22/02/24

Análise da Semana - 5 a 9 de Fevereiro de 2024

O PMI de serviços nos EUA mais uma vez surpreendeu o mercado, saindo de 50,5 pontos em dezembro de 2023 para 53,4 pontos em janeiro de 2024. Esse dado mostra que o setor está em expansão, tendo em vista que passa a marca dos 50 pontos. O resultado foi acima das expectativas do consenso, que projetava uma leitura de 52 pontos. Além disso, o índice de novos pedidos teve expansão pelo 13° mês seguido, passando de 52,8 pontos no mês passado para 55 este mês e o índice de preços teve uma alta bastante significativa, saindo de 56,7 pontos para 64 pontos. Essa leitura mostra uma economia americana ainda forte, que pode prejudicar a trajetória de queda da inflação.

Na zona do euro, as vendas no varejo apresentaram uma queda de 1,1% m/m em dezembro, ficando um pouco abaixo do consenso, que previa um recuo de 1% no mesmo período. Na comparação anual, o volume de vendas do setor teve uma contração de 0,8%, melhor do que a queda de 1,1% a/a prevista pelo consenso.

A temporada de divulgação de balanços nos EUA continua. A Disney apresentou resultados positivos referentes ao último semestre de 2023. Seu serviço de streaming, Disney+, somou US$ 5,5 bilhões de receita, alta de 15% a/a e com expectativa de que o primeiro lucro da plataforma seja no ano de 2024. É importante notar que o Disney+ aumentou o preço de sua assinatura, fazendo a base de clientes ficasse levemente abaixo do esperado. A receita total da empresa no período foi de US$ 21,2 bilhões, número 5,4% maior ao ano e em linha com as expectativas do mercado. Por sua vez, o lucro líquido do trimestre somou US$ 1,91 bilhão e o EPS foi de US$ 1,22 por ação, acima da estimativa de US$ 1 pela FactSet. Além disso, houve um aumento de 50% no pagamento de dividendos para seus acionistas em relação ao ano passado.

A Uber mostrou um 4T23 acima das expectativas. Em utilização, houve um crescimento de 22% a/a no segmento de mobilidade, enquanto o segmento de entregas subiu 19% a/a. A receita foi de US$ 9,94 bilhões, alta de 15,1% a/a e US$ 140 milhões acima das projeções da Avenue. Já o lucro líquido por ação marcou os US$ 0,66, enquanto a FactSet esperava US$ 0,16. O guidance para 2024 do Ebitda ficará entre US$ 1,26 bilhões e US$ 1,34 bilhões, maior do que Wall Street esperava.

Brasil

A ata do Copom não trouxe surpresas quando comparado ao comunicado dado após a reunião da última semana. O documento apresentou que o BC tem uma preocupação maior em relação a alguns temas, mais especificamente o mercado de trabalho aquecido e a inflação de serviços, além dos impactos do cenário global. Mesmo assim, o comitê manteve o guidance de novas quedas de 50 bps nas próximas reuniões.

 As vendas no varejo em dezembro de 2023 sofreram queda de 1,3% m/m, mesmo sendo temporada de Natal. Essa queda foi significativamente maior do que a expectativa da Reuters, que esperava uma retração de 0,2% m/m. Assim, o setor acumula um aumento de 1,7% no volume de venda em 2023, melhorando em relação ao acumulado de 2022, com um avanço de 1%. De qualquer forma, podemos dizer que o varejo brasileiro não apresentou grande ímpeto em nenhum momento ao longo do último ano, o que pode ser interpretado pelo fato de que parte da melhora da conjuntura econômica não se transformou em demanda e, na verdade, foi usada para reduzir dívidas acumuladas anteriormente. Dentre as oito atividades pesquisadas, seis tiveram um desempenho negativo na comparação mensal. Os únicos dois grupos com variação positiva foram o de combustíveis e de supermercados.

