10/05/23

Análise da Semana - 10 a 14 de Abril de 2023

O CPI, índice de inflação ao consumidor dos EUA, de março foi de 0,05% m/m, abaixo dos 0,2% m/m esperados pelo consenso. Esse resultado foi influenciado principalmente pela deflação de energia, além de bens não duráveis ex-alimentos e pela acomodação da inflação de alimentos. Por outro lado, o núcleo veio mais próximo das expetativas, ficando em 0,38% m/m vs. 0,4% do consenso. A pressão está concentrada nos segmentos de carros novos e habitação. Entretanto, tendo em vista os dados de aluguéis já disponíveis a tendência é de desaceleração para os próximos meses. De maneira geral, o índice de preços mostra uma composição mais construtiva, não excluindo a necessidade de mais uma alta na taxa de juros americana em maio.

O índice de inflação ao produtor de março nos EUA também veio bem abaixo das expectativas. A leitura mostrou uma deflação de 0,5% m/m enquanto o mercado esperava estabilidade. No núcleo também foi observada uma desaceleração, saindo de 0,2% m/m em fevereiro para 0,1% m/m. Esse resultado se deu principalmente por conta da queda de bens e de energia. Para o restante do ano, a acomodação dos preços de energia será principal responsável pelo arrefecimento do índice.

Foram divulgados dados de varejo e indústria americana de março, os quais mostraram uma queda disseminada de 1% m/m no varejo, acima do esperado. Por outro lado, o núcleo do varejo desacelerou menos do que a expectativa. Já a indústria registrou um avanço de 0,4% m/m vs 0,2% do consenso. O consumo deve continuar desacelerando no próximo trimestre tendo em vista a alta inflação, o aperto das condições financeiras e o baixo nível de confiança no setor bancário. Esses dados não tiram a necessidade do ajuste de 25 bps na fed fund rate em maio, porém suportam a percepção de que o fim do ciclo de alta de juros pode não estar muito distante.

A temporada de resultados do 1T23 foi aberta essa semana com a divulgação dos números de bancos americanos. De maneira geral, os resultados do JP Morgan, Citi e Wells Fargo foram acima do consenso, impulsionados pelo aumento das taxas de juros. Essas informações são ainda mais relevantes tendo em vista a desconfiança do mercado nas últimas semanas em relação ao sistema bancário global. No geral, esses resultados positivos indicam que os grandes bancos conseguiram se adaptar às condições de mercado e se beneficiar do aumento das taxas de juros, enquanto bancos menores enfrentaram maiores dificuldades.

O lucro do JP Morgan subiu 52% a/a, ficando em U$ 12,6 bilhões e acima do consenso de U$ 10,2 bilhões. Além disso, apresentaram uma receita recorde de U$ 38,3 bilhões, 25% acima do dado do mesmo período do ano passado. Os números vieram fortes puxados pelos aumentos de juros que elevaram o spread entre os juros pagos aos depositantes para captação de recursos e os juros recebidos pelo banco nos financiamentos. A divisão que mais contribuiu para os resultados foi justamente o segmento de varejo. A mesa de renda rixa também teve participação positiva para o resultado, enquanto a área de investment banking apresentou resultados fracos com menos emissões de dívidas e IPOs no trimestre.

O Citigroup também surpreendeu o mercado com números acima do consenso. A receita do banco foi de U$ 21,4 bilhões vs U$ 20 bilhões esperados pelos analistas e o lucro por ação ficou em U$ 1,86 enquanto o mercado esperava U$ 1,70. O bom desempenho vem do segmento de investimentos, o qual teve um aumento de 20% a/a em sua receita. Fora isso, o segmento de banco de varejo também foi uma surpresa positiva, acelerando 8% a/a.

 

Brasil

O IPCA de março apresentou desaceleração em relação ao mês anterior, com uma inflação de 0,71% m/m, abaixo das expectativas, 0,77% m/m. Essa redução em relação a fevereiro é proveniente, especialmente, da sazonalidade do segmento de educação, que teve uma redução significante entre a última leitura e a atual. Além disso, o segmento de alimentação e bebidas também teve uma elevação abaixo do esperado. Dessa forma, a média dos núcleos desacelerou, de acordo com as expectativas. Para o restante do ano, o cenário de inflação ainda é desafiador tendo em vista a incerteza relacionada ao novo arcabouço fiscal e as discussões sobre a meta de inflação.

