A Ata do FOMC mostrou uma visão marginalmente diferente do que foi discutido pelo comitê na reunião há algumas semanas. O comunicado reforçou alguns pontos negativos relativos ao crescimento, como as condições financeiras restritivas, a desaceleração dos parceiros comerciais e a possibilidade de enfraquecimento dos balanços das famílias. Entretanto, a maioria dos pontos qualitativos discutidos ainda são positivos para o crescimento da economia americana. Existe, na visão de vários membros do comitê, o risco de que as condições financeiras pudessem ficar menos restritivas do que o apropriado, de forma a gerar um impulso na demanda agregada que atrapalharia o processo de desaceleração da inflação. O FOMC enxerga que o mercado de trabalho está menos desequilibrado, fator positivo para a dinâmica de salários. Para eles, o balanço geral de risco para a inflação segue inclinado para o lado positivo, de forma que existe a possibilidade de que o progresso adicional leve mais tempo do que esperado inicialmente. Mais uma vez, o comitê enfatizou que não considera apropriado iniciar o ciclo de cortes antes que tivessem uma maior confiança de que a inflação está se direcionando de forma sustentável à meta de 2% e consideram que aliviar a postura restritiva rapidamente pode estagnar o progresso da desinflação.
O PMI composto, índice de gerentes de compras, da zona do euro cresceu, saindo de 47,9 pontos em janeiro para 48,9 em fevereiro. O indicador ficou acima dos 48,5 pontos esperados pelo consenso, porém ainda abaixo de 50 pontos, nível que separa o crescimento e contração da atividade, pelo quarto mês consecutivo. Essa alta se deve especialmente pelo setor de serviços, a qual interrompeu sua sequência de seis meses de contração e atingiu 50 pontos no período, saindo de 48,4 pontos no mês anterior e superando as expectativas do mercado. A indústria, por sua vez, sofreu uma queda, saindo de 46,6 em janeiro para 46,1 em fevereiro, número aquém do esperado. De maneira geral, a leitura passa uma esperança de que a zona do euro esteja caminhando para uma recuperação.
A Nvidia foi o grande destaque do mercado essa semana, depois de divulgar um 4T23 de crescimento expressivo e acima das expectativas do mercado. As receitas da empresa apresentaram um significativo crescimento na base trimestral, assim como se esperava. A receita do trimestre foi de US$ 22,1 bilhões, alta de 22% t/t e 265% a/a, enquanto a receita total de 2024 somou US$ 60,9 bilhões e cresceu 126%. Seu principal segmento, data centers, gerou 83% da receita e subiu 409% a/a, no valor de US$ 19,2 bilhões. Já o lucro líquido foi de US$ 12,3 bilhões e o EPS ficou em US$ 11,93, aumento anual de 586%. O guidance do próximo trimestre aponta receitas de US$ 24 bilhões, US$ 2,1 bilhões acima da estimativa do mercado e representando uma alta de 8,6% t/t e 233% a/a. P/L = 37,10x
Mercado Livre divulgou um resultado positivo referente ao ano de 2023. A companhia teve um crescimento significativo de sua receita líquida, que atingiu US$ 4,25 bilhões vs. US$ 4,14 bilhões esperados e representando um aumento de 47,9% a/a, principalmente por conta do aumento das vendas diretas, ou seja, de produtos de primeira mão, e pelo aumento das receitas de crédito em sua fintech. Ainda, o volume total de pagamentos teve um aumento de 57,2% a/a, atingindo a marca de US$ 56,5 bilhões e o volume bruto de mercadorias cresceu 39,9% a/a, chegando a US$ 13,5 bilhões. Finalmente, o lucro por ação foi de US$ 7,39, acima dos US$ 7,07 esperados. Houve alguns aspectos qualitativos ressaltados pela empresa que ajudaram a impulsionar o bom desempenho no ano de 2023. Ela melhorou a experiência do usuário, lançando programas de fidelidade e inovando em categorias especificas, além de expandir sua rede logística para alcançar o objetivo de realizar entregas mais eficientes. Dessa forma, Meli teve um aumento no número de usuários ativos, totalizando quase 85 milhões ao longo do ano e o número de itens vendidos aumentou em 22% a/a. P/L = 45,31x
Brasil
O IBC-Br, índice visto como proxy do PIB, de 2023 teve um crescimento de 2,45% no ano. Em dezembro, o dado teve um avanço de 0,82% m/m, representando a quarta leitura positiva seguida e ficando acima da expectativa do mercado de 0,75% m/m. A surpresa positiva está relacionada com um melhor desempenho da indústria do que o esperado. Apesar dos efeitos defasados do alto nível da taxa de juros, a dissipação dos efeitos positivos do setor agrícola e o alto endividamento, a atividade econômica foi beneficiada pelo mercado de trabalho forte e arrefecimento da inflação.
