Os investidores americanos parecem estar sendo menos influenciados pelos resultados das empresas no primeiro trimestre, mesmo para empresas que apresentaram resultados bem acima do esperado. Uma das explicações pode ser que o mercado esteja considerando a bolsa americana pouco atrativa, negociando a 18x P/E forward. Quando pensamos no earnings yield, que é o inverso do P/E, chegamos em 5,6%, o que não é muito distante do atual nível de juros nos EUA. Nesse contexto, a renda fixa está mais atrativa em relação às ações, considerando a relação risco/retorno. A questão da recessão econômica ainda é um temor em relação à economia americana. Se consideramos a possibilidade de uma desaceleração econômica, o atual P/E em torno de 18x pode piorar para 20x, reduzindo ainda mais a atratividade do mercado acionário.
Continuamos na temporada de divulgação de resultados nos EUA. O último trimestre da Microsoft surpreendeu positivamente o mercado. A Azure, plataforma em rede da empresa, teve um aumento de 31% de receita, mais do que se esperava, e teve influência importante nos resultados. A receita da Microsoft foi de US$ 52,9 bilhões, alta de 7% a.a. e acima do consenso de Wall Street, que era de US$51 bilhões. Outro ponto de destaque foi o setor de personal computing, que bateu recorde de vendas e alcançou US$ 13,3 bilhões em faturamento.
A Meta, dona do Facebook, também superou as expectativas e mostrou números bons no 1T23, com aumento inesperado nas receitas e elevação dos seus guidances para o ano. A empresa mostrou boa gestão de custos, focando em otimizar margens por meio de demissões (cerca de 21.000 cortes de empregos anunciados) e outros ajustes. Sua receita foi de US$ 28,65 bilhões, US$ 1 bilhão acima do esperado pela Refinitiv e 3% maior do que a receita do 1T22. O lucro por ação foi de US$ 2,20 vs. US$ 2,02 esperados. A Meta possui um valor de mercado de aproximadamente US$ 537 bilhões, P/E de 24,4x e no ano as suas ações sobem cerca de 67%.
Alphabet mostrou demonstrativos sólidos referentes ao 1T23. A receita aumentou 3% comparada ao 1T22, alcançando US$ 69,8 bilhões, sendo 90% oriundo de anúncios. Já o lucro líquido da empresa foi de US$ 15 bilhões, com queda de 8% a.a.. Números não foram extraordinários, mas vieram melhores que o esperado pelo mercado. A receita de anúncios do YouTube ficou em linha com as expectativas dos analistas, mas caiu em relação ao ano anterior. No seu segmento Cloud observou-se um crescimento de 28%, levemente abaixo do esperado, mas mostrando importante evolução. Ponto relevante é que o Google está finalmente gerando lucro em seu negócio e computação em nuvem. A unidade gerou lucro operacional de US$ 191 milhões no trimestre, após um prejuízo de US$ 706 milhões no ano anterior. Olhando para frente a empresa trouxe updates importantes no seu braço de inteligência artificial e sua busca de integração deste com sua plataforma de busca. A Alphabet possui um valor de mercado de cerca de US$ 1.330 trilhões, P/E de 23,0 e no ano suas ações sobem em torno de 18%.
A primeira leitura do PIB dos EUA mostrou uma desaceleração no 1T23, com o indicador subindo a uma taxa anualizada de 1,1%, contra 2,0% esperados pelo mercado. Na direção contrária, as despesas domésticas privadas, com foco na demanda interna, aceleraram de 0,0% para 2,9% t/t. A título de curiosidade, essa foi a principal métrica citada pelo Fed em janeiro após a divulgação do PIB do 4T22, sendo a mais acompanhada para medir a velocidade da economia. A aceleração no consumo americano, passando de 1,0% para 3,7% t/t, mesmo que abaixo das expectativas, 4,0%, foi diferente dos números do BTG, especialmente pelo mês de janeiro, enquanto fevereiro e março mostraram acomodação. Apesar dos dados do PIB terem vindo abaixo, outros dados que compõe o indicador vieram acima, tornando a análise mais complexa do que uma simples leitura do número.
Houve a divulgação do PCE americano, um dos principais termômetros de consumo e o índice inflacionário preferido do banco central dos EUA para decidir a trajetória da taxa de juros. Comparando anualmente, o PCE subiu 4,20%, acima do consenso de 4,10%. Porém, segundo analistas, o deflator do PCE tem médias móveis anualizadas acima de 4% e com expectativa de convergência para a meta apenas em 2025. Dessa forma, nota-se uma economia ainda muito resiliente com forte dinâmica de consumo e renda, o que sustenta a expectativa para mais um aumento de 25 bps na taxa de juros por parte do FOMC na próxima semana.
A Argentina aumentou sua taxa básica de juros para o patamar mais alto em cinco anos. O Banco Central da República Argentina (BCRA) aumentou a sua taxa de juros nominal das Letras de Liquidez (Leliq, o juro básico do país) em 10 pontos percentuais, de 81% para 91%. A decisão ocorre após a inflação ao consumidor da Argentina saltar 104,3% em março, na comparação anual. A medida ocorre em meio à desvalorização do peso nos mercados paralelos, o que fomenta a sensação de crise no país. O Banco Central afirmou que a decisão tem como objetivo buscar retornos positivos reais sobre investimentos em moeda local e preservar a estabilidade monetária e financeira. Esse é o maior aumento de juros nos três anos e meio do governo e vale ressaltar que diferentemente do Brasil, o Banco Central Argentino não é independente e é chefiado por um aliado do governo.
