10/05/23

Análise da Semana - 24 a 28 de Abril de 2023

Os investidores americanos parecem estar sendo menos influenciados pelos resultados das empresas no primeiro trimestre, mesmo para empresas que apresentaram resultados bem acima do esperado. Uma das explicações pode ser que o mercado esteja considerando a bolsa americana pouco atrativa, negociando a 18x P/E forward. Quando pensamos no earnings yield, que é o inverso do P/E, chegamos em 5,6%, o que não é muito distante do atual nível de juros nos EUA. Nesse contexto, a renda fixa está mais atrativa em relação às ações, considerando a relação risco/retorno. A questão da recessão econômica ainda é um temor em relação à economia americana. Se consideramos a possibilidade de uma desaceleração econômica, o atual P/E em torno de 18x pode piorar para 20x, reduzindo ainda mais a atratividade do mercado acionário.

 Continuamos na temporada de divulgação de resultados nos EUA. O último trimestre da Microsoft surpreendeu positivamente o mercado. A Azure, plataforma em rede da empresa, teve um aumento de 31% de receita, mais do que se esperava, e teve influência importante nos resultados. A receita da Microsoft foi de US$ 52,9 bilhões, alta de 7% a.a. e acima do consenso de Wall Street, que era de US$51 bilhões. Outro ponto de destaque foi o setor de personal computing, que bateu recorde de vendas e alcançou US$ 13,3 bilhões em faturamento.

A Meta, dona do Facebook, também superou as expectativas e mostrou números bons no 1T23, com aumento inesperado nas receitas e elevação dos seus guidances para o ano. A empresa mostrou boa gestão de custos, focando em otimizar margens por meio de demissões (cerca de 21.000 cortes de empregos anunciados) e outros ajustes. Sua receita foi de US$ 28,65 bilhões, US$ 1 bilhão acima do esperado pela Refinitiv e 3% maior do que a receita do 1T22. O lucro por ação foi de US$ 2,20 vs. US$ 2,02 esperados. A Meta possui um valor de mercado de aproximadamente US$ 537 bilhões, P/E de 24,4x e no ano as suas ações sobem cerca de 67%.

 Alphabet mostrou demonstrativos sólidos referentes ao 1T23. A receita aumentou 3% comparada ao 1T22, alcançando US$ 69,8 bilhões, sendo 90% oriundo de anúncios. Já o lucro líquido da empresa foi de US$ 15 bilhões, com queda de 8% a.a.. Números não foram extraordinários, mas vieram melhores que o esperado pelo mercado. A receita de anúncios do YouTube ficou em linha com as expectativas dos analistas, mas caiu em relação ao ano anterior. No seu segmento Cloud observou-se um crescimento de 28%, levemente abaixo do esperado, mas mostrando importante evolução. Ponto relevante é que o Google está finalmente gerando lucro em seu negócio e computação em nuvem. A unidade gerou lucro operacional de US$ 191 milhões no trimestre, após um prejuízo de US$ 706 milhões no ano anterior. Olhando para frente a empresa trouxe updates importantes no seu braço de inteligência artificial e sua busca de integração deste com sua plataforma de busca. A Alphabet possui um valor de mercado de cerca de US$ 1.330 trilhões, P/E de 23,0 e no ano suas ações sobem em torno de 18%.

A primeira leitura do PIB dos EUA mostrou uma desaceleração no 1T23, com o indicador subindo a uma taxa anualizada de 1,1%, contra 2,0% esperados pelo mercado. Na direção contrária, as despesas domésticas privadas, com foco na demanda interna, aceleraram de 0,0% para 2,9% t/t. A título de curiosidade, essa foi a principal métrica citada pelo Fed em janeiro após a divulgação do PIB do 4T22, sendo a mais acompanhada para medir a velocidade da economia. A aceleração no consumo americano, passando de 1,0% para 3,7% t/t, mesmo que abaixo das expectativas, 4,0%, foi diferente dos números do BTG, especialmente pelo mês de janeiro, enquanto fevereiro e março mostraram acomodação. Apesar dos dados do PIB terem vindo abaixo, outros dados que compõe o indicador vieram acima, tornando a análise mais complexa do que uma simples leitura do número.

Houve a divulgação do PCE americano, um dos principais termômetros de consumo e o índice inflacionário preferido do banco central dos EUA para decidir a trajetória da taxa de juros. Comparando anualmente, o PCE subiu 4,20%, acima do consenso de 4,10%. Porém, segundo analistas, o deflator do PCE tem médias móveis anualizadas acima de 4% e com expectativa de convergência para a meta apenas em 2025. Dessa forma, nota-se uma economia ainda muito resiliente com forte dinâmica de consumo e renda, o que sustenta a expectativa para mais um aumento de 25 bps na taxa de juros por parte do FOMC na próxima semana.

A Argentina aumentou sua taxa básica de juros para o patamar mais alto em cinco anos. O Banco Central da República Argentina (BCRA) aumentou a sua taxa de juros nominal das Letras de Liquidez (Leliq, o juro básico do país) em 10 pontos percentuais, de 81% para 91%. A decisão ocorre após a inflação ao consumidor da Argentina saltar 104,3% em março, na comparação anual. A medida ocorre em meio à desvalorização do peso nos mercados paralelos, o que fomenta a sensação de crise no país. O Banco Central afirmou que a decisão tem como objetivo buscar retornos positivos reais sobre investimentos em moeda local e preservar a estabilidade monetária e financeira. Esse é o maior aumento de juros nos três anos e meio do governo e vale ressaltar que diferentemente do Brasil, o Banco Central Argentino não é independente e é chefiado por um aliado do governo.

