Essa semana aconteceu a reunião do FOMC, na qual foi decidido o aumento de mais 25 bps na fed fund rate, em linha com as expectativas do mercado. O anúncio foi acompanhado de um comunicado ainda duro, mostrando preocupação com o risco inflacionário. Entretanto, a incerteza relacionada ao aperto das condições do setor financeiro é o principal ponto de atenção. Ainda, Powell reforçou que a economia tem mostrado um arrefecimento no crescimento e o aperto das condições financeiras devem reduzir o ritmo da economia a frente. Dessa forma, o comitê informou que os próximos passos irão depender dos dados e dos efeitos defasados.
O payroll de abril nos EUA registrou um aumento de 253 mil empregos, acima dos 185 mil esperados pelo consenso. O destaque da leitura está no setor de serviços com 197 mil vagas criadas, representando 78% do total, e os subgrupos de educação, saúde e turismo são 43% da leitura. Ademais, a taxa de desemprego caiu, ficando em 3,4%, abaixo das expectativas, 3,6%. A principal surpresa da leitura foi o indicador de ganho médio por hora que saiu de 0,3% m/m para 0,5% m/m, quando se esperava a estabilidade, de forma que mostra uma pressão de salários. Esses dados corroboram com o cenário de mercado de trabalho apertado. Por mais que o mercado de trabalho esteja tendendo para um equilíbrio entre oferta e demanda, os salários ainda são um ponto de atenção.
Na Europa, o Governing Council do ECB, Banco Central Europeu, anunciou um aumento em 25 bps nas três taxas de juros do grupo econômico, desacelerando o ritmo anterior de 50 bps. Esse movimento já era esperado depois da pesquisa bancária divulgada essa semana. Lagarde apontou que há uma divergência de crescimento na zona do Euro, não só entre regiões, mas também, entre setores. De maneira geral, o juro real seguirá negativo, de forma que a política monetária ainda não seja suficientemente restritiva.
A temporada de resultados continua nos EUA. O resultado da Apple surpreendeu o mercado positivamente, impulsionados por uma maior venda de iPhones do que o esperado, crescendo 2% a/a. As vendas de serviços, o segmento da empresa de maior margem, cresceram 5,45% a/a. Por outro lado, o segmento de Mac e iPad apresentaram uma queda nas receitas de 31% a/a e 13% a/a, respectivamente, o que pode ser parcialmente explicado pela escassez de peças, ficando abaixo das expectativas. Dessa forma, a receita da companhia foi de US$ 94,84 bilhões, contra US$ 92,96 bilhões do consenso, representando uma queda de 3% a/a. Já o lucro líquido caiu a mesma proporção, mas também ficou acima das expectativas em US$ 1,52 por ação enquanto esperava-se US$ 1,43. A empresa continua com a política de não divulgar guidance, mas anunciou uma recompra de ações de US$ 90 bilhões e os dividendos foram aumentados em 4%, ficando em 24 centavos por ação. Gostamos muito da empresa, mas deve sofrer com a desaceleração da economia global. P/E 2024E = 26,5x.
Brasil
A reunião do Copom foi em linha com as expectativas do mercado, com o anúncio da manutenção da taxa básica de juros em 13,75%. No comunicado, reiteraram que, apesar de ser um cenário pouco provável, não hesitarão em retomar o ciclo de alta de juros caso seja necessário para o processo de desinflação. A divulgação do arcabouço fiscal mitigou parte da incerteza proveniente da política fiscal, apesar de ainda haver indefinições no desenho final a ser aprovado pelo congresso. Não enxergamos, entretanto, espaço para começar o ciclo de baixa, porque vemos o mercado de trabalho ainda resiliente, núcleos de inflação elevados, dúvidas sobre o arcabouço fiscal e a existência da discussão de uma mudança no sistema de metas de inflação. Dessa forma, caso esses pontos de atenção não sejam suavizados, acreditamos que a taxa de juros ficará estável até o final do ano.
Mercado Livre mostrou números sólidos referentes ao 1T23. A receita líquida consolidada foi de U$S 3 bilhões, representando um aumento de 35% a/a. O EBITDA veio 13% acima das expectativas e o lucro líquido 15%, ficando em US$ 201 milhões. Isso pode ser explicado por um aumento de 23% a/a no GMV (Gross Merchandise Volume), ficando em US$ 9,4 bilhões e 11% acima das expectativas. O TPV (Total Payment Volume) também teve um aumento significativo de 46% a/a. A logística da companhia desempenha um papel fundamental no aumento de monetização. Os take rates (métrica que mede a receita gerada por uma empresa em relação ao volume de transações ou negociações intermediadas por ela) mais altos, a lucratividade e o desempenho superior em relação aos seus pares mostram que a empresa sustenta um modelo de negócio resiliente. Em termos de múltiplos a empresa apresenta um P/E 2024E = 52,1x, um pouco alto, mesmo considerando uma empresa de alto potencial de crescimento.
A Simpar também divulgou seu resultado essa semana, mostrando números praticamente em linha com as expectativas de mercado. A receita líquida teve um aumento de 64% a/a, representando R$ 7,4 bilhões e o EBITDA chegou a R$ 2 bilhões, representando um aumento de 30% a/a. Por outro lado, o lucro líquido foi de R$ 6 milhões, sendo uma queda de 97% a/a, causado por maiores despesas financeiras e de depreciação. Dentre as empresas da holding, Vamos, JSL, Automob e CS Infra mostraram bons resultados no trimestre, enquanto a Movida apresentou um crescimento mais fraco, já que estão com uma estratégia de diminuição de CAPEX visando a redução do endividamento, além de terem recomprado dívidas mais caras. Apesar de estar um pouco alavancada, consideramos uma boa empresa que está inserida em setores resilientes. Os múltiplos são muito atrativos, negociando com um P/E 2024E = 3,4x.
