Nessa semana houve o maior dia de votação das primárias nos Estados Unidos, a chamada Super Terça. O evento não apresentou surpresas, com vitória de Joe Biden e Donald Trump, tornando o cenário da revanche entre os dois candidatos ainda mais provável nas eleições em novembro. Apesar disso, nos estados de Virginia e Carolina do Norte, eleitores republicanos expressaram preocupações com a possível candidatura de Trump, tendo em vista que ele enfrenta quatro processos criminais. Mesmo assim, Nikki Haley, então candidata do partido Republicano, confirmou sua desistência da corrida eleitoral. Do lado democrata, foram observados votos na opção “sem preferência” e “descomprometidos” como protesto contra a guerra em Gaza.
O payroll registrou criação de 275 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola nos EUA em fevereiro, ficando acima das 200 mil vagas esperadas pelos analistas. Além disso, foi observado um salto da taxa de desemprego para 3,9%, depois de três meses estável em 3,7%, e superando as expectativas de mais um mês de estabilidade. O salário médio por hora dos trabalhadores em folha de pagamento aumentou 5 centavos, depois de um aumento de 18 centavos em janeiro, totalizando US$ 34,57 e representando um aumento de 0,1% m/m.
Na reunião do Banco Central Europeu dessa semana foi decidido manter as atuais taxas de juros na zona do euro. No comunicado, o conselho do BCE entende que o nível das taxas de juros é suficiente para levar a inflação de volta para meta, se for mantido por tempo suficiente. Por mais que as medidas de inflação subjacentes tenham diminuído, ainda existem pressões internas sobre os preços tendo em vista o forte crescimento dos salários. O comitê afirmou que está dependente de dados para tomar as próximas decisões de juros.
Brasil
A produção industrial no Brasil apresentou variação negativa em janeiro, interrompendo a sequência de duas altas consecutivas. O setor recuou 1,6% m/m, ficando 0,8% abaixo do nível pré-pandemia. Esse resultado foi a queda mais intensa desde abril de 2021. Mesmo assim, dentre os 25 ramos industriais estudados, 18 tiveram variações positivas no mês. Os ramos que mais contribuíram para essa queda foram os de indústrias extrativas e produtos alimentícios. A primeira pressionada por uma menor extração de minério de ferro e de petróleo e a segunda tendo em vista a redução na fabricação de açúcar. Na comparação anual, entretanto, foi observado um avanço de 3,6%, acumulando um avanço de 0,4% nos últimos 12 meses.
A Petrobras apresentou resultados resilientes no 4T23, mas com anúncio de retenção de dividendos. O Ebitda ajustado somou US$ 14,9 bilhões, valor 2,8% acima das expectativas do BTG Pactual e com alta de 9,5% t/t. Já a receita caiu 15% a/a e somou R$ 134 bilhões, valor acima do consenso do mercado. A produção de petróleo já tinha sido anunciada, enquanto as margens de refino subiram e os custos de produção caíram para US$ 7,8/boe. As margens resilientes foram capazes de superar a baixa de 3% no preço do petróleo no trimestre. Além disso, a remuneração aos acionistas foi anunciada em US$ 2,8 bilhões, bastante divergente do esperado pelo mercado. Já que o BTG estimou que haveria US$ 6,8 bilhões disponíveis para distribuição de dividendos para o período, o que fez a ação ter queda de quase 11% na sexta-feira.
A CSN fechou 2023 com números sólidos referentes ao último trimestre do ano. A receita líquida da empresa marcou R$ 12 bilhões, número 3% acima do estimado pelo BTG Pactual e 8% maior a/a e t/t. A atividade siderúrgica da empresa teve um Ebitda de R$ 331 milhões, 26% acima do esperado pelo BTG e alta de 2,4% t/t, impulsionado pelo aumento do preço de aço no mercado internacional. Já o Ebitda de cimento veio 7% acima do projetado pelo BTG e atingiu R$ 263 milhões. Porém, a Dívida Líquida/Ebitda permaneceu em 2,5x, enquanto se esperava uma queda na alavancagem da empresa. Por sua vez, a CSN Mineração, empresa do mesmo grupo, também teve resultados do 4T23 que agradaram o mercado, com um lucro líquido de R$ 1,36 bilhões, alta de 13% t/t e 56% a/a.
O resultado da 3R Petroleum foi em linha com as expectativas do mercado ao reverter prejuízo. O setor de Petróleo e Gás enfrenta um cenário difícil devido à queda de 3% t/t de seu preço, que justifica os números mais fracos da empresa em 2023. Os clusters Recôncavo, Peroá e Papa Terra apresentaram menor custo de produção, que caiu 3% t/t e foi de US$ 18/boe. O EBITDA ajustado marcou os US$ 141 milhões, queda de 16% t/t e cerca de 5% acima do esperado pelo BTG Pactual. O crescimento da produção na 3R foi de 7% (45,9 kboe/d), mas não superou a queda dos preços de petróleo. O maior ponto de atenção foi a dívida líquida, com Dívida Líquida/Ebitda em 3,7x, baixa de 26% t/t, e a expectativa é de queda ainda maior nos próximos trimestres.