O IPCA de janeiro teve uma variação de 0,42% m/m, desacelerando em relação a alta de 0,56% m/m registrada no mês anterior. Dessa forma, o índice acumula um avanço de 4,51% nos últimos 12 meses. Essa leitura ficou acima da variação de 0,34% m/m que o mercado esperava, de forma a acumular uma alta de 4,42% nos últimos 12 meses. O índice sofreu pressão especialmente nos preços de alimentos e bebidas, que tiveram a maior alta em janeiro dos últimos oito anos. Esse aumento nos preços dos alimentos está relacionado com as altas temperaturas e às chuvas mais intensas em muitas das regiões produtoras do país, coisa que acontece todo ano nessa época, porém esse ano foi intensificado pelo El Niño. Por outro lado, foram observadas quedas no grupo de transporte, tendo em vista uma queda de 15,2% nos preços de passagens aéreas, além de queda nos preços de combustíveis.

 O lucro líquido ajustado do BTG Pactual foi de R$ 2,85 bilhões e alcançou seu recorde no 4T23. Sua receita subiu 55,9% a/a e ficou estável no trimestre, somando R$ 5,65 bilhões e representou alta em quase todos os setores do banco. O maior destaque entre as receitas foi o portfólio de crédito no valor de R$ 171,6 bilhões, com crescimento de 6,8% t/t e 18,9% a/a. A Asset também teve uma alta relevante, com 9% t/t e 18% a/a, somando receita de R$ 509 milhões. O Net New Money do 4T23 caiu aproximadamente 30% t/t, porém na comparação anual subiu 25,1% e ficou em R$ 1,57 trilhão. Já o lucro líquido recordista de R$ 2,85 bilhões avançou 61% a/a e ficou acima das projeções otimistas do mercado. O ROE do banco atingiu 23,4%, alta de 23,2% t/t e 16,7% a/a.

Mais uma vez o Bradesco mostrou um trimestre pior do que o esperado. A receita do banco no 4T23 apresentou uma queda de 0,9% t/t e 2,4% a/a e somou R$ 9 bilhões, enquanto as despesas de operação ficaram em R$ 14 bilhões, alta de 11,2% t/t e 10,7% a/a. É importante ressaltar que o banco cortou o número de agências (-6,3%) e funcionários (-2,4%) em 2023. Seu lucro líquido recorrente foi de R$ 2,88 bilhões ficou 37% abaixo da expectativa do BTG, representando uma queda de 37,7% t/t e alta de 80,4% a/a. Além disso, houve uma despesa de reestruturação de R$ 570 milhões referente a sua rede de agências e passivos contingentes, que fez com que seu lucro líquido contábil ficar em R$ 1,7 bilhão no 4T23, com queda de 63,1% t/t e alta de 18,5% a/a. O banco deu sinais de que deve iniciar um planejamento para voltar a ter o ROE maior do que seu custo de capital em 2026, de forma que acreditamos que não há motivos para comprar suas ações, principalmente levando em consideração que temos bancos competitivos mais baratos.

O Itaú teve um 4T23 sólido e levemente acima das expectativas do mercado. A qualidade dos ativos melhorou, dado que a inadimplência acima de 90 dias caiu 0,5% t/t e atingiu 4,4%. Já a carteira de crédito aumentou, fazendo a margem financeira ser levemente maior que seu portfólio devido a ganhos em operações estruturadas e melhor mix de produtos. Além disso, teve o anúncio de dividendos extraordinários no valor de R$ 11 bilhões, cerca de 60% do lucro anual. Seu lucro líquido somou R$ 9,4 bilhões, representando um aumento de 4% t/t e 23% a/a e um ROE de 21,2% que cresceu 0,1%. Outro ponto de destaque foi a melhora no guidance para 2024, que aponta aumento de 12% no lucro líquido, 4% acima da projeção do BTG.

O Banco do Brasil fechou a temporada de resultados dos bancos com destaque para a rentabilidade. A carteira de crédito do BB subiu 4% t/t e 10,3% a/a com um total de R$ 1,1 trilhão, sendo que R$ 313,1 bilhões são de pessoas físicas. Isso fez a receita decrescida dos custos de captação ter sua maior alta trimestral, de 20,1%. A receita de prestação de serviços somou R$ 8,7 bilhões com leve alta de 3,6% t/t. No 4T23, o ROE foi de 22,5%, valor que superou todos os seus pares. Já o lucro líquido trimestral avançou 4,8%, no valor de R$ 9,4 bilhões, enquanto o lucro recorrente anual subiu 11,4% e marcou o recorde do banco com R$ 35,6 bilhões.