Bradesco teve um resultado em linha com o consenso, depois dos últimos dois trimestres que surpreenderam negativamente os investidores. Apesar de uma melhora na despesa operacional e do grupo segurador, o banco ainda teve inadimplência de 90 dias alta no período, saindo de 4,3% para 5,1%. O lucro líquido ficou em R$ 4,28 bilhões, estável na comparação trimestral, mas 37% abaixo na comparação anual, e o ROE foi de 10,6%. Esse lucro foi impactado negativamente por uma reversão de provisões, levando a uma queda no índice de cobertura, que saiu de 204% para 182%. Além disso, os ganhos do banco com a gestão de seu balanço e com trading proprietário melhorou, apesar de continuar negativa e os ganhos com crédito e captação subiu 7,3% t/t. O Bradesco Seguros foi o destaque do período, com um lucro líquido de R$ 1,8 bilhão e ROE de 18,2%. O banco negocia a múltiplos atrativos com um P/E 2024E = 5,8x.
A Arezzo apresentou números operacionais acima das expectativas do BTG, catalisados pelo segmento de vestuário, o qual cresceu 36% a/a. As vendas brutas da companhia subiram 23% a/a, totalizando R$ 1,3 bilhão e 3% acima das projeções. Esse resultado positivo foi proporcionado principalmente por AR&CO, Ana Capri, Alexandre Birman, Vans e Carol Bassi. Entretanto, o número de vendas de sapatos e de bolsas caíram 3% a/a e 8% a/a, respectivamente. O lucro bruto da empresa foi de R$ 537 milhões, 3% acima da estimativa do BTG. Pode-se dizer que o consumo de bens não essenciais tem sido impulsionado desde 2021, tendo em vista a demanda reprimida na pandemia. Mesmo com seu desempenho superior aos seus pares nos últimos dois anos, espera-se desaceleração da receita nos próximos trimestres e pressão na rentabilidade proveniente da atividade nos EUA devido ao cenário macroeconômico. A empresa negocia com P/E 2024E = 12,1x.
Mercados
O começo do mês de maio foi agitado para os mercados, que precificaram o cenário futuro e os anúncios das políticas monetárias de algumas das principais economias do mundo. No âmbito internacional, as decisões das trajetórias de juros dos Estados Unidos e Europa foram os principais drivers de preço, além do payroll americano. No Brasil, dada agenda esvaziada de indicadores macro, as atenções ficaram voltadas a decisão do comitê de política monetária (COPOM) e a temporada de resultados corporativos.
Como mencionado acima, o FOMC aumentou a taxa de juros em 25 bps, com a Fed Funds rate caminhado ao intervalo de 5-5,25%. Esse movimento já era esperado pelo fato de vermos núcleos de dados econômicos ainda fortes e uma inflação longe da meta, o que sinaliza uma economia ainda resiliente. O humor do mercado começou a piorar com as declarações de Powell, as quais expressaram uma inflação ainda muito longe da meta de longo prazo e uma difícil luta contra as pressões sobre os preços. Somados esses fatores a um Payroll bem acima das expectativas e que revelou uma menor taxa de desemprego dentre o intervalo de 50 anos, o mercado recalibrou suas apostas um início de redução de juros num prazo mais longo.
Apesar de o COPOM ter mantido a Selic nos patamares atuais, os investidores reagiram ao tom mais brando do comunicado, começando a discutir uma possível redução no segundo semestre. Por mais que comitê tenha declarado que a desancoragem das expectativas de longo prazo da inflação eleva o custo da desinflação necessário para atingir as metas estabelecidas, nota-se um mercado apostando em cortes no segundo semestre do ano, depositando expectativas no arcabouço fiscal e melhora na perspectiva inflacionária.
Diante de um cenário global heterogêneo, com volatilidade de juros e commodities, o Ibovespa acompanhou o exterior, acumulando uma valorização de 0,7%, fechando o pregão de sexta-feira aos 105.148 pontos. Como já especificado acima, um dos destaques corporativos fica para a Apple, que teve um resultado acima do esperado pelo mercado. Com isso, vemos a temporada de resultados das big techs se consolidando como um fator positivo, se contrapondo ao possível risco de recessão nos EUA, proporcionando certo otimismo ao mercado.
Além da Apple, o outro destaque fica para a Braskem, que chegou a subir 41,5% no pregão de hoje, sexta-feira 05/05, mas fechou em alta de 23,1%. Os rumores sobre uma proposta de controle da empresa pela Adnoc, maior companhia de petróleo dos Emirados Árabes Unidos, fizeram o papel disparar, mas a posterior negativa da Novonor (atual controlado da Braskem) acerca da oferta já refletiu na cotação do papel no fechamento.
Resumindo a semana, as curvas de juros fecharam, as bolsas ficaram mistas e o dólar caiu em relação ao real. Entendemos que os bancos centrais devem continuar com políticas monetárias restritivas enquanto não houver sinais de redução da inflação.
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