26/03/24

Análise da Semana - 26 de Fevereiro a 1 de Março de 2024

O PCE, índice de preços de gastos com consumo, dos EUA, principal índice de preços acompanhado pelo Fed, teve uma variação de 0,2% m/m em janeiro, em linha com as expectativas. Na base anual, o índice ficou em 2,4%, representando o menor avanço do índice desde março de 2021, apesar de continuar acima da meta do Fed de 2%. O núcleo, que exclui os preços dos grupos mais voláteis, teve uma variação de 0,4% m/m, também de acordo com o esperado, porém acelerando em relação a leitura do mês anterior quando houve uma variação de 0,2% m/m. Dessa forma, como o PCE não apresentou nenhuma surpresa, ele não deve representar uma mudança sobre as expectativas da trajetória de juros americano.

O PMI industrial, índice de gerentes de compras, caiu para 47,8 pontos em fevereiro contra 49,1 em janeiro, segundo o ISM. Esse resultado foi abaixo do projetado pelos analistas, que esperavam estabilidade na comparação mensal. Assim, esse é o 16º mês consecutivo que o indicador fica abaixo de 50 pontos, indicando uma atividade em patamar contracionista. Esse é o período mais longo nesse patamar desde agosto de 2000 até janeiro de 2002. Isso pode ser explicado pelos altos custos de empréstimos, que esfriaram a demanda por bens e desaceleraram o investimento empresarial em equipamentos.

O PMI Caixin, que mostra a atividade econômica da China priorizando empresas do setor privado, subiu de 50,8 pontos em janeiro para 50,9 em fevereiro e continuando em patamar de expansão. Esse foi o quarto mês consecutivo de crescimento segundo a métrica privada, e a primeira vez que essa sequência de altas acontece desde o segundo semestre de 2021. Apesar desse dado indicar uma recuperação econômica, ainda é possível observar um crescimento do total de novas encomendas mais lento do que a produção, além de preços moderados tanto na produção quanto nas vendas. Mesmo assim, o mercado viu a leitura com otimismo. Por outro lado, o PMI oficial, o qual cobre os grupos industriais estatais, caiu para 49,1 pontos em fevereiro, contra 49,2 registrados em janeiro. Apesar de ter superado a previsão de 49 pontos, o indicador oficial mostra uma atividade ainda em patamar de contração pelo quinto mês consecutivo.

O CPI da zona do euro desacelerou em fevereiro, saindo de 2,8% em termos anualizados em janeiro para 2,6%, ficando um pouco abaixo das expectativas de 2,5%. O núcleo, por outro lado, apesar de ter caído de 3,3% em termos anualizados para 3,1% em fevereiro, ficou acima dos 2,9% esperados e continuou acima da meta de 2% estabelecida pelo BCE. Os principais componentes da inflação no período foram alimentos, álcool e tabaco, e serviços.

Brasil

O IPCA-15, a prévia da inflação oficial, apresentou uma alta de 0,78% m/m em fevereiro, representando uma aceleração em relação ao dado do mês anterior que variou 0,31% m/m além de ficar acima dos 0,76% m/m registrados no mesmo período do ano passado. Mesmo assim, o dado foi abaixo das expectativas de 0,82% m/m segundo a pesquisa da Reuters. Dessa forma, o índice acumula alta de 4,49% nos últimos 12 meses. Esse resultado mantém o índice em linha para acabarmos o ano com a inflação em torno do teto da meta. A principal influência da leitura é proveniente do grupo de educação, o qual teve uma alta expressiva tendo em vista os reajustes habituais no começo de todo ano letivo.

O PIB brasileiro cresceu 2,9% no ano de 2023, totalizando R$ 10,9 trilhões no ano. No primeiro semestre do ano, o produto do país foi puxado pela supersafra dos grãos, beneficiando também o resultado de outros setores como o de exportações e indústria de alimentos, e, dessa forma, a agropecuária contribuiu com um terço de todo o crescimento da economia em 2023. No segundo semestre a dinâmica do PIB foi diferente, o setor de serviços permaneceu resiliente e sustentou a gradual desaceleração da economia causada pelo alto nível de juros. Além disso, os estímulos fiscais impulsionaram o consumo e o mercado de trabalho, que atingiu recordes de ocupação, e ajudou a manter a economia aquecida. O último trimestre do ano, entretanto, fechou estável em relação ao trimestre anterior, com destaque para uma queda expressiva no setor agropecuário tendo em vista a sazonalidade.

