O PCE, índice de inflação ao consumidor, dos EUA apresentou uma alta de 0,13% m/m, pouco acima dos 0,09% m/m esperados pelo consenso. Porém o núcleo foi abaixo das expectativas de 0,36% m/m, com um crescimento de 0,31% m/m. Na análise setorial os resultados foram mistos, os destaques inflacionários foram para bens duráveis e serviços, enquanto bens não duráveis e energia registraram forte deflação. Ainda, o supercore, nome dado ao núcleo de serviços ex-habitacional, uma das principais métricas de inflação para o Fed nesse momento, saiu de 0,42% para 0,23% m/m. Com essa leitura, entendemos que o deflator do núcleo está com médias móveis anualizadas ainda altas e a expectativa de convergência da inflação para a meta está em 2025. Os dados corroboram com a ideia de que ainda aconteça mais duas altas na taxa de juros americana, não tendo espaço para cortes esse ano.
A terceira estimativa do PIB americano mostrou um crescimento de 2% no 1T23, ficando acima dos 1,4% esperado pelo consenso. Essa alta pode ser explicada principalmente pelas revisões para cima nas exportações e nos gastos do consumidor, as importações, que são uma subtração no cálculo do PIB, foram revisadas para baixo. Jerome Powell comentou em um seminário em Portugal sobre o crescimento da economia acima do esperado, com mercado de trabalho apertado e inflação resiliente, o que explica o porquê das autoridades do Fed estarem planejando mais aumentos na taxa de juros.
O PMI de manufatura, índice dos gerentes de compras, da China mostrou uma aceleração em junho, saindo de 48,8 pontos para 49 e ficando em linha com as expectativas. O setor, entretanto, permanece em níveis de contração, ou seja, abaixo de 50 pontos, pelo terceiro mês consecutivo. Já o PMI não-manufatureiro, que reflete as atividades do setor serviços e de construção, caiu para 53,2 pontos em junho contra 54,5 pontos em maio.
Brasil
A ata do Copom indicou uma divergência entre os membros do comitê em relação aos próximos passos da política monetárias. Enquanto a maioria acredita que a continuação do processo desinflacionário em curso pode permitir o acúmulo de confiança necessária para iniciar o processo de corte da taxa básica de juros na próxima reunião, existe um grupo que está mais cauteloso que acredita que a dinâmica desinflacionaria está relacionada com itens mais voláteis, com incertezas do real impacto do aperto monetário implementado. Entretanto, o comitê concorda de forma unanime que as próximas etapas da política monetária dependem da evolução da dinâmica inflacionária. O comunicado foi repleto de palavras como “cautela”, “parcimônia”, “paciência” e “serenidade”. Dessa forma, acreditamos que o ciclo de corte de juros comece em agosto com um primeiro movimento de 25 bps.
O IPCA-15 de junho registrou uma aceleração de 0,04% m/m, superior aos 0,02% m/m do consenso. Seis dos novos grupos incluídos na pesquisa apresentaram aceleração, com destaque para habitação que contribuiu com 0,14 p.p. para o índice no período. De maneira geral, a composição do índice está marginalmente pior, com o núcleo registrando um aumento de 0,34% m/m, pouco acima dos 0,30% m/m esperado pelo mercado. O aumento maior do que o esperado de serviços subjacentes e a queda menor do que previsto para produtos industriais contribuíram para essa leitura. Por outro lado, a difusão do indicador está em seu menor patamar dos últimos três anos, ficando em 50,68%. Essa leitura confirma que estamos passando por um momento crítico da trajetória de inflação, mostrando que a evolução de preços ainda é incerta.
Foram criados 155.270 postos de trabalho formais no Brasil no mês de maio, segundo o Caged, ficando 44% abaixo do mês anterior. A leitura ficou abaixo das 194.341 vagas estimadas pelo consenso Refinitiv. Todos os setores da economia e todas as regiões do Brasil tiveram um saldo positivo no período. Dessa forma, acumulamos no ano o total de 865.360 novos empregos no ano.
