O PCE, inflação ao consumidor perseguida pelo Fed, teve uma alta de 0,3% a/a em fevereiro, em linha com o consenso. O núcleo, por outro lado, veio um pouco abaixo do esperado ficando também em 0,3% m/m vs. 0,4% m/m das expectativas. Além disso, houve uma revisão baixista da leitura do núcleo de janeiro, de forma que o índice ficou menos pressionado no primeiro bimestre. Com essa leitura, tendo em vista a melhora no núcleo, espera-se que 2023 acabe com o PCE próximo a 4%, acima da meta de inflação, de forma que ainda há espaço para aumento na taxa de juros americana.
Brasil
A divulgação da Ata do Copom essa semana reforçou o tom hawkish da última reunião. A principal mensagem do comitê foi que a taxa de juros só irá começar a cair quando as expectativas de inflação fizerem o mesmo. Acreditamos que a manutenção do tom do último encontro reforça a credibilidade da independência do Banco Central. Além disso, o comunicado deixou claro que a apresentação do plano fiscal, apesar de extremamente importante, não tem uma relação mecânica com a convergência da inflação. Foi pontuado também que o BCB não se mostra inclinado a fazer qualquer mudança na meta de inflação caso esse tema seja discutido no CMN. Acreditamos que a postura mais agressiva do Banco Central indica que a taxa de juros pode permanecer em um patamar elevado por mais tempo.
O índice de produção industrial de janeiro, calculado pelo IBGE, mostrou uma queda de 0,3% m/m. O desempenho da indústria brasileira ficou abaixo das expectativas do mercado de desaceleração de 0,2% m/m. Por outro lado, na comparação anual o indicador subiu 0,3%, também abaixo do consenso. Assim, em relação ao nível recorde alcançado em maio de 2011, a produção industrial está em um patamar 18,8% inferior, além de 2,3% abaixo do nível pré-pandemia.
A taxa de desemprego sem ajuste sazonal do trimestre móvel encerrado em janeiro ficou em 8,6%, abaixo da expectativa do mercado. Além disso, o rendimento médio habitual em termos reais teve um aumento de 0,2% m/m, representando um salto de 7,8% a/a mas ainda abaixo do nível pré-pandemia, tendo em vista a elevação nos preços no período. Esses números mostram um cenário mais positivo e em linha com o resultado do CAGED, o que mostra um mercado de trabalho resiliente mesmo com o alto nível da taxa de juros e o alto grau de incerteza no país. Esperamos que a taxa de desemprego seja estável ao longo do ano.
Essa semana finalmente foi divulgado o arcabouço fiscal pelo ministro da fazenda, Fernando Haddad. A regra geral do plano do governo é limitar o crescimento das despesas a 70% do aumento das receitas no ano, idealizando a estabilização da dívida no longo prazo. Caso as despesas ultrapassem esse limite em determinado ano, no ano seguinte haverá uma penalidade, e o aumento das despesas não pode ultrapassar 50% do aumento da receita. Dessa forma, o governo projeta que em 2024 o déficit das contas públicas ficará zerado, além de atingir um superávit de 1% do PIB em 2026. Essa divulgação era o respiro que o mercado esperava, para que houvesse mais clareza em relação ao futuro fiscal do país. Entretanto, a nova regra não é muito crível, já que existe a sinalização de que o governo aumentará os gastos, sem nenhuma explicação de como a receita terá um aumento significativo. Dessa forma, permanecemos céticos em relação ao novo plano.
Mercados
Nessa semana, os mercados tiveram performances positivas em geral, refletindo a amenização do cenário inflacionário e a crise bancária global. No âmbito internacional, a divulgação do principal dado de consumo do cidadão americano (PCE) e uma sinalização de estabilização do sistema financeiro foram os principais drivers da semana. No contexto doméstico, com a postergação da viagem de Lula a china, todas as atenções ficaram voltadas à apresentação do quadro fiscal, que tentou dar mais direcionamento aos investidores acerca da trajetória da dívida pública brasileira e do plano de voo do novo governo do PT.
Como dito acima, o núcleo do índice das despesas de consumo pessoal dos Estados Unidos (PCE) veio abaixo das expectativas. Basicamente, é um indicador norte-americano de preços para todo o consumo pessoal doméstico e é um dos principais termômetros de inflação da economia americana, afetando diretamente as decisões de juros do FED. Após um ano do início do aperto da política monetária, um dos principais dados ter vindo abaixo das expectativas já pode sinalizar um efeito positivo desse contracionismo monetário. Considerando também uma crise bancária em resolução, o movimento sugere que o Federal Reserve pode estar perto de encerrar esse ciclo mais agressivo.
Entretanto, acreditamos que o FED ainda precisa de mais evidências de que a inflação está menos arrefecida para iniciar o corte na FED fund rate. De qualquer modo, após esse dado, os futuros da Nasdaq, Down & Jones e S&P escalaram consideravelmente, mas os yields se mantiveram mistos por lá.
O PMI da China (Índice de Gerentes de Compras) de março veio acima do mês anterior e demonstrou um bom ritmo de crescimento da economia chinesa. Segundo analistas, um PMI acima de 50 indica que a economia está em expansão e ainda há muito espaço para o aumento contínuo da atividade econômica nos próximos meses. Os analistas também reiteram a visão de que o crescimento do PIB ultrapassará tranquilamente a meta de crescimento do governo para esse ano. Dado essa atividade forte e o otimismo acerca dos próximos meses, uma maior expectativa da demanda chinesa por commodities impulsionou a cotação delas na semana, e é por isso que vimos o barril de petróleo e o minério de ferro se valorizarem nos últimos dias.
A apresentação da nova Âncora fiscal movimentou o mercado e gerou bastante volatilidade no Ibovespa. Como descrito acima, o novo arcabouço fiscal prevê zerar o rombo das contas públicas a partir do ano que vem e limitar o avanço dos gastos do governo. Vale a reflexão de que para zerar esse déficit, é necessário um fluxo de receita relevante. Atualmente, enxergamos que a única maneira de potencializar a arrecadação pública é o aumento de impostos, algo já não tão positivo. Mas, mesmo que a nova proposta tenha levantado muitas dúvidas, o mercado recebeu pelo menos parcialmente o que esperava e o Ibovespa acumulou uma alta de 3,09%, fechando aos 101.822 pontos.
Em suma, os juros futuros e dólar caíram e tivemos um fluxo positivo no Ibovespa. No mais, a semana do fechamento do trimestre foi positiva para os mercados, que refletiram o otimismo chinês e uma melhora na percepção de risco global.
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