

Nessa semana, os mercados se mantiveram majoritariamente no campo negativo e não conseguiram performar. O foco se direcionou a crise dos bancos médios nos Estados Unidos, ao fiscal no Brasil e a instabilidade do setor imobiliário vigente na China. No cenário internacional, a inflação ao consumidor e ao produtor nos EUA e a decisão de juros na China, que vai até segunda que vem, foram os principais headlines. No Brasil, mercado repercutiu o IPCA de fevereiro.  

A inflação ao consumidor americano (CPI) veio acima do esperado e por mais que a trajetória deflacionária venha se concretizando significativamente desde 2022, o número continua bem acima da meta de 2% e chama a atenção essa aceleração observada nos últimos tempos. Essa leitura fez com que os yields americanos saltassem em todos os vertices e uma valorização do dólar contra uma cesta de moedas (DXY). Os futuros de ações de NY não apresentaram tamanha reação e a moeda americana operou estável contra o real. Vale ressaltar que esse CPI de fevereiro ajudou a ancorar as expectativas de manutenção de juros paras as duas próximas reuniões do Fed.

A inflação ao produtor americano (PPI) também surpreendeu negativamente, implicando em mais um estresse na curva de juros americana e uma reversão na tendência das bolsas americanas, que operavam em alta pela manhã do pregão de quinta-feira. Contra o real, a moeda americana teve ligeira valorização e o DXY também operou com viés altista. Nesse contexto surpreendente em termos desses indicadores, pode-se dizer que tanto o PPI quanto o CPI reafirmaram as expectativas de que o Fed não terá pressa para reduzir os juros. A precificação de um corte de 25 bps continua para junho, sendo quatro cortes dessa mesma dimensão esperados para esse ano e sugerindo uma Fed Funds Rate “terminal” no intervalo de 4,25-4,50 para o final desse ano.

Apesar do IPCA de fevereiro ter ficado bem acima do consenso, a leitura sugeriu uma acomodação da média dos núcleos. Já está dado que o Copom vai cortar mais 50 bps na Selic semana que vem, e que nesse momento existe muito pouco espaço para uma aceleração do ritmo, algo que o mercado chegou a precificar algumas vezes em momentos de euforia no final do ano passado. O mercado está mais focado na divulgação da ata do que na redução da taxa em si, ou seja, na expectativa de como Bacen está de fato enxergando a trajetória inflacionária e como vão trabalhar o guidance daqui para frente, considerando que ainda existe uma inflação de serviços resiliente e um ritmo de atividade mais forte nesse começo de ano. É interessante destacar que para a reunião de junho, DI futuro precifica um corte de aproximadamente 34 bps. É de fato um número curioso levando em conta que seria praticamente o meio termo entre 25 e 50 bps. Assim, nota-se o mercado trabalhando também com a possibilidade de o Copom surpreender e eventualmente, se desprender desse guidance de 50 bps visto até então.

Na comparação semanal, o dólar ganhou leve tração contra o real e a curva de juros brasileira estressou significativamente por toda a composição, com DIs futuros abrindo em média 16 bps. Já o Ibovespa acumulou uma queda de 0,26% e fechou a semana aos 126.741 pontos. Observou-se um volume majoritariamente vendedor no índice e um fluxo estrangeiro significativamente negativo. A sessão dessa sexta-feira foi a nona consecutiva com retirada de capital externo dos negócios da bolsa e até o momento, o saldo de retiradas de capital estrangeiro da B3 no mês está negativo em R$ 6,1 bi.

No geral, o aumento da atratividade dos títulos da dívida dos Estados Unidos oriundo de alguns dados inflacionários mais acelerados em janeiro e fevereiro elevou a necessidade de um maior prêmio de risco para emergentes. Chama a atenção a reversão da importação de inflação, número que alinhado ao recente movimento altista do preço dos fretes e do petróleo decorrente do contexto no Mar Vermelho, tende a pressionar o Fed daqui em diante. No Brasil, além dessa sensibilidade à curva americana, as pressões internas com relação a paridade internacional do preço dos combustíveis também pressionam as expectativas de inflação e corroboram com uma elevação do grau de risco doméstico, o que justifica a demanda por um custo de oportunidade maior.

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