Os dados de varejo americano mostraram um avanço de 0,4% a/a em abril contra a expectativa de 0,8% m/m. O núcleo, por outro lado, teve uma surpresa altista, registrando uma alta de 0,7% m/m enquanto o consenso esperava 0,4% m/m. Setorialmente, os destaques altistas foram lojas de departamento, serviços alimentícios e de bebidas e veículos automotores. Do lado da oferta, foi observado uma aceleração de 0,5% m/m na indústria, também acima das expectativas que eram neutras. O crescimento não foi homogêneo entre os setores, com destaque para bens de consumo duráveis. Esses dados corroboram com a ideia de que o Fed pode iniciar a pausa no ciclo de ajuste monetário.
A taxa anual do CPI da zona do euro apresentou leve aceleração em abril, ficando em 7%, mostrando pouca mudança em relação a leitura de março. O dado foi em linha com as expectativas do consenso e, apesar de haver neutralidade, foi possível observar que a inflação de serviços atingiu seu nível recorde, compensado pela desaceleração do núcleo de bens.
Brasil
O volume de serviços de março apresentou um avanço de 0,9% a/a, acima dos 0,5% a/a esperados. Dessa forma, no acumulado do ano houve um aumento de 5,8%. Os setores de serviços profissionais, informação e comunicação e transporte tiveram um aumento de volume, enquanto os serviços prestados às famílias apresentaram queda. Apesar da leitura ter sido acima do esperado, foi possível observar a primeira queda trimestral depois de 16 meses de taxas positivas. De qualquer forma, observamos um setor resiliente tendo em vista o ambiente financeiro restritivo.
As vendas no varejo de março aumentaram 0,8% m/m, representando uma surpresa altista tendo em vista que o mercado esperava uma retração de 0,2% m/m. As categorias de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação foram os principais catalisadores da leitura. Já em relação ao varejo ampliado, o qual inclui veículos, motos, materiais de construção, entre outros, foi a grande surpresa do mês, com uma alta de 3,6% m/m vs. -0,2% m/m do consenso. Essa leitura reflete a recuperação no comércio de veículos e peças. Para o segundo trimestre do ano acreditamos que o setor mantenha sua resiliência, tendo em vista os reajustes no salário mínimo e nos rendimentos dos servidores públicos federais.
A temporada de resultados das empresas brasileiras encerrou nesta segunda-feira. Na comparação anual os resultados do trimestre foram fracos em relação as expectativas dos analistas do BTG. Os resultados das empresas domésticas não tiveram um direcional claro, a receita e o EBITDA cresceram 10,4% a/a e 5% a/a respectivamente, enquanto o lucro líquido caiu 12,7%, o que deve ser explicado por um aumento na taxa de juros em relação ao 1T22. As empresas de alimentos e serviços foram as mais afetadas no período.
A SLC Agrícola apresentou um bom trimestre de colheitas, prejudicado pela tendencia de queda no preço das commodities agrícolas no trimestre. O principal culpado foi o algodão, que teve uma queda de 46% a/a de volumes comercializados com as margens 67% menores na comparação anual. Isso aconteceu por conta da quebra da safra 2021/22. Por outro lado, o lucro bruto unitário da soja expandiu 13% a/a, com preços mais altos nos últimos 12 meses. Dessa forma, o EBITDA ajustado foi de R$ 934 milhões, representando uma queda de 26% a/a e a margem EBITDA ficou em 42,1%, uma queda de 10,2 p.p. a/a mas ainda forte em relação ao histórico. De maneira geral, consideramos uma boa empresa que está sendo prejudicada por um mal momento no mercado de commodities agrícolas.
O resultado da Magazine Luiza do 1T23 mostrou uma continuidade na tendencia de receita fraca. Os números foram mais baixos do que o esperado tendo em vista um cenário desafiador para o mercado de e-commerce brasileiro, que teve uma queda de 14% no período, além de pressões inflacionárias e menor demanda por eletrodomésticos. Apesar disso, o GMV (Gross Merchandise Volume) do e-commerce cresceu 11% a/a, ficando 1% abaixo das expectativas do BTG. A empresa encerrou o trimestre com 281 mil sellers, representando um aumento de 8% t/t. Por fim, o EBITDA ajustado ficou 3,5% abaixo das expectativas, com R$ 448 milhões e um prejuízo líquido ajustado de R$ 309 milhões, 72,9% pior do que o BTG esperava.
