Essa semana foi divulgada a ata do FOMC, em que foi explicitado que parte do comitê defendeu subir os juros em 25 bps na última reunião. Com isso entendemos que os membros estão divididos na reta final do ciclo de alta de juros. Para o comitê, o mercado de trabalho continua muito apertado e a atividade econômica está mais forte do que previam, de forma que eles não enxerguem sinais evidentes de que a inflação está voltando para a meta de 2%. Mesmo assim, a manutenção da taxa de juros na reunião de junho foi uma estratégia para que os tomadores de decisão tivessem um conjunto de dados mais completo e explicativo na próxima reunião. De qualquer forma, quase todos os dirigentes entendem que seriam apropriados aumentos adicionais ainda em 2023.
Foram criadas 209 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola nos EUA no mês de junho segundo os dados do payroll divulgados pelo Departamento do Trabalho. A leitura foi cerca de 7% abaixo da expectativa do consenso. Além disso, foi reportada uma queda na taxa de desemprego, saindo de 3,7% em maio para 3,6%, ficando em linha com o esperado. Por fim, o ganho médio por hora dos funcionários aumentou 0,4% m/m, fazendo com que o dado acumulado apresente uma alta de 4,4% nos últimos 12 meses. Esses dados mostram que o mercado de trabalho americano segue aquecido, corroborando com a ideia de que o FOMC deve continuar com o ciclo de alta de juros nas próximas reuniões com foco em conter a atividade econômica e, consequentemente, a inflação.
O PMI de serviços da China mostrou um recuo, saindo de 57,1 pontos em maio para 53,9 em junho, segundo a pesquisa feita pelo Caixin Insight Group. Mesmo com a queda, o indicador continua em patamar de expansão, isto é, acima de 50 pontos. As empresas relataram uma demanda de mercado mais fraca do que esperavam e os custos continuaram moderados. Além disso, o PMI composto, que junta os dados de serviços e de indústria, saiu de 55,6 em maio para 52,5.
Brasil
A produção industrial de maio apresentou um crescimento dentro do esperado de 0,3% m/m, segundo o IBGE, após uma retração de 0,6% m/m no mês anterior. Na comparação anual observa-se uma alta de 1,9%. Dessa forma, a indústria brasileira apresenta uma variação acumulada de -0,4% no ano. Vale destacar que o setor continua 1,5% abaixo do nível pré-pandemia. Houve, entretanto, uma boa disseminação entre os ramos industriais, com taxas positivas em 19 de 25 deles. Os destaques positivos foram produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, veículos automotores e máquinas.
Depois de mais de 30 anos com a pauta da Reforma Tributária parada, o texto-base finalmente foi votado e aprovado na Câmara dos Deputados. O segundo turno contou com 375 votos a favor e 113 contrários. Essa aprovação demonstra um avanço para o Brasil. Isso porque o atual sistema tributário é ineficaz na prevenção de guerra fiscal, gera batalhas administrativas e judiciais custosas, onera exportações, inibe o investimento e impõe uma fiscalização onerosa, já que é burocrática e incapaz de combater sonegação e irregularidades. Além disso, ele também é regressivo e incide de forma cumulativa ao longo de toda cadeia produtiva, em forma de cascata. Com a reforma os impostos serão mais uniformes entre os estados do país e menos burocráticos. A reforma tributária é um tema bastante complexo e até passar pelo Senado ainda pode sofrer alterações. Existem críticas sobre alguns pontos da reforma, mas consideramos que era necessário haver um avanço nessa área e monitoraremos os próximos passos para entendermos melhor todos os impactos.
Mercados
Na primeira semana de julho, os mercados performaram de forma mista, repercutindo dados econômicos e a continuidade das discussões acerca de suas respectivas políticas monetárias. Na esfera internacional, PPI da zona do Euro, PMI de serviços de junho da China, Payroll dos EUA e ata do FOMC foram as principais manchetes. No Brasil, investidores de olho nos bastidores políticos e aprovação da reforma tributária na câmara.
A Câmara dos Deputados conseguiu avançar na reformulação do sistema tributário brasileiro ao aprovar o texto-base da reforma tributária. Por mais que o texto ainda tenha que ser aprovado pelo Senado, o mercado repercutiu de forma positiva esse avanço da proposta, com o Ibovespa fechando o pregão de sexta-feira no campo positivo e o real ganhando força em relação ao dólar.
O mercado absorveu gradualmente os dados mistos do Payroll americano. No macro, o dado elimina o risco de uma surpresa muito positiva em termos de mais empregos sendo gerados, que por sua vez, tenderia a potencializar o risco ou a percepção do mercado acerca de mais aumentos de juros. Na margem, os números de empregos foram um pouco menores do que o esperado, mas os salários seguem pressionados, o que é um risco para a inflação. Nesse contexto, vemos um FED praticamente em consenso para a próxima reunião de que há necessidade de mais altas de juros ainda nesse ano.
O dado de serviços de junho da China veio bem abaixo do que os analistas esperavam. O setor de serviços é uma importante engrenagem de crescimento do país e um dado fraco sinaliza uma desaceleração desse desenvolvimento. Recentemente, vemos não só o setor de serviços, mas todos os setores da economia chinesa com certa dificuldade de apresentar um crescimento constante. A China é um motor importante de expansão da economia global, de demanda por commodities e um pace de recuperação pós-covid mais lento do que todas as expectativas, acaba pesando negativamente nos mercados mundiais.
Com uma volatilidade recorrente e âmbito político movimentado, o Ibovespa acumulou uma alta de 0,68%, fechando a primeira semana do mês aos 118.897 pontos. O destaque corporativo fica para a MRV, que anunciou uma oferta de ações para captar R$1 bilhão. O comunicado repercutiu positivamente no mercado, considerando que o recurso levantado reforçaria a posição de caixa da empresa e reduziria a alavancagem atual. Fora isso, a empresa apresentou dados operacionais robustos no segundo trimestre de 2023, com um aumento de vendas de 48% em relação ao ano anterior e um consumo de caixa de R$ 149 mm. A MRV deve continuar a incrementar suas margens e as novas atualizações do “Minha Casa, Minha Vida” podem representar um fator positivo para a empresa seguir melhorando preços e volume. De qualquer forma, mesmo com uma perspectiva positiva baseada em uma tendência altista de preços, preferimos empresas com valuations mais atrativos, como é o caso de Cury e Plano & Plano.
Em suma, vimos uma depreciação do real em relação ao dólar, um alívio dos vencimentos mais curtos e um estresse nos vértices mais longos da curva de juros brasileira. Tivemos um fluxo estrangeiro positivo e volume misto no índice durante a semana. No geral, os mercados caminham para diferentes direções, em que no Brasil já se vê uma reprecificação dos ativos baseada no afrouxamento da política monetária enquanto nos Estados Unidos, o cenário ainda é de uma política restritiva à frente.
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