A Klabin apresentou um 4T23 com resultados em linha com o esperado. A sua receita do 4T23 foi de R$ 4,5 bilhões, 11% mais baixa do que no ano anterior, fruto da baixa nos preços de papéis e papelão. A produção total foi de 1,04 milhão de tonelada de celulose, número estável no trimestre e 3% a/a. Já a dívida líquida da empresa caiu 3% t/t, para R$ 20,2 bilhões, deixando a alavancagem sobre o Ebitda em 12 meses estável em 3,2x. Por fim, o lucro líquido foi de R$ 370 milhões, queda de 53% a/a influenciada pela variação do preço da celulose e cenário de câmbio nas exportações.

 Mercados

Na segunda semana de fevereiro, os robustos balanços corporativos impulsionaram as bolsas americanas e os mercados conseguiram performar. No escopo internacional, os principais drivers de preço foram a temporada de resultados corporativos nos Eua, vendas no varejo na zona do euro e inflação na China. No Brasil, o mercado repercutiu a ata do Copom e a inflação ao consumidor amplo de janeiro.

O S&P 500 atingiu 5.000 pontos pela primeira vez, um marco histórico após um acentuado intervalo de crescimento. Desde novembro de 2023, o mercado de ações vem demonstrando uma performance significativa e o S&P 500 registrou ganhos em 14 das últimas 15 semanas. Grande parte desse número deve-se, principalmente, aos sólidos resultados das sete grandes empresas de tecnologia inseridas no índice americano, conhecidas como as “Magnificent Seven”. São elas, Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla. Por mais que o mercado esteja sempre monitorando e precificando o impacto das decisões de política monetária do Fed, as perspectivas para essas empresas de Tecnologia continuam positivas e espera-se aumento de 20% nos lucros em 2024.

O IPCA de janeiro veio acima das expectativas e eliminou por completo as apostas de que os cortes de juros poderiam acelerar para 0,75% no Brasil. Assim, empresas ligadas ao consumo, varejo e crédito apanharam no pregão de quinta-feira. O mercado também demonstrou novos receios fiscais após fala de Lula, que deu a intender que não está preocupado se o Brasil não cumprir déficit fiscal zero esse ano. Nesse contexto, DIs futuros estressaram por toda parte da curva, que elevou a precificação de taxa terminal a 9,5% para 2024.

Dentre o noticiário corporativo, o destaque negativo fica para a Localiza, que recebeu downgrade do Goldman Sachs. O banco rebaixou a locadora de “compra” para neutro e o papel chegou a cair quase 3% no pregão de terça-feira, dia 06/02. Em linhas gerais, o rebaixamento tem a ver com as perspectivas futuras em relação ao mercado de carros usados. Segundo analistas, existe uma incerteza e uma expectativa de deterioração do mercado, com preços de usados em trajetória de queda desde ano passado, ao passo que preços de novos têm se mantido consistentes. Considerando que a companhia compra carros novos e vende usados, espera-se uma maior depreciação e consequente pressão nas margens. Atualmente, a discussão reside no fato de se essas tendências são estruturais ou temporárias. De acordo com os mesmos especialistas, se o movimento se provar estrutural, as locadoras terão que compensar o aumento da depreciação com preços de venda estruturalmente mais altos, resultando em um menor crescimento das companhias. De qualquer forma, vale ressaltar que os ajustes necessários na depreciação no curto prazo já deixarão as margens sob pressão, eliminando alguns catalisadores para o setor em 2024, como por exemplo a queda da Selic.

O dólar ficou praticamente estável contra o real e a curva de juros brasileira apresentou bastante volatilidade durante a semana, com os DIs futuros abrindo em média 11 bps. Mesmo com essa volatilidade, o Ibovespa conseguiu performar e acumulou uma alta de 0,64% nos últimos cinco dias, fechando a semana em 127.997 pontos. Viu-se também um volume majoritariamente comprador no índice, com fluxo estrangeiro positivo no contexto da ata do Copom. Em suma, os mercados emergentes seguem, em parte, dependentes da curva de juros americana e a temporada de balanços nos Eua segue dando suporte as bolsas por lá, que com os dados de emprego e serviços mais recentes, já reprecificaram o início do ciclo de cortes pelo Fed.

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