A Suzano fechou 2023 com números em queda, mas em linha com o esperado pelo mercado. As vendas totais subiram 11% t/t e ficaram em 2,76 milhões de toneladas, com custo de caixa na casa dos R$ 816/t, queda de 5% t/t e 1% maior do que a previsão do BTG. O Ebitda somou R$ 4,5 bilhões e mesmo com queda de 34,3% a/a, foi além das expectativas do mercado devido ao maior número de exportação de celulose. Já o Ebitda do setor de papel caiu somente 4% t/t com a ajuda do aumento das remessas, devido à sazonalidade do 4T. O lucro líquido foi de R$ 4,5 bilhões, representando 39% a/a. O projeto Cerrado está com 86% de progresso físico e com os custos de caixa em queda, sendo o maior destaque do guidance da empresa para 2024.

A BRF voltou a reportar lucro líquido após oito trimestres de prejuízo. A empresa publicou os resultados do 4T23 com crescimento da receita, mas o preço médio de vendas caiu 1,3% a/a.  O Ebitda foi de R$ 1,9 bilhão, com a margem de 12,3% e 76% maior ao ano, superando a expectativa do consenso. O aumento da margem foi impulsionado pela queda nos preços das matérias-primas. Além disso, o fluxo de caixa livre foi de 631 milhões, valor abaixo do esperado, influenciado pelo capital de giro. Por fim, o lucro líquido somou R$ 823 milhões, superando o prejuízo de R$ 956 milhões do 4T22. O BTG Pactual acredita que em 2024 a queda dos preços médios deve persistir, com o volume de vendas sendo o principal desafio para a BRF.

Americanas aumentou sua dívida no terceiro trimestre de 2023 com prejuízo líquido menor. Atualmente em recuperação judicial, a empresa teve queda de 51,1% a/a de seu GMV, que somou R$ 16 bilhões em nove meses de 2023. Sua dívida bruta terminou o ano em R$ 38 bilhões, enquanto a dívida líquida subiu 10,6% a/a, no valor de R$ 33,4 bilhões. Sua receita caiu 39,2% a/a e ficou em R$ 3,26 bilhões, com uma queda de 79% nas vendas digitais. Mesmo com queda nas margens, seu prejuízo líquido marcou R$ 1,62 bilhão, sendo que o valor do prejuízo é 17,8% menor na comparação anual.

A Caixa apresentou um final de ano com números que agradaram o mercado. O quarto trimestre de 2023 continuou batendo recordes de faturamento, com alta histórica de 6,8% na contratação de crédito, totalizando R$ 544,3 bilhões no ano de 2023. Entre as carteiras, os destaques foram crédito imobiliário e agronegócio, que subiram respectivamente 14,6% a/a e 27,3% a/a.  Já o ROE foi de 8,5% e as receitas de prestação de serviço marcaram R$ 6,7 bilhões no trimestre, impulsionadas pelas altas de seguros (+22,4%) e crédito (13,7%). Seu lucro líquido trimestral foi de R$ 2,9 bilhões, aumento de 40,5% a/a e o lucro líquido referente a 2023 marcou os R$ 10,6 bilhões, 15,5% maior do que 2022.

 Mercados

Nessa última semana de fevereiro tivemos uma robusta bateria de dados econômicos, implicando em maior volatilidade aos mercados, que performaram de forma mista. No cenário internacional, os principais drivers de preço foram o PIB e PCE dos EUA, PMIs na China e inflação na zona do euro. No Brasil, investidores atentos ao IPCA-15 de fevereiro e ao PIB divulgado no último dia da semana.

