O CPI, índice de preços ao consumidor dos EUA, de abril, avançou 0,37% m/m, praticamente em linha com o consenso. Essa alta foi impulsionada principalmente pela recomposição de energia. O núcleo também veio em linha, em 0,41% m/m, puxada pela retomada dos preços de carros usados. Por outro lado, ao excluir os itens mais voláteis da leitura é possível observar uma desaceleração mais clara. No geral, o índice segue pressionado, tendo em vista que as médias móveis de 3 e 6 meses estão entre 4,5% e 5%, mostrando que a convergência para baixo de 3% esse ano ainda é desafiadora. Acreditamos que esse resultado diminui a probabilidade de cortes na taxa de juros nesse ano.
A inflação ao produtor americana de abril foi de 0,2% m/m, abaixo da variação de 0,3% esperada. Entretanto, essa leitura apresentou uma aceleração em relação ao dado de março, que foi de -0,4%. O destaque vai para o grupo de serviços, o qual apresentou um avanço de 0,3% m/m, catalisado por uma estabilização nos preços do núcleo de serviços e uma pressão no setor de comércio. Para 2023, a redução da pressão nos preços de energia deve fazer com que haja uma desaceleração do índice
Brasil
A ata do Copom divulgada essa semana não mostrou mudanças significativas no tom do comitê. Ainda demonstraram preocupações relativas as expectativas de inflação. A taxa neutra real ganhou destaque no texto, tendo em vista que a estabilização dos núcleos de inflação acima de suas metas e a resiliência da atividade econômica brasileira fazem com que o processo desinflacionaria deva ser mais lento, de forma que a taxa neutra deva ser mais alta, de 4,5%. Além disso, enfatizaram que o arcabouço não tem uma relação mecânica entre sua aprovação e a convergência da inflação, mas os cenários extremos de trajetória da dívida pública reduziram. Por fim, o comitê parece ter sinalizado para o CMN que decisões que induzam à reancoragem das expectativas e elevem a confiança nas metas de inflação devem contribuir no processo desinflacionário, visto que é possível que haja alterações no sistema de metas de inflação em junho. Dessa forma, acreditamos que a taxa de juros deve se manter nos próximos meses, com o ciclo de cortes começando no segundo semestre.
A leitura do IPCA de abril mostrou uma variação de 0,61% m/m, acima dos 0,54% m/m projetados pelo consenso. Mesmo assim, a taxa veio abaixo da registrada no mês anterior. De maneira geral, todos os grupos de produtos e serviços que compõe o índice tiveram alta, com destaque para saúde e cuidados pessoais. Com isso, o IPCA acumula alta de 2,72% no ano. O cenário inflacionário para 2023 ainda é desafiador, apesar de ser possível de observar melhora em alguns componentes como grãos e combustíveis. Vale destacar, entretanto, que os choques inflacionários já foram dissipados e continuamos com um alto índice de preços, esse fator está sendo encarado pelo Banco Central como ponto de cautela.
A produção industrial brasileira cresceu 1,1% m/m em março, acima da expectativa de 0,8% a/a do mercado. Essa leitura registra a primeira alta desde outubro de 2022. Dessa forma, o acumulado do ano segue negativo em -0,4%. Além disso, foi possível observar que 48,5% dos setores apresentaram um crescimento na média móvel dos últimos 12 meses. As atividades ligadas a produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, máquinas e equipamentos e de informática tiveram os maiores avanços no período. O acumulado no ano apresenta estabilidade em relação ao último trimestre de 2022, porém o efeito defasado da política monetária restritiva deve ser sentido com mais intensidade à frente.
O Itaú apresentou mais um resultado forte no 1T23 e em linha com o consenso. O lucro líquido recorrente de R$ 8,44 bilhões, 1% acima das expectativas do BTG e representando uma alta de 15% a/a, com ROE de 20,7%. Mesmo com a sazonalidade negativa no começo do ano o mercado teve uma surpresa positiva, já que o nível de inadimplência ficou estável no trimestre. O principal ponto positivo do banco em relação aos seus pares foi a qualidade de seus ativos. Além disso, os empréstimos subiram 0,7% t/t puxados por empréstimos pessoais, imobiliários e consignados. A margem financeira caiu 14% t/t, tendo em vista menores resultados nas operações de tesouraria. Itaú está negociando a múltiplos atrativos, P/E 2023E = 6,5x e P/BV = 1,2x.
BTG Pactual também divulgou seu resultado essa semana, apresentando recorde de receitas no período. As receitas totais tiveram um crescimento de 10% a/a, com todos os segmentos apresentando uma boa geração de receita, ficando em R$ 4,8 bilhões e em linha com as estimativas. O lucro líquido também não apresentou surpresas e 10% a/a de alta, totalizando R$ 2,3 bilhões e ROE de 20,9%. Ainda, o banco conta com níveis robustos de liquidez, com R$ 61 bilhões de caixa e equivalente. Enquanto isso, o banco apresentou uma maior alavancagem operacional tendo em vista que suas receitas crescem em um ritmo mais acelerado do que as despesas. Consideramos o BTG uma empresa sólida, com espaço para crescimento, principalmente no banco digital.
Santos Brasil mostrou números mais fracos no 1T23, como já antecipado pelo mercado. A receita líquida da empresa apresentou uma variação de -3% a/a, representando R$ 472 milhões. O EBITDA totalizou R$ 153 milhões, 7% abaixo das expectativas do BTG e mostrando uma queda de 15% a/a, fazendo com que a margem EBTIDA caísse 500 bps a/a. Os volumes das operações de cais caíram 14% tendo em vista a queda nas importações de bens de consumo, queda nas exportações de commodities e a menor movimentação do segmento de cabotagem. Mesmo assim, a empresa contínua com caixa líquido, apresentando um índice de dívida líquida/EBITDA = -0,4x. Acreditamos que o desempenho da companhia deve melhorar nos próximos trimestres, com aumento de importações, exportações e operações de cabotagem.