Brasil
O IPCA-15 de abril apresentou uma leitura levemente abaixo das expectativas, sendo 0,57% contra 0,61% m/m. Na comparação anual, teve alta de 4,16% ante 4,20% estimados e arrefecendo em relação ao último dado de 5,36%. Transportes foi responsável pela maior variação, 1,44%, contribuindo com 0,29 p.p. para o índice. Segundo o BTG, eles estimam que o balanço de riscos apresenta um cenário de maior dificuldade para a desaceleração da média dos núcleos no curto prazo e maior resiliência inflacionária no segmento de serviços.
O Ministério do Trabalho e Emprego divulgou o CAGED e relatou geração de mais de 195 mil empregos formais em março. O total de contratações foi de 2.168 mil, subtraindo o total de 1.973 mil demissões de empregados com carteira assinada no período. O indicador superou as expectativas dos investidores, subindo 97,6% em relação a março de 2022, que contou com 98.786 mil. O saldo de contratações foi positivo em todas as regiões do Brasil, com o Sudeste na liderança com 113.374 novos empregos.
A Vale abriu 2023 com demonstrativos abaixo da média de seus concorrentes australianos, influenciado pelo fraco número de vendas. A empresa apresentou um EBITDA de US$ 3,7 bilhões, e receita líquida de 8,4 bilhões, com volume de minério abaixo do esperado, e desempenho de custos 9% acima da previsão do BTG. A produção de minério de ferro aumentou 5,8% a.a., mas seu volume de vendas a.a. caiu 10,6%. Ademais, o fluxo de caixa foi favorável, no valor de US$ 2,3 bilhões, impulsionado pela liberação no capital de giro. O guidance da empresa continua o mesmo, e podemos esperar uma leve melhora nos resultados dos próximos trimestres.
As demonstrações da 3R Petroleum referentes ao 1T23 foram em linha com o esperado. Houve um crescimento de 35% t/t na produção nesse primeiro trimestre, acompanhado de R$ 156 milhões de EBITDA, que cresceu 38% t/t e 2% acima da expectativa do BTG. A queda das margens pode ser explicada pelos custos de extração de US$ 23/bbl, com aumento de US$ 5,4/bbl t/t causado pela transição de poços recém adquiridos. Porém, as despesas com D&A prejudicaram o lucro líquido, que foi de R$ 16 milhões, bem abaixo das expectativas do mercado. Potiguar e Peroá foram destaques positivos da empresa, com margem EBITDA de 52% e 68%, respectivamente.
A Movida apresentou resultados fracos no 1T23, mas levemente acima das expectativas baixas do mercado. A receita líquida foi de R$ 2,7 bilhões, crescimento de 42% a.a., e o EBITDA somou R$ 875 milhões, cerca de 9% acima do esperado pelo BTG. Já o lucro líquido foi de R$ 21 milhões, acima da expectativa de prejuízo vinda do mercado. De modo geral, as demonstrações operacionais da empresa mostram a postura de redução de gastos e melhor gestão do passivo, mas a estrutura de dívida ainda está em processo de reestruturação.
Mercados
Nessa semana os mercados se mantiveram mistos, em compasso de espera em função das decisões de juros no Estados Unidos e Brasil que teremos semana que vem, refletindo a temporada de balanços americana e a divulgação de dados das economias globais. No âmbito internacional, o PIB dos EUA, o índice de consumo de despesas pessoais e os resultados de importantes big techs foram os principais headlines. No âmbito doméstico, atenções voltadas ao IPCA-15 de abril e criação de vagas de trabalho na economia brasileira.
Ao olharmos para o PCE, comparando anualmente, observou-se um dado levemente acima das expectativas. Junto disso, alguns analistas esperam que a convergência do deflator do índice seja apenas em 2025, algo que implica em juros ainda elevados para conter a inflação, com impacto direto nos ativos reais. Ainda tivemos a divulgação do PIB americano, vindo abaixo das expectativas. Assim, enxergamos investidores e um mercado muito mais cauteloso, pois a economia americana começou a desacelerar mais do que a pressão inflacionária enfraqueceu.
Como já dito, mesmo com o IPCA-15 levemente abaixo das expectativas, vimos alta no eixo de serviços, sinalizando um núcleo ainda robusto. Alinhado esse fator aos números do CAGED de março, achamos improvável que o BACEN inicie o ciclo de corte de juros na semana que vem e, portanto, esperamos que a Selic se mantenha nos patamares atuais (13,75%).
Combinado o cenário macro desafiador com a volatilidade das commodities, o Ibovespa se manteve praticamente estável (+0,06%), fechando aos 104.431 pontos. Dentre os destaques corporativos, o resultado da 3R Petroleum animou os investidores e o papel subiu aproximadamente 15% na semana. A petroleira reportou um lucro líquido de R$16,1 milhões no 1T23, revertendo o prejuízo registrado no mesmo período do ano passado. No geral, analistas esperam números melhores no 2T23 quando Macau e Papa Terra já estiver perto do potencial e Potiguar completamente integrado ao portfólio da companhia.
Resumidamente, o dólar subiu com maior aversão ao risco e expectativa de juros ainda elevados, curvas de juros no brasil fecharam e tivemos volume majoritariamente vendedor no Ibovespa. De modo geral, os mercados devolveram parte do ganho acumulado no começo da semana com dados que mostraram resiliência econômica e pressões inflacionárias persistentes. No mundo emergente, as condições financeiras melhoraram desde o ápice da crise bancária, mas continuam muito apertadas, o que também pesa diretamente na expansão de crédito.
2022 Todos os Direitos Reservados | Política de Privacidade