A reunião do FOMC essa semana confirmou a expectativa do consenso, uma pausa estratégica no ciclo de alta de juros nos EUA, permanecendo ente 5% - 5,25%. De maneira geral, o comunicado mostrou que o comitê ainda está apreensivo em relação ao risco inflacionário, sinalizando a necessidade de mais dois aumentos na fed funds rate a frente. Powell afirmou que essa pausa de quase 3 meses fará com que o comitê consiga analisar dados acumulados e trazer uma decisão mais assertiva em julho. Além disso, o presidente do Fed voltou a afirmar que não há espaço para cortes nas taxas de juros esse ano.
O CPI, índice de inflação ao consumidor dos EUA, de maio teve um avanço de 0,12% m/m, em linha com o consenso de mercado. Essa leitura representa uma forte perda de ímpeto do índice, tendo em vista que a leitura de abril foi de 0,4% m/m. Isso pode ser explicado principalmente pela deflação de energia no período, que sofre influência de fatores sazonais. Entretanto, o núcleo ficou 10% acima da expectativa, com uma leitura de 0,44% m/m, reflexo de uma maior pressão no núcleo de bens. O destaque da leitura do núcleo foi para os preços de carros usados que vieram acima do esperado. Esses dados corroboram com a ideia de que a inflação seguirá elevada no segundo semestre desse ano.
A inflação ao produtor americana, PPI, teve uma leitura abaixo das expectativas, -0,3% m/m em maio, vs. -0,1% esperado pelo consenso. Desde fevereiro observamos esse indicador apresentando surpresas baixistas, mostrando uma tendência de queda nos preços ao produtor. Na análise setorial, o destaque vai para a deflação de bens, energia e alimentos. Vale ressaltar, entretanto, que o grupo de serviços apresentou um avanço de 0,2% m/m, sendo um ponto de atenção para o cenário inflacionário dos EUA. Esse dado junto ao CPI mostram um ambiente ainda desafiador para a dinâmicas de preços no curto prazo. Apesar da reunião do FOMC ter optado por manter a taxa de juros no mesmo patamar, esse dado dá suporte para um posicionamento hawkish, de forma que ainda possa haver altas nos próximos meses.
O varejo americano teve uma aceleração de 0,3% m/m em maio, acima do esperado. Os destaques da leitura vão para veículos automotores, lojas de departamento e alimentação. O carrego do varejo no 2T23 está em -3,4% t/t anualizado em termos reais. Já no lado da oferta, a produção industrial teve uma leitura mais fraca do que o estimado de -0,2% m/m. O destaque vai para a queda dos níveis de utilização da capacidade instalada. Mesmo com a leitura negativa desse mês, o carrego ainda está em 2% t/t anualizado.
A reunião do Banco Central Europeu deu destaque para a alta inflação na zona do euro, com aumento nas taxas de juros. Em linha com as expectativas do mercado, o aumento foi de 25 bps nas três taxas de juros mais importantes da Europa. A inflação está sendo afetada principalmente pela estagnação da produtividade frente ao aumento do salário nominal europeu. O ECB se mostrou bastante hawkish, e sua política monetária deve continuar restritiva, considerando o patamar baixo do juro real.
Brasil
As vendas no varejo de abril tiveram uma variação de 0,1% m/m contra 0,2% m/m esperado pelo consenso. O varejo ampliado, ou seja, aquele que inclui veículos, motos, materiais de construção etc. foi o destaque da leitura, com uma contração menor do que o esperado pelo mercado (-1,6% m/m vs. -2,2% m/m do consenso). A queda pode ser explicada pela forte base de comparação da expansão de março, além de uma queda em vendas de veículos e materiais de construção. O alto nível das taxas de juros faz com que o setor varejista enfrente desafios, enquanto os reajustes no salário-mínimo e nos rendimentos dos servidores públicos federais podem dissipar os efeitos da política monetária restritiva, fazendo com que o setor se mantenha resiliente no trimestre.
O volume de serviços de abril apresentou uma queda de -1,6% m/m, bem abaixo das expectativas. Esse resultado reforça a visão de desaceleração da economia tendo em vista as condições financeiras apertadas e o efeito restritivo da política monetária. Mesmo assim, o acumulado do ano apresenta um crescimento de 4,8% e o setor está 10,5% acima do nível pré-pandemia.
O IBC-Br, índice utilizado como proxy do PIB, teve uma aceleração de 0,56% m/m em abril contra 0,2% m/m do consenso. Já na comparação anual, o indicador de atividade econômica subiu 3,31%. Esse dado sugere que a economia brasileira ainda está crescendo acima do esperado no 2T23. Explicado por alguns fatores como o bom momento da agropecuária no país e a taxa de desemprego nos menores patamares desde 2015.
Mercados
Nessa semana agitada, os mercados operaram no campo positivo, dando continuidade ao movimento global otimista visto nas últimas semanas. Na esfera internacional, a ata do FOMC, inflação ao consumidor/produtor dos EUA, ata do Banco Central Europeu e pacote de estímulos a economia anunciado pela China foram os principais drivers de preço. No mercado doméstico, investidores monitorando dados da economia e a proxy do PIB.
Como já era esperado, o FED manteve a taxa de juros inalterada na reunião de quarta-feira a fim de colher mais dados e tomar uma decisão mais assertiva em julho. O consenso entre os analistas é que, apesar de alguma melhora, a inflação permanece alta o suficiente para justificar a cautela do Fed, que no comunicado foi duro e sinalizou que pode haver mais aperto caso necessário e que não existe espaço para cortes da taxa nesse ano. Com isso, vimos a curva futura precificar um salto na probabilidade implícita de aumento da taxa na próxima reunião de 25% para 75%, o que balançou o mercado.
A China anunciou um pacote de medidas para dar estímulos à uma economia que apresenta dificuldades de crescimento constante. Conforme a Bloomberg, o banco central chinês cortou na terça-feira, inesperadamente, uma série de diferentes taxas de juros, preparando o terreno para a redução da principal taxa de empréstimo e contribuindo para expectativas de mais flexibilização. Além disso, o governo está considerando um amplo pacote de propostas que incluem o suporte a diferentes setores da economia, como por exemplo o mercado imobiliário. Assim, temos uma maior expectativa de demanda da economia, que reflete nas cotações das principais commodities e faz preço nos mercados ao redor do globo.
Em semana de otimismo chinês e vencimento de opções sobre o índice na B3, o Ibovespa engatou a oitava semana seguida de alta e acumulou uma valorização de 1,48%, fechando aos 118.758 pontos. O destaque corporativo fica para a Braskem, que recebeu uma proposta atrativa da Unipar para adquirir a fatia da Novonor (controladora) na petroquímica. No geral, esse possível deal chama atenção dado que não é uma tarefa fácil, a começar pela compra das ações. Segundo a Exame, hoje em dia as ações da Braskem estão em posse de cinco bancos em alienação fiduciária, isso sem falar nas conversas com outros bidders e demandas de acionistas minoritários. De qualquer modo, o BTG reiterou a recomendação de compra para o papel e avaliou que a proposta da Unipar é mais atrativa do que a feita pelo consórcio formado por Apollo e Adnoc.
Em geral, o dólar perdeu força e vimos mais um alívio nos vencimentos futuros da curva de juros. Tivemos um fluxo positivo no índice, com volume majoritariamente comprador e um ensaio de realização de lucros no último pregão da semana após um intervalo de cinco dias positivo. Os mercados começam a digerir os estímulos na economia chinesa e passam a desenhar um possível cenário que descarta uma probabilidade de recessão global.
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