O resultado da XP do 1T23 mostrou um lucro líquido de R$ 796 milhões, com alta de 7% a/a e ROE de 19,5%. Como já havia sido antecipado pela administração, esse número foi impactado por perdas relacionadas à Americanas. Ao ajustar esse fator, o lucro líquido recorrente teria sido de R$ 927 milhões, o que representaria uma alta de 8% a/a, ficando bem acima da estimativa do consenso de R$ 721 milhões. Isso se deu principalmente por conta de uma diminuição significativa das despesas gerais e administrativas. Além disso, a receita líquida veio pouco acima das expectativas, mesmo com as adversidades do período, ficando em R$ 3,1 bilhões. Entretanto, os KPIs (Key Performance Indicators) do trimestre foram fracos. O Net New Money sofreu uma queda de 65% a/a e os Assets under Custody (AuC) tiveram um crescimento de 9% a/a, porém 1,4% abaixo das expectativas do BTG. A XP está negociando a múltiplos altos, P/E 2023E = 10,6x, o que implica que ela precisa entregar um crescimento significativo para justificar seu preço.
O Banco do Brasil apresentou um bom resultado referente ao 1T23. O lucro líquido ajustado chegou a R$ 8,55 bilhões, superando o Itaú nesse quesito, com ROE de 20,5%. Tendo em vista que historicamente, por fatores sazonais, o banco costuma ter uma performance pior do que seus pares nos primeiros trimestres do ano, além do lucro líquido anualizado ter ficado pouco acima de R$ 34 bilhões, a probabilidade do BB fechar o ano entregando o topo de seu guidance de lucro líquido anual de R$ 33-37 bilhões aumentou. A carteira de crédito cresceu 16% a/a, acima das expectativas do BTG, catalisado pelo aumento no crédito rural, crédito pessoal não consignado e crédito consignado. Além disso, a margem financeira bruta aumentou 5% t/t e 35% a/a tendo em vista maiores volumes e reavaliação do portfólio. O problema continua sendo a possibilidade de intervenção do novo governo na gestão e planos estratégicos do banco.
Mercados
Nessa semana movimentada, os mercados performaram de forma positiva e refletiram as diferentes perspectivas do cenário macro global. Na esfera internacional, negociações acerca do teto da dívida dos EUA, vendas no varejo americano, inflação ao consumidor na Europa e dados de preços médios de casas novas na China foram os principais headlines. No Brasil, as atenções ficaram voltadas ao fim da temporada de resultados corporativos e a apresentação do novo arcabouço fiscal.
A apresentação do novo plano fiscal foi de certa forma bem recebida pelos investidores. Por mais que existam inúmeras brechas no plano apresentado, o mercado tem construído um olhar positivo sobre o arcabouço. Nesse sentido o mercado pode apresentar uma alta temporária nos ativos de risco. Mas não conseguimos ver nesse momento um movimento de melhora sustentável num prazo mais longo.
O núcleo do indicador de vendas no varejo nos EUA veio acima no consenso, sugerindo que os gastos do consumidor estão se mantendo diante dos ventos econômicos contrários, como inflação e altos custos de crédito. Combinado a um dado de pedido de auxílio desemprego abaixo do esperado, evidencia-se uma economia ainda aquecida. Os recentes discursos de membros do FED sinalizaram um aperto monetário ainda vigente, sem espaço para o início do movimento de redução da fed funds rate. Assim, vemos investidores recalibrando suas apostas, com uma parcela arriscando a extensão do ciclo altista. Nesse sentido, temos observado alguns gestores de fundos multimercados brasileiros montando posições vendidas na bolsa americana.
Em contrapartida com esse tom mais hawkish do FED, a proximidade de um acordo acerca das negociações do teto da dívida, houve um alívio no mercado, que eliminou a hipótese de um possível risco de default técnico.
Com uma inflação resiliente na zona do euro e pedidos de auxílio desemprego na França nos menores patamares vistos em quarenta anos, vemos também o bloco europeu no geral mais aquecido do que o desejado. Isso indica que o aperto monetário ainda não está fazendo efeito por lá e o mercado já precifica mais um aumento de 25 bps na taxa de juros por parte do BCE (Banco Central Europeu).
Em semana de vencimento de opções e volatilidade das principais commodities, como o petróleo e o minério de ferro, o Ibovespa acumulou uma alta de 2,1%, fechando aos 110.744 pontos. O destaque negativo fica para a Petrobras, que aprovou uma nova política de preços para gasolina e diesel. O novo modelo usa referências de mercado como o custo alternativo do cliente como valor a ser priorizado na precificação e o valor marginal para a estatal. Segundo analistas, essa nova estratégia pode causar perdas para a Petrobras resultantes justamente dessa diferença entre os preços internacionais e o praticado no Brasil. O novo modelo aumenta muito a incerteza dos analistas em projetar os resultados futuros da empresa e consequentemente o valor justo da ação.
De forma consolidada, o dólar subiu e as curvas de juros se mantiveram em patamares semelhantes. Teve um fluxo positivo no Ibovespa, com rolagem de opções e realização de posições. No mais, os mercados continuam à deriva do cenário inflacionário global e do ritmo de recuperação das principais economias, precificando constantemente a volatilidade oriunda de temores de recessão.
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