O resultado da Petrobras superou as expectativas do consenso, apesar de um futuro incerto. O EBITDA ajustado da companhia foi sólido, US$ 14,3 bilhões, com uma pequena queda de 1,3% t/t tendo em vista a queda de 16% t/t dos preços do petróleo. A resiliência dos resultados é explicada principalmente pelos baixos custos no período. A alavancagem ficou em 0,58x pouco abaixo em relação ao trimestre anterior tendo em vista a forte geração de caixa de US$ 6,5 bilhões. Além disso, a empresa anunciou dividendos de R$ 1,89/ação, representando um yield 7,4% para PETR4. Apesar desse dividendo expressivo, existem muitas dúvidas sobre a continuidade desse nível de pagamento para frente. A empresa está negociando a múltiplos extremamente baixos, P/E 2023E = 2,9x, mas a postura do atual governo em relação à empresa tem causado uma grande indefinição da direção estratégica futura, o que nos mantém cautelosos em relação à ação.
A Wiz mostrou um resultado sólido no 1T23. A receita da seguradora foi de R$ 212,7 milhões, mostrando um aumento de 32,1% a/a e em linha com as expectativas. O destaque da leitura vai para o segmento de crédito e consórcios, o qual teve um crescimento de receita de 120,1% a/a, catalisado pelo resultado da Unidade Promotiva. Além disso, a consolidação de novas unidades de negócios no segmento de seguros adicionou R$ 10,2 milhões na receita líquida. O EBTIDA ajustado foi cerca de 15% acima do consenso, ficando em R$ 122,3 milhões, o que representa um crescimento de 26,8% a/a, com uma margem EBTIDA ajustada de 57,5%. Por fim, o lucro líquido ajustado de R$ 71,1 milhões também superou o consenso, acelerando 9,2% a/a. Vale ressaltar que as altas despesas financeiras provenientes do aumento da taxa de juros bem como do aumento no saldo do contas a pagar e empréstimos devido às últimas aquisições da empresa impactaram a companhia no período.
Mercados
Nessa segunda semana do mês, os mercados se mantiveram mistos, refletindo os diversos cenários das maiores economias mundiais. No exterior, as atenções ficaram voltadas para a divulgação de dados da economia americana, como o índice de preços ao consumidor (CPI) e a inflação ao produtor (PPI). No Brasil, investidores ficaram de olho nos dados de inflação de abril, resultados corporativos e monitorando notícias de Brasília, como a nomeação de Gabriel Galípolo para a direção do Banco Central.
Conforme divulgado na manhã de quarta-feira, a inflação americana desacelerou pelo décimo mês consecutivo e surpreendeu positivamente. Considerando também a publicação da inflação ao produtor, vemos um patamar no menor nível dentre um intervalo de dois anos. De fato, o núcleo da inflação e o PPI mostraram sinais de desaceleração, sugerindo que o aperto da política monetária do FED pode finalmente estar surtindo efeito. Dessa forma, as bolsas se animaram, considerando que há chances de um corte no ciclo de alta de juros pelo Federal Reserve.
Também tivemos a divulgação do IPCA de abril da economia brasileira. O aumento do indicador na comparação mensal sugere que a segunda etapa de desinflação pode ser mais desafiadora do que a primeira, dada resiliência do setor de alimentos. Apesar de um pequeno progresso no processo de desinflação no Brasil, vemos uma trajetória inflacionária ainda conturbada e o mercado já precifica que os dados atuais são insuficientes para alterar a narrativa do BACEN na próxima reunião.
Vale lembrar que a nomeação de Gabriel Galípolo para a cadeira de política monetária no BACEN gerou bastante volatilidade no começo da semana. O economista, integrante da equipe de transição do governo, tem posições confusas, ao mesmo tempo que defende a parceria público-privada, acredita em conceitos econômicos desenvolvimentistas e critica o teto de gastos. Com a nomeação, vimos o dólar e curvas de juros pressionadas e o real performando como uma das piores moedas dentre as principais divisas globais no começo da semana.
Seguindo a dinâmica do exterior, ruídos internos e continuidade da temporada de balanços das empresas brasileiras, o Ibovespa acumulou uma alta de 3,14%, fechando aos 108.463 pontos. O destaque corporativo da semana fica para o anúncio do pagamento de R$ 24 bilhões em dividendos feito pela Petrobras. Essa decisão foi em linha com a política atual de remuneração aos acionistas, o que animou os investidores na prévia da divulgação dos resultados da companhia e fez o papel subir aproximadamente 3% na manhã da sessão de quarta-feira. Mas o mercado tem sérias dúvidas sobre o plano estratégico futuro da Petrobrás.
Em suma, o dólar caiu e as curvas de juros apresentaram um alívio nos vértices. Mesmo com a volatilidade das commodities, tivemos um fluxo positivo no Ibovespa, com volume comprador ao longo da semana. No geral, os investidores já precificaram o cenário inflacionário corrente e nos EUA, o mercado se mantêm sem direção clara, dada a incerteza que gira em torno de (1) temor de recessão, (2) crise bancária, (3) política monetária e (4) impasse sobre o teto da dívida. Nesse momento confuso, alguns sinais positivos podem impactar positivamente os mercados.
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