O senado dos EUA finalmente aprovou o projeto de lei com a suspensão do teto até 2025, evitando o calote. Essa decisão era esperada, já que não era crível que o congresso permitiria que o país desse default intencionalmente. Esse acordo limita os gastos do governo nos próximos dois anos, além de recuperar fundos que não foram utilizados durante a pandemia e expande as demandas de trabalho para programas de ajuda alimentar.
O payroll de maio apresentou uma grande surpresa, com 339 mil vagas criadas, cerca de 73% acima do esperado pelo consenso. Os destaques foram para o setor de serviços, o qual criou 75% das vagas no período. Além disso, a taxa de desemprego ficou um pouco acima das expectativas, em 3,7%, representando uma aceleração em relação ao mês anterior. Vale destacar que a taxa segue com uma volatilidade elevada, de forma que não é possível concluir que há uma tendencia de crescimento no desemprego. Por fim, o ganho médio por hora teve uma aceleração de 0,3% m/m, em linha com o esperado. Com isso, entendemos que o mercado de trabalho está menos apertado do que no ano passado, mas ainda desfavorável tendo em vista a inflação resiliente no país. Apesar de não ser suficiente para o FOMC decidir aumentar a taxa de juros na próxima reunião, os dados suportam esse risco.
O PMI Caixin, indicador de atividade industrial chinesa, cresceu em maio registrando a primeira melhora desde fevereiro. O índice subiu para 50,9 pontos, atingindo o patamar de expansão da economia. O subíndice de produção manufatureira atingiu o nível mais alto desde junho de 2022 e o indicador de novos pedidos teve a segunda leitura mais alta dos últimos 2 anos. Por outro lado, o subíndice de emprego mostrou que o mercado de trabalho está enfraquecido, com a maior taxa de desemprego no setor desde fevereiro de 2020. Em suma, a oferta e a demanda expandiram enquanto o emprego decaiu. Isso pode ser explicado por um aumento nos estoques de matérias-primas e compras, melhora na logística e uma busca por diminuição dos níveis de pessoal e aumento de eficiência.
O CPI da zona do euro registrou um aumento de 6,1% a/a em maio, vindo de um dado de 7% a/a em abril. Esse dado mostra uma desaceleração maior do que o previsto pelo mercado. Se essa tendencia se manter, é possível que o BCE se sinta confortável para encerrar o ciclo de alta de juros. Além disso, a taxa de desemprego do grupo de países recuou em abril, ficando em 6,5% contra os 6,6% do mês anterior.
Brasil
O PIB ajustado sazonalmente do 1T23 apresentou uma aceleração de 1,9% t/t, acima de 1,4% t/t estimado pelo mercado. Dessa forma, o acumulado dos últimos quatro trimestres totaliza um crescimento de 3,3%. Enquanto a taxa de investimento no trimestre ficou abaixo do nível que observamos no mesmo período do ano passado, a taxa de poupança mostrou um aumento. Analisando setorialmente, o setor agropecuário teve um crescimento expressivo, serviços apresentou um aumento mais tímido e a indústria se manteve estável, com leituras mistas entre os grupos. Além disso, no setor externo, tanto as exportações quanto as importações caíram. De maneira geral, o bom desempenho do PIB foi proveniente, principalmente, do agronegócio tendo em vista a supersafra de soja e crescimento de abate bovino. Mesmo assim, temos uma visão cautelosa para os próximos trimestre já que os investimentos caíram e a indústria foi insuficiente.
A taxa de desemprego voltou a cair no trimestre móvel terminado em abril, ficando em 8,5% contra 8,8% referente ao trimestre encerrado em março. Na comparação anual, entretanto, essa taxa subiu 1,6%. Vale ressaltar que a população ocupada sofreu um recuo de 0,6% t/t, porém isso não deve estar relacionado ao mercado de trabalho, tendo em vista que a população na força de trabalho potencial também diminui. Esse dado nos passa uma mensagem de economia aquecida, o que pode gerar pressões inflacionárias.
