10/05/23

Análise da Semana - 17 a 20 de Abril de 2023

Nos EUA o Fed apresentou o Livro Bege, o qual relata as condições econômicas em cada distrito do Federal Reserve. De maneira geral, 9 dos 12 distritos não relataram mudança alguma, enquanto os outros 3 apresentaram um crescimento modesto. As expectativas de crescimento também não mudaram desde a última divulgação. Além disso, vários distritos relataram que os bancos apertaram as condições de crédito tendo em vista a maior incerteza no mercado, fazendo a demanda por empréstimos arrefecer de forma ampla. O mercado de trabalho se mostrou menos apertado, com um crescimento no nível de emprego e salários mais moderados. Por fim, foi observado um aumento comedido nos preços, com a esperança de que haja maior alívio nas pressões de custos dos insumos.

Foi divulgado o PIB chinês do 1T23, o qual apresentou um crescimento de 4,5% a/a contra os 4,0% a/a esperado pelo consenso. O fim da política zero Covid foi crucial para que a economia chinesa retomasse. Ainda assim, a recuperação da China é heterogênea, enquanto consumo, serviços e gastos com infraestrutura estão melhorando, ainda existe desaceleração nos preços e aumento nas poupanças bancárias, fazendo com que o mercado desconfie do lado da demanda.  

A temporada de resultados continua nos EUA, com Netflix apresentando números mistos no 1T23. A receita cresceu 3,7% a/a, ficando em US$ 8,16 bilhões e em linha com as expectativas. Por outro lado, o lucro caiu 22% a/a, com um lucro por ação de US$ 2,88. A empresa conquistou mais 1,75 milhões de assinantes, cerca de 500.000 a menos do que o mercado esperava, e bem abaixo do crescimento no trimestre anterior. Vale ressaltar que a empresa deve começar a cobrar daqueles que compartilham suas senhas no streaming nos próximos meses, como já havia sido anunciado no final de 2022. Essa decisão foi feita pois eles estimam que cerca de 43% dos usuários compartilham senha, de forma que a companhia perca receita.

Tesla divulgou um resultado em linha com o consenso, apesar de não ter agradado o mercado. A receita da empresa foi de US$ 23,33 bilhões e o lucro por ação ficou em US$ 0,85. Esses números representam um aumento de 24% m/m na receita, e uma queda de mesma magnitude para o lucro. Isso é explicado por alguns fatores, o primeiro deles é que o uso das fábricas não é otimizado, prejudicando suas margens, o segundo é pelo aumento dos custos de matérias-primas e, por último, a menor receita de créditos ambientais. Elon Musk, CEO da companhia, informou que espera um momento mais nebuloso da economia nos próximos meses, o que pode prejudicar a venda de carros no geral.

O restante dos maiores bancos americanos terminou de divulgar seus resultados, indo contra o que esperávamos para o ano. Tendo em vista a queda na atividade econômica, a expectativa do mercado era que o setor bancário sofreria em 2023. Além disso, o estresse bancário causado pela quebra de dois bancos regionais nos EUA trouxe ainda mais insegurança em relação ao sistema financeiro. Entretanto, de maneira geral, os bancos surpreenderam positivamente. O Bank of America apresentou um lucro por ação de US$ 0,95, acima dos US$ 0,82 esperados. Isso se deu principalmente pelas receitas não de juros que vieram 7,8% mais fortes do que a expectativa. Mais especificamente, as receitas de sales & trading ficaram 13,3% acima das expectativas, compensando o trimestre fraco de IB e asset management. O Morgan Stanley também apresentou um lucro por ação acima do esperado, ficando em US$ 1,72 vs. US$ 1,67 do consenso. A surpresa é proveniente especialmente por uma maior receita no segmento de gestão de fortunas, as quais compensaram o fraco desempenho das receitas relacionadas à renda variável e renda fixa. Por fim, o Goldman Sachs veio na contramão, com uma receita 4,5% abaixo das expectativas com destaque para um impacto de venda de carteira de crédito no segmento de varejo.