A leitura do Varejo Restrito de janeiro foi acima do esperado pelo mercado, ficando em 3,8% m/m vs. 3,2% m/m do consenso. Já no conceito ampliado houve uma surpresa negativa, com uma variação de 0,2% m/m contra a expectativa de 0,6% m/m. Não há sinais de mudanças relevantes para 2023, temos como vetor positivo o mercado de trabalho fortalecido, o aumento do salário-mínimo e o programa “Desenrola”, para renegociação de dívidas. Tudo isso pode beneficiar os grupos de alimentos e bebidas e farmacêuticos. Por outro lado, vale ressaltar que deve se ter cuidado com os segmentos dependentes de financiamento tendo em vista o encarecimento do crédito, gerando um aumento no risco de inadimplência.

Mercados

Os mercados tiveram uma performance positiva na semana, refletindo um certo otimismo global. No cenário internacional, o anúncio do governo chinês de um corte no depósito compulsório, dados de inflação por lá, vendas no varejo na Europa e divulgação do CPI de março dos Estados Unidos foram os principais headlines. No Brasil, as atenções ficaram voltadas ao IPCA de março, que gerou discussões acerca da atual política monetária exercida pelo BACEN.

Como já falado, o índice de preços ao consumidor nos EUA (CPI) veio abaixo do esperado pelos analistas. Na base anual, a inflação do mês veio 25% menor do que no mês anterior e animou o mercado. Mas, é importante destacar que o crescimento no núcleo da inflação permaneceu forte. De qualquer modo, os dados de março trouxeram uma certa esperança de que a economia esteja na trajetória correta. Nesse contexto, o mercado já precifica o consenso de um aumento de 25 bps na FED funds rate para a próxima reunião no começo de maio e fica na expectativa de um fim do ciclo altista de juros à frente.

Na China, o Banco Popular (BACEN Chinês) reduziu a taxa de compulsório para quase todos os bancos em 25 pontos percentuais. Segundo economistas, o principal objetivo é garantir liquidez no sistema bancário para sustentar o ritmo acelerado de empréstimos nos dois primeiros meses do ano e fortalecer a recuperação econômica. Com essa injeção de capital na economia, há uma projeção de maior demanda por commodities, o que consequentemente espelha na cotação do minério de ferro, que teve uma performance positiva nos últimos dias.

Como também já descrito acima, o IPCA desacelerou em março e a inflação de 12 meses no Brasil caiu para 4,65%. A atual meta do BACEN é 3,25%, com uma tolerância de +-1,5 pontos percentuais. Considerando isso, teríamos um limite da banda superior de 4,75%, 10 bps acima dos 4,65% acumulados em 12 meses. Dado esse spread, sinalizando uma inflação teoricamente dentro do intervalo de tolerância, vimos a curva brasileira prever um alívio de 14 pontos da Selic em junho pois com a queda do IPCA, temos um possível espaço para cortes na taxa. Roberto Campos Neto ainda deu declarações e afirmou que ficou encorajado com o IPCA, o que cooperou com o otimismo no mercado doméstico.

Com cenários e dados positivos, o Ibovespa acumulou uma alta de 5% na semana e fechou aos 106.277 pontos. Dentre o noticiário corporativo, o destaque fica para a Hapvida, que anunciou uma oferta subsequente de ações (follow-on). A operação captou aproximadamente R$ 1 bilhão, com a ação precificada a R$2,68. Os recursos levantados serão destinados ao caixa da companhia, que está alavancada e sofrendo com um custo de dívida muito elevado, resultante do patamar de juros atual.

De forma resumida, observou-se um alívio do dólar e pressões inflacionárias e o fechamento das curvas de juros futuras. Vimos também um movimento de realização de lucros no IBOV nos últimos dois dias da semana após rally evidenciado previamente.

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