CMN fixou a meta de inflação em 3% para 2026, com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Essa definição contribui para a reancoragem das expectativas de inflação e para a queda da incerteza. Além disso, foi definido que a partir de 2025 seguiremos o sistema de metas contínuas, ou seja, não será mais limitada ao período de um ano calendário. Dessa forma, o controle da inflação pode ser feito de maneira mais adequada dependendo do momento da economia.
Mercados
Nessa semana de fechamento do semestre, os mercados performaram de forma mista, refletindo a continuidade das divergentes conduções das políticas monetárias vigentes nas maiores economias do mundo. No contexto internacional, destaque para PMI da China, CPI Zona do Euro e dados americanos, como PIB e índice de preços para gastos de consumo pessoal (PCE). No Brasil, atenções voltadas a ata do Copom, IPCA-15 de junho dados de emprego e meta de inflação do Conselho Monetário Nacional.
O Goldman Sachs afirmou em relatório que a desaceleração da inflação cheia e da média dos núcleos no IPCA-15 de junho favorece a expectativa de redução da taxa Selic em 0,25 pp na reunião do Copom em agosto. O real mais forte, os preços de commodities contidos, os preços de alimentos menores, a deflação no atacado, a leve melhora das expectativas de inflação e a inflação corrente baixa/moderada são fatores que devem apoiar uma virada da política monetária no curto prazo.
A decisão da meta de inflação pelo CMN também foi um ponto importante e veio em linha com o que o mercado estava posicionado. Nesse ínterim, vimos a curva ampliar a precificação para 32 pontos de queda na próxima reunião do BC dada eliminação do risco de uma desancoragem inflacionária nos próximos anos.
As bolsas de NY dispararam hoje após dado do PCE ter vindo mais suave. Mesmo assim, o último comunicado publicado passou uma visão mais dura acerca da convergência inflacionária, sinalizando possíveis apertos adicionais à frente.
Com volatilidade e ainda espelhando o movimento de realização de lucros visto no começo da semana, o Ibovespa acumulou uma queda de 0,75%, fechando aos 118.087 pontos. O destaque fica para as aéreas, como Gol, Embraer e Azul. Por mais que a Embraer tenha apresentado menos pedidos que os concorrentes no Paris Air Show, vemos uma abordagem mais rígida de preços a fim de solidificar margens, o que é positivo. Segundo um relatório do BTG, por mais que o primeiro trimestre tenha sido fraco, as perspectivas para os próximos são bem otimistas, com uma expectativa de melhora da sazonalidade e amenização dos problemas da cadeia de suprimentos. Já Azul e Gol, a descompressão da curva de juros futura alivia a perspectiva das companhias, que possuem robustas despesas financeiras. Fora isso, a queda do preço do barril de petróleo e isenções fiscais também colaboraram com o otimismo visto.
Na última semana do semestre, o dólar ficou praticamente de lado, a curva futura de juros brasileira cedeu aproximadamente 20 bps e tivemos um fluxo misto no IBOV, com volume majoritariamente vendedor. Em suma, podemos dizer que essa primeira parte do ano foi marcada pela volatilidade das commodities oriunda de uma recuperação chinesa turbulenta e descompressão de risco doméstico com fiscal mais claro e política monetária firme. Com isso, vimos a curva de juros precificar esse cenário e apresentar um alívio médio de 190 bps desde o começo do ano, além de uma apreciação do real em relação ao dólar e um salto de 11% do Ibovespa.
Nos EUA, por mais que o aperto monetário ainda seja algo ainda em pauta para o futuro, as bolsas fecharam o semestre no positivo, principalmente pelo rally das big techs resultante da tecnologia de inteligência artificial.
No geral, nesses primeiros seis meses de 2023, os mercados precificaram de certa forma uma melhora da perspectiva global, que se espelhou em menores prêmios de risco.
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