A produção industrial do Brasil apresentou uma queda de 0,6% a/a em abril. Com esse dado, o acumulado do ano tem uma desaceleração de 1%. A leitura mostrou que 64% dos ramos incluídos na pesquisa apresentaram um recuo produtivo. Os destaques negativos vão para produtos alimentícios, máquinas e equipamentos e veículos automotores. Essa leitura é resultado de um ambiente financeiro apertado e dos efeitos defasados da política monetária, que prejudicam a atividade econômica.
Mercados
Em maio, diversos indicadores e notícias internacionais movimentaram o mercado, como China, teto da dívida dos EUA e aprovação do arcabouço fiscal no brasil. Nessa semana, os mercados se mantiveram majoritariamente positivos, refletindo um otimismo global e a eliminação de um possível risco de calote da dívida por parte dos EUA. No exterior, o PMI de Caixin, Payroll dos EUA e aprovação da negociação do teto da dívida foram os principais drivers de preço. No Brasil, holofotes direcionados ao PIB do 1T23, dados de emprego e produção da indústria.
O PMI Caixin voltou a subir após contração no mês anterior. O número de 50,9 cruza o nível neutro, que separa a contração da atividade da expansão, sinalizando a primeira melhora na saúde do setor desde fevereiro. Com uma visão de recuperação do PMI, vimos o minério de ferro acumular fortes ganhos após constantes quedas anteriores com o órgão regulador chinês intervindo nos preços para evitar especulações. Esse indicador mais forte demonstra uma economia em recuperação e ajuda a estabilizar o sentimento sobre a demanda por minério de ferro, o que impulsionou a cotação da commodity e colaborou com a alta da Vale, que refletiu no Ibovespa.
O payroll dos Estados Unidos surpreendeu o mercado negativamente, vindo muito acima das expectativas. Em linhas gerais, entendemos que o dado veio forte pois ainda existe uma demanda robusta por trabalhadores, o que corrobora com a continuidade do fenômeno de resiliência econômica. Combinando esse fator a sinais mistos do mercado de trabalho, a maioria dos analistas sugerem incerteza sobre a próxima decisão de taxa do FED, mas a probabilidade de cortes tem caído bastante recentemente.
Como já citado no texto da semana passada, a opcionalidade do FED de manter o patamar atual de juros e colher mais dados para tomar uma decisão mais certeira acerca da política monetária em julho está sendo muito considerada. Para julho, vemos mais membros sugerindo uma alta e, independente se vão subir ou não, acreditamos que essa fase final seja mais para ajustar o output final, que é a convergência da inflação para a meta desejada. Caso o comitê eleve a taxa, já veremos isso precificado na curva americana, e, portanto, acreditamos que haverá um impacto mais marginal no mercado.
Suportado por commodities, o Ibovespa performou significativamente, com divulgação de dados econômicos, ruídos políticos internos e conclusão da negociação do debt ceiling (teto da dívida) americano no radar. Sendo assim, o principal índice brasileiro acumulou uma alta de 1,49%, fechando aos 112 mil pontos. O destaque corporativo fica para a CVC, que fechou a semana com uma valorização de 20%. O movimento segue o anúncio da empresa de estar em negociações com potenciais investidores estratégicos para realizar um follow-on de aproximadamente R$300 milhões. Fora isso, a companhia deve anunciar em breve um novo CEO após renúncia do ex-presidente na semana passada.
Resumindo a semana, o dólar caiu e as curvas de juros fecharam. Tivemos um fluxo negativo e volume majoritariamente vendedor no índice, com um movimento de realização de lucros após forte rally. Vemos ainda o mercado americano e brasileiro espelhando suas respectivas espirais inflacionárias, mas já precificando um fim do ciclo altista de juros no final desse ano.
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