Brasil

O IPCA-15 de abril apresentou uma leitura levemente abaixo das expectativas, sendo 0,57% contra 0,61% m/m. Na comparação anual, teve alta de 4,16% ante 4,20% estimados e arrefecendo em relação ao último dado de 5,36%. Transportes foi responsável pela maior variação, 1,44%, contribuindo com 0,29 p.p. para o índice. Segundo o BTG, eles estimam que o balanço de riscos apresenta um cenário de maior dificuldade para a desaceleração da média dos núcleos no curto prazo e maior resiliência inflacionária no segmento de serviços.

 O Ministério do Trabalho e Emprego divulgou o CAGED e relatou geração de mais de 195 mil empregos formais em março. O total de contratações foi de 2.168 mil, subtraindo o total de 1.973 mil demissões de empregados com carteira assinada no período. O indicador superou as expectativas dos investidores, subindo 97,6% em relação a março de 2022, que contou com 98.786 mil. O saldo de contratações foi positivo em todas as regiões do Brasil, com o Sudeste na liderança com 113.374 novos empregos.

 A Vale abriu 2023 com demonstrativos abaixo da média de seus concorrentes australianos, influenciado pelo fraco número de vendas. A empresa apresentou um EBITDA de US$ 3,7 bilhões, e receita líquida de 8,4 bilhões, com volume de minério abaixo do esperado, e desempenho de custos 9% acima da previsão do BTG. A produção de minério de ferro aumentou 5,8% a.a., mas seu volume de vendas a.a. caiu 10,6%. Ademais, o fluxo de caixa foi favorável, no valor de US$ 2,3 bilhões, impulsionado pela liberação no capital de giro. O guidance da empresa continua o mesmo, e podemos esperar uma leve melhora nos resultados dos próximos trimestres.

 As demonstrações da 3R Petroleum referentes ao 1T23 foram em linha com o esperado. Houve um crescimento de 35% t/t na produção nesse primeiro trimestre, acompanhado de R$ 156 milhões de EBITDA, que cresceu 38% t/t e 2% acima da expectativa do BTG. A queda das margens pode ser explicada pelos custos de extração de US$ 23/bbl, com aumento de US$ 5,4/bbl t/t causado pela transição de poços recém adquiridos. Porém, as despesas com D&A prejudicaram o lucro líquido, que foi de R$ 16 milhões, bem abaixo das expectativas do mercado. Potiguar e Peroá foram destaques positivos da empresa, com margem EBITDA de 52% e 68%, respectivamente.   

A Movida apresentou resultados fracos no 1T23, mas levemente acima das expectativas baixas do mercado. A receita líquida foi de R$ 2,7 bilhões, crescimento de 42% a.a., e o EBITDA somou R$ 875 milhões, cerca de 9% acima do esperado pelo BTG. Já o lucro líquido foi de R$ 21 milhões, acima da expectativa de prejuízo vinda do mercado. De modo geral, as demonstrações operacionais da empresa mostram a postura de redução de gastos e melhor gestão do passivo, mas a estrutura de dívida ainda está em processo de reestruturação.

Mercados

Nessa semana os mercados se mantiveram mistos, em compasso de espera em função das decisões de juros no Estados Unidos e Brasil que teremos semana que vem, refletindo a temporada de balanços americana e a divulgação de dados das economias globais. No âmbito internacional, o PIB dos EUA, o índice de consumo de despesas pessoais e os resultados de importantes big techs foram os principais headlines. No âmbito doméstico, atenções voltadas ao IPCA-15 de abril e criação de vagas de trabalho na economia brasileira.

Ao olharmos para o PCE, comparando anualmente, observou-se um dado levemente acima das expectativas. Junto disso, alguns analistas esperam que a convergência do deflator do índice seja apenas em 2025, algo que implica em juros ainda elevados para conter a inflação, com impacto direto nos ativos reais. Ainda tivemos a divulgação do PIB americano, vindo abaixo das expectativas. Assim, enxergamos investidores e um mercado muito mais cauteloso, pois a economia americana começou a desacelerar mais do que a pressão inflacionária enfraqueceu.

Como já dito, mesmo com o IPCA-15 levemente abaixo das expectativas, vimos alta no eixo de serviços, sinalizando um núcleo ainda robusto. Alinhado esse fator aos números do CAGED de março, achamos improvável que o BACEN inicie o ciclo de corte de juros na semana que vem e, portanto, esperamos que a Selic se mantenha nos patamares atuais (13,75%).

Combinado o cenário macro desafiador com a volatilidade das commodities, o Ibovespa se manteve praticamente estável (+0,06%), fechando aos 104.431 pontos. Dentre os destaques corporativos, o resultado da 3R Petroleum animou os investidores e o papel subiu aproximadamente 15% na semana. A petroleira reportou um lucro líquido de R$16,1 milhões no 1T23, revertendo o prejuízo registrado no mesmo período do ano passado. No geral, analistas esperam números melhores no 2T23 quando Macau e Papa Terra já estiver perto do potencial e Potiguar completamente integrado ao portfólio da companhia.

Resumidamente, o dólar subiu com maior aversão ao risco e expectativa de juros ainda elevados, curvas de juros no brasil fecharam e tivemos volume majoritariamente vendedor no Ibovespa. De modo geral, os mercados devolveram parte do ganho acumulado no começo da semana com dados que mostraram resiliência econômica e pressões inflacionárias persistentes. No mundo emergente, as condições financeiras melhoraram desde o ápice da crise bancária, mas continuam muito apertadas, o que também pesa diretamente na expansão de crédito.

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