Apesar das provisões, a Vale conseguiu ter um 4T23 com bons números operacionais. A provisão referente à Samarco veio aquém das expectativas, assim como os custos do minério e de níquel, agradando o mercado. Devido a esta queda nos custos, o Ebitda de ferrosos chegou em US$ 6,4 bilhões, acima da previsão do BTG e 44% maior em relação ao 3T23. O Ebitda total da Vale foi de US$ 6,73 bilhões, alta de 50% t/t e 35% a/a. Ainda que a dívida líquida tenha aumentado, os US$ 16,1 bilhões ficaram abaixo da meta preestabelecida. O lucro líquido caiu 15% t/t e 35% a/a, com US$ 2,4 bilhões, queda que já era esperada pelo consenso. Além disso, teve um anúncio de adiamento dos dividendos extraordinários, que marca uma atenção mais voltada para os resultados operacionais da empresa em vez de impacto econômico para seus acionistas. P/L = 5,4x
A Gerdau fechou 2023 com números fracos, porém em linha com as expectativas do mercado. O Ebitda da empresa caiu 43% a/a e atingiu R$ 2,03 bilhões, valor próximo à estimativa do BTG Pactual. A operação brasileira sofreu uma queda na rentabilidade e foi o principal motivo pelo qual a Gerdau teve no 4T23 as suas menores margens desde 2015. Já nos EUA, a Gerdau teve um Ebitda de R$ 1,1 bilhão, com margem de 19,2%, que superou em 10% a previsão do BTG. No 4T, existe uma sazonalidade que influencia o volume da produção, que caiu 6% t/t mas ficou estável ao ano. O fluxo de caixa foi um destaque positivo, marcou R$ 1,29 bilhão com yield de 3,4% e foi influenciado por um alívio no capital de giro da empresa. Já o lucro líquido da empresa foi de R$ 732 milhões, representando uma queda de 54% t/t e 40,3% a/a. P/L = 9,62x
Os resultados referentes ao 4T23 do Iguatemi foram acima do esperado. As vendas somaram R$ 5,9 bilhões, alta de 12% a/a. Com isso, a receita líquida cresceu 9% a/a e foi de R$ 331 milhões. O Ebitda superou em 5% a previsão do BTG Pactual, com alta de 30% a/a e margem de 80%. Ademais, as vendas nas mesmas lojas (SSS) subiram 9,4% a/a, enquanto os aluguéis nas mesmas lojas tiveram alta de 6,6% a/a e a taxa de vacância caiu 1,1% a/a e fechou dezembro em 4,9%. O lucro líquido do trimestre foi de R$ 119,8 milhões, número 28% maior do que no 4T23 e a margem líquida marcou 36,2%. O guidance para 2024 continua bastante positivo, com expectativa de alta no lucro e métricas operacionais sólidas. P/L = 13,4x
Mercados
Nesse meio para o final de fevereiro, os mercados conseguiram performar e fecharam a semana majoritariamente no campo positivo. Na esfera internacional, o PMI da zona do euro, a ata do FOMC e o notório resultado da Nvidia foram os principais drivers de preço. No âmbito doméstico, ruídos políticos e a temporada de balanços corporativos foram os temas mais enfatizados, com destaque ao release do 4T23 da Vale.
A ata do FOMC sugeriu que o Federal Reserve está sem pressa para iniciar o ciclo de cortes da Fed Funds Rate. A ata reafirmou que foi visto um bom progresso no que se refere ao combate da inflação, mas que é necessário seguir observando os dados para avaliar se essa trajetória de arrefecimento continuará consistente ou apenas sensível a fatores temporais e adversos. Dada essa sinalização, os yields dos títulos americanos subiram levemente, as bolsas demonstraram leve queda e o dólar se manteve praticamente estável. Agora, o foco fica 100% para a reunião de março, principalmente após os dados econômicos mais recentes, que demonstraram um mercado de trabalho ainda muito apertado e uma economia no geral aquecida. Nesse sentido, vale mencionar que o mercado chegou a especular de que o próximo movimento do FED poderia ser de aumento de juros e não de um corte, conforme esperado por todos nos últimos meses. Segundo Ben Emons, de uma gestora americana, o mercado está de certa forma, “brincando” com a hipótese de que o Fed possa ter que subir os juros novamente.
Conforme descrito acima, o resultado da Nvidia foi o grande highlight global e gerou euforia nos mercados. O rally de tecnologia vigente liderado pela própria Nvidia nessa semana fez as bolsas de Nova York, Europa e Japão baterem recordes e a Nasdaq, o S&P 500 e o Down Jones atingiram suas máximas históricas ontem. Após saltar mais de 15% no pregão pós release do resultado, a melhor fabricante de chips para a Inteligência Artificial ganhou mais de US$280 bi de valor de mercado e atingiu um valor de mercado de US$1,9 tri.
Dentre o noticiário corporativo, o Goldman Sachs elevou a recomendação do Bradesco para “neutro” e alegou que o preço de tela já reflete os riscos da operação. Em janeiro desse ano, o time do analista Tito Labarta havia rebaixado o rating do banco para venda, considerando, principalmente, os desafios estruturais para a rentabilidade e eficiência operacional. Por mais que os fundamentos do banco continuam iguais agora, o papel desvalorizou significativamente após o decepcionante resultado do quarto tri do ano passado e o plano estratégico de cinco anos do banco melhorou a visibilidade das previsões futuras, mesmo que a execução continue sendo uma incógnita. Assim, a reforma cultural e estrutural pode melhorar a competitividade do banco num futuro próximo, mesmo que o curto prazo seja desafiador. No momento atual, a ação do Bradesco negocia a um price-to-book de 0,8x para 2024, o que segundo os analistas, reflete adequadamente os riscos da operação.
No Brasil, o dólar ganhou leve força frente ao real e a curva de juros brasileira ficou praticamente estável nessa comparação semanal, com DIs apresentando apenas leve volatilidade nos vencimentos mais longos. Com a agenda econômica mais esvaziada no espectro nacional, repercussão do resultado da Vale, o Ibovespa acumulou uma leve valorização de 0,54% e fechou a semana aos 129.418 pontos. Houve um volume majoritariamente comprador no índice, mas o fluxo estrangeiro continuou negativo dada a atratividade externa.
Em resumo, os EUA seguem represando o volume dos mercados globais dado prêmio de risco ainda muito interessante. A bolsa americana subiu bastante recentemente, principalmente em função das ações de empresas de tecnologia, atingindo máximas históricas. Mesmo assim, entendemos que ainda existe espaço para a valorização de empresas de outros setores da economia americana, com múltiplos ainda em patamares menos elevados.
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