Tanto o dado cheio quanto o núcleo do PCE dos EUA vieram em linha com as estimativas. Levando em conta um contexto em que ambos os indicadores de inflação ao consumidor e produtor surpreenderam para cima, o dado foi interpretado como positivo, implicando em uma redução dos rendimentos dos Treasuries e consequente apetite ao risco. Já o dólar sofreu variações amenas e apresentou leve alta durante o pregão. Podemos dizer que esse PCE mais recente eliminou certas hipóteses de um corte de juros apenas no segundo semestre e atualmente, a probabilidade implícita na curva de juros americana de início do ciclo de cortes ainda nesse semestre está em junho, com 73,8%.

No Brasil, a leitura da prévia da inflação ao consumidor de fevereiro foi no geral positiva, dado que veio abaixo das expectativas. Vale destacar que os juros futuros subiram na véspera da divulgação do IPCA 15 de fevereiro com o panorama de um número salgado e o mercado chegou a precificar uma Selic terminal em 9,75% para 2024. Porém, tivemos na realidade, um número abaixo das expectativas, que gerou uma leitura positiva do dado. Nesse contexto, os juros futuros abriram terça-feira demonstrando queda de até 10 pontos e o dólar perdeu força contra o real, chegando a operar próximo de R$4,93. Como consequência, o mercado doméstico performou bem e se sustentou no campo positivo por todo o pregão.

As taxas DI enfrentaram baixa volatilidade nessa sexta-feira e tiveram leve queda junto com yields externos após PIB de 2023 ter registrado crescimento pouco abaixo do previsto em 2023 e estagnação no último trimestre do ano. O Dólar ficou de lado com desempenho misto das commodities, bolsas e moedas.

 

Por mais que o PMI de Caixin tenha tido uma leitura ligeiramente positiva, o PMI industrial da China veio pelo quinto mês consecutivo em território de contração. Em outras palavras, isso ilustra a queda da atividade nas fábricas chinesas e os consequentes desafios da economia em meio a um cenário de demanda mais fraca. Nesse sentido, vimos os preços das commodities minerais sofrerem e o minério de ferro chegou a cair mais de 8% na semana. Esse movimento impactou os papéis da Vale, que por sua vez, possui a maior participação no principal índice acionário brasileiro. No mais, podemos concluir que esse dado corrobora com a ideia de um view menos construtivo para a China nesse ano, algo que o mercado vem também precificando nos papéis da mineradora brasileira.

Dentre o noticiário, vale o enfoque a um dos headlines do Brazil Journal, que chama atenção a uma aproximação do rombo fiscal americano atual ao da Itália, país que possui uma das situações fiscais mais frágeis entre os países da zona do euro. Atualmente, o déficit orçamentário americano já é maior que o da Itália, que têm um rating de crédito significativamente inferior (BBB). Estima-se que os gastos dos EUA com juros da dívida deverão ser maiores que o da Itália nos próximos anos e em breve, o endividamento do governo americano deve atingir aproximadamente 140% do PIB, patamar similar ao italiano em 144%. Segundo economista chefe da Apollo Global Management, se os EUA mantiverem a trajetória fiscal projetada pelo CBO (Congressional Budget Office), são crescentes as chances de o país ter um rebaixamento de rating ainda neste ano. Fora isso, as projeções do FMI indicam que o rombo americano superou 8% do PIB em 2023 e deverá se manter ao redor de 7% nos próximos anos. Já na Itália, o déficit está em ligeiro declínio e deve recuar para menos de 3% dentre um intervalo de cinco anos.

Na comparação semanal, o dólar perdeu força contra o real e a curva de juros brasileira aliviou nesses últimos dias, com DIs futuros fechando em média 6 bps. O Ibovespa ficou praticamente estável nesse mesmo intervalo de tempo e com um volume misto, fechou aos 129.180 pontos. Em resumo, os mercados globais seguem sensíveis às constantes especulações acerca do início da flexibilização monetária nos Estados Unidos. Pode-se afirmar que esse PCE de janeiro descartou algumas apostas minoritárias recentes de que o próximo passo do Fed seria de um aumento de juros e não de corte.

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