SLC Agrícola sofre com El Ninõ e apresentou um 4T23 com números fracos. O fenômeno climático atrasou a temporada de chuva, causando uma queda na produtividade e mudanças na área plantada. Houve queda nos volumes de venda de diferentes culturas. No caso do algodão, foram vendidas 82 toneladas, queda de 16% a/a. O Ebitda ajustado marcou os R$ 673 milhões, com margem de 35,1%, valor 2% acima da expectativa do BTG Pactual. O fluxo de caixa livre somou R$ 677 milhões, superando seus pares em um trimestre desafiador. A SLC tinha lucro de R$ 132,4 milhões no 4T22, mas no 4T23 reportou prejuízo líquido de R$ 153 milhões. Além disso, as previsões de produtividade para 2024 caíram, afetado com leve baixa das margens operacionais.
A Arezzo reportou rentabilidade bastante positiva mesmo com desaceleração da receita. As vendas brutas subiram 11% a/a e marcaram R$ 1,8 bilhão, com aumento de 15% a/a na AR&CO e 13% a/a da Ana Capri, com destaque para vendas em lojas próprias. A receita líquida somou R$ 1,42 bilhão, enquanto o BTG Pactual previa R$ 1,46 bilhão. O Ebitda ajustado foi de R$ 221 milhões, 5% abaixo do esperado pelo BTG e com alta de 16% a/a, já descontando os R$ 7 milhões de fusões e aquisições não recorrentes no período. As despesas comerciais subiram 12% a/a devido a e-commerce e lojas próprias. O lucro líquido veio acima das expectativas do mercado (8% acima do BTG), somando R$ 126 milhões e marcou alta de 18,3% t/t e 22,5% a/a.
Mercados
Ainda nesse começo de março, as bolsas americanas e europeias bateram as máximas históricas com discurso de Powell e Lagarde sobre política monetária. Já na comparação semanal, os mercados no geral continuaram demonstrando bastante volatilidade e permaneceram sem uma direção única, entregando performances mistas novamente. Na agenda internacional, as falas dos dirigentes do Banco Central dos Estados Unidos e Europa e o payroll de fevereiro americano foram os principais drivers de preço. No Brasil, mercado de olho na temporada de resultados corporativos, que ganhou tração nos últimos tempos. O destaque fica para o release da Petrobras, que balançou o mercado no after-market e no pregão subsequente.
Apesar da geração de vagas de emprego acima das expectativas, os números do Payroll americano indicaram salários médios mais baixos e uma taxa de desemprego maior que o esperado. Previamente, o mercado já tinha precificado o posicionamento de Powell, que sugeriu certa confiança com a convergência inflacionária e consequente pontapé do movimento de flexibilização em seu discurso mais recente. Esse evento impulsionou as bolsas americanas, que bateram suas máximas históricas nessa semana. Olhando mais a fundo, o payroll é um dos dados chave para direcionar as expectativas em relação à política monetária e por mais que, na margem, tenha vindo aquém das estimativas, a leitura do mercado foi relativamente neutra considerando que o número desacelerou em relação a última divulgação. Nesse contexto, o dólar perdeu força frente a outras divisas fortes e contra uma cesta de moedas. Já os yields inicialmente saltaram, mas depois caíram em reação a uma revisão para baixo dos números de janeiro e a um aumento inesperado na taxa de desemprego.
Vale destacar que esse Payroll também fez com que um corte de 25 bps ficasse inteiramente precificado para junho nos contratos de swaps associados a decisões do Fed. Esses contratos também passaram a precificar cerca de 1 ponto percentual de cortes ainda esse ano, número que era 0,75 pontos percentuais no mês passado.
O ouro chegou a ultrapassar US$2,2 mil nessa semana e alcançou o maior nível intraday da história. Para a Capital Economics, o movimento resultou de diferentes fatores financeiros e macroeconômicos, que devem manter os preços elevados durante todo o ano, com o ouro cotado em US$2,1 mil a onça-troy até o final de 2024. Dentre esses fundamentos, podemos destacar também o enfraquecimento do dólar frente outras divisas fortes e dos juros dos Treasuries no exterior após o payroll renovar expectativas por cortes de juros a partir de junho. O Rali do ouro nessa sexta permitiu o metal precioso encerrar o pregão no maior nível desde a criação do seu contrato de negociação em 1974. De acordo com a estratégia da TD Securities, as expectativas de demanda por commodities estão crescendo e faz sentido manter uma posição longa tática no ouro para se defender de assimetrias e especulações do mercado e fluxos físicos de demanda do metal.
O dólar e os juros avançaram no brasil com receios de intervenção política na Petrobrás depois do anúncio dos dividendos abaixo do previsto. A moeda americana valorizou quase 1% frente ao real após resultado da petroleira e a curva de juros brasileira inclinou, com vencimentos longos apresentando mais estresse. O Ibovespa acumulou uma desvalorização de 1,63% e fechou a semana aos 127.070 pontos, dado volume predominantemente vendedor e fluxo estrangeiro negativo.
Em resumo, com o payroll de hoje, os mercados passam a ancorar junho como data mais apropriada para o início do ciclo de cortes nos EUA. Deve-se comentar também que a reação negativa ao balanço da Petrobras ressalta a influência que a empresa possui sobre a percepção dos investidores internacionais em relação ao mercado de ações brasileiro. A Petrobras possui um peso significativo nos portfólios de investidores que buscam exposição ao Brasil e o receio sobre possíveis intervenções políticas não só na empresa, mas também em outras esferas da economia, acaba afastando o capital estrangeiro e limita a performance do real frente a outras moedas.
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