 Brasil

Em fevereiro, a produção industrial brasileira apresentou uma surpresa negativa, com uma variação de -0,2% m/m, enquanto o mercado esperava uma leitura de -0,1% m/m. Com isso, na comparação anual observamos uma queda de -2,4%, principalmente por conta da deterioração do segmento de bens de capital e a perda de força dos bens intermediários. Tudo isso aconteceu pelo menor apelo por consumo relacionado aos bens de maior valor agregado. Espera-se que em 2023 a indústria continue enfraquecida por conta do aperto nas condições financeiras no país e uma deterioração do cenário econômico global.

Mercados

Nessa semana, os mercados tiveram performances mistas, refletindo o noticiário global, resultados corporativos e as políticas monetárias dos Estados Unidos e Europa. Nessa alçada internacional, as falas dos membros do Federal Reserve, inflação do Reino Unido e PIB da China foram os fatores que tomaram conta das atenções. No Brasil, tivemos vencimento de opções sobre ações e os holofotes se voltaram ao arcabouço fiscal, que chegou ao Congresso ontem, quinta-feira.

No geral, vimos na média um tom duro dos FED speakers durante a semana que prevê o período de silêncio que antecede a reunião do comitê. Levando em consideração essas falas menos flexíveis alinhadas a uma economia ainda muito resiliente, os investidores calibraram suas apostas em mais um aumento de 25 bps na próxima reunião, tendo, portanto, o intervalo de 5,00-5,25 como taxa terminal dos juros. Vale ressaltar que uma expectativa de juros mais altos implica na desvalorização da bolsa dado que, ao trazer a valor presente, a taxa de desconto é maior.

Na soma geral, os resultados do produto interno bruto (PIB), vendas no varejo e produção industrial da China vieram bem positivos. O PIB expandiu mais do que o consenso esperava, liderado principalmente pelo consumo oriundo da recuperação das cadeias industriais e de suprimentos no país. De qualquer forma, o mercado demonstrou certa preocupação com o crescimento acelerado no país, uma vez que esse fenômeno possa pressionar ainda mais a demanda por certos setores e corroborar para uma piora no cenário inflacionário global.

Olhando para as principais commodities, o minério de ferro caiu com o próprio governo chinês controlando os preços para evitar especulações. Já o barril de petróleo engatou a quarta queda consecutiva, sustentado na perspectiva de maior aperto monetário e recuperação desigual da demanda.

A apresentação do arcabouço fiscal foi recebida de forma mista pelos investidores. De fato, a proposta está muito focada em arrecadação e no fluxo de caixa dos cofres públicos e não discorre com muita clareza sobre soluções para controlar e otimizar os elevados gastos públicos. Vimos o mercado local mais volátil após a notícia de que o governo pretendia excluir alguns itens do teto de gastos que não haviam sido previstos, como créditos extraordinários, piso nacional da enfermagem, despesas com universidades e projetos socioambientais. Com isso, a incerteza no que se refere ao compromisso fiscal do país pressionou o contexto doméstico e adicionou prêmio nos vértices das curvas futuras.

Com a volta de discussões acerca do cenário inflacionário global e a proposta fiscal do novo governo no Brasil, o Ibovespa acumulou uma queda de 1,96% na semana, fechando aos 104.367 pontos. No noticiário corporativo, os destaques ficaram para a prévia operacional da Vale e varejistas sofrendo com a decisão do governo de manter a isenção de encomendas internacionais até US$50. A possível tributação gerou muito desgaste institucional, o que fez o mesmo recuar na medida dadas as pressões populares. Para o setor, isso significa menor parcela da demanda do mercado e, consequentemente, menor volume de vendas que impacta já na primeira linha dos balanços das varejistas.

Resumidamente, o Dólar subiu, a curva de juros abriu e tivemos volatilidade no Ibovespa, com volume misto e vencimento de opções. Em geral, vimos o mercado relembrar o fenômeno inflacionário global corrente, o que espelhou em maiores prêmios de risco para os mercados.

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