13/04/23

Análise da Semana - 20 a 24 de Março

Essa semana houve a reunião do FOMC, onde foi anunciado um novo aumento da fed funds rate em 25 bps, deixando a taxa de juros americana entre 4,75%-5%. No comunicado foi reiterado que o nível de inflação no país continua bastante elevado e o mercado de trabalho apertado. Dessa forma, não devemos ter tanta certeza do fim do ciclo de alta no curtíssimo prazo. Powell afirmou também que o Fed não conta com cortes na taxa de juros americana em 2023 como cenário-base. Por outro lado, o estreitamento no mercado de crédito pode gerar um aperto monetário e das condições financeiras que substituiriam a necessidade de altas adicionais, sendo uma das variáveis que influenciam na taxa terminal. Mesmo assim, o comitê quis deixar claro que se sentirem que é necessário, não hesitarão em elevar ainda mais a taxa de juros.

A prévia do PMI americano de março, indicador da atividade dos setores industrial e de serviço, mostrou um avanço, ficando em 53 pontos enquanto o dado do mês anterior foi 50,1 pontos. A leitura surpreendeu o mercado que esperava 49,5 pontos. Dessa forma, o país continua em patamar de expansão, isto é, acima de 50 pontos, impulsionado pela aceleração em serviços. Assim, vemos que a atividade econômica americana segue bastante resiliente no 1T23.

 

Brasil

O Copom, Comitê de Política Monetária, anunciou a manutenção da taxa básica de juros em 13,75%, em linha com a expectativa do mercado. O comitê não deu nenhum tipo de sinalização de cortes na taxa de juros. Apesar dos riscos de um mercado de crédito global prejudicado, fator que pode desacelerar a economia ainda mais, a incerteza em relação a nova regra fiscal e a desancoragem das expectativas de inflação fizeram com que o órgão mantivesse uma postura mais conservadora. Vale ressaltar que o comunicado teve um tom mais hawkish do que o esperado, isso por mostrarem dúvidas sobre o efeito do alto patamar de juros sobre os preços, com reajuste da previsão da inflação de 2023 de 5,6% para 5,8%, além de afirmarem que ainda podem retomar o ciclo de alta da Selic caso haja necessidade.

O IPCA-15 de março registrou uma alta de 0,65% m/m, mostrando uma desaceleração em relação à leitura do mês anterior. Essa alta foi especialmente impactada pelo segmento de transportes, com a alta no preço da gasolina. Na análise qualitativa do índice observamos uma evolução positiva, isso porque a média dos núcleos apresentou desaceleração, saindo de 0,68% m/m para 0,43% m/m, com difusão de 61,3%. O cenário para o ano é desafiador, com a possível alteração da meta de inflação, as mudanças ainda desconhecidas no arcabouço fiscal e a nova expansão fiscal podem ser obstáculos para convergência do índice ao centro da meta.

A Santos Brasil divulgou um bom resultado essa semana referente ao 4T22. A receita líquida da companhia foi de R$ 469 milhões, representando uma alta de 6% a/a e em linha com as expectativas. Além disso, o EBITDA atingiu R$ 198 milhões, uma alta de 25% a/a e 7% acima da expectativa do BTG. O EBITDA foi afetado positivamente por itens não recorrentes, já o valor ajustado ficou 10% abaixo da previsão do BTG. Finalmente, o lucro líquido alcançou R$ 136 milhões, em linha com o consenso. Consideramos a Santos Brasil uma boa empresa, que se encontra em um momento favorável tendo em vista uma renegociação, nas próximas semanas, de até 40% no preço dos contratos da companhia com a Maersk, responsável por aproximadamente 70% do volume total portuário.

O resultado do 4T22 da JBS sofreu impactos do ciclo negativo do gado americano. Na divulgação, o CEO da empresa confirmou o ciclo negativo e sinalizou um cenário adverso para o ano de 2023. Entretanto, a vasta diversificação geográfica e de tipos de proteínas animais, além do forte balanço patrimonial, devem proporcionar uma suavização desse efeito. Os resultados operacionais ficaram abaixo da expectativa do BTG, principalmente por conta da receita baixa de R$ 93 bilhões, representando uma queda de 5% a/a. O EBITDA, por sua vez, sofreu uma queda de 65% a/a, ficando com uma margem EBITDA de 4,9%, em linha com a expectativa do mercado, porém a menor margem trimestral em quase 10 anos. Temos uma visão neutra para o papel, que apesar de possuir uma diversificação no portfólio deve continuar sofrendo com margens apertadas e descontos devido ao histórico de escândalos.

 

Mercados

As decisões das políticas monetárias de diversos países e continuidade da crise bancária global refletiram o ritmo dos mercados, sendo mais uma semana de muita incerteza e volatilidade. No âmbito internacional, continuou a tendência de alta de juros, sendo que todos os países como Noruega, Inglaterra e Suíça, além dos Estados Unidos, subiram suas respectivas taxas. Na esfera doméstica, as críticas do governo Lula em relação a quinta manutenção consecutiva do patamar da taxa Selic pelo Banco Central repercutiram internamente, gerando maior aversão ao risco.

Como citado acima, o Federal Reserve deu continuidade ao ciclo de juros, aumentando a taxa em 0,25 bps. O mercado estava bem dividido, ao ponto que uma possível flexibilidade foi cogitada visto a crise bancária vigente. Entretanto, como já falado, o recado do FED se manteve sólido e Jerome Powell reforçou que o ciclo altista deve se estender, dado uma economia ainda aquecida.

Em relação ao Copom, vimos um tom duro. A mensagem repassada reiterou o plano traçado pelo comitê, com um patamar de Selic ainda elevado, a fim de atingir o centro da meta de inflação perseguido para o fim de 2024. Caso o governo apresente um conjunto de regras razoáveis que colaborarem para uma melhora na percepção de risco, podemos pensar em um fim do ciclo altista. A discussão sobre a ampliação temporária da meta da inflação deve continuar, pois mesmo alguns gestores de fundos e economistas ortodoxos defendem essa tese para 2023, como uma forma de permitir uma flexibilização da postura do BC.

No contexto do sistema bancário, as ações dos grandes bancos europeus mostravam fortes quedas nesta sexta-feira, com a crescente preocupação acerca da estabilidade das instituições. O Deutsche Bank caía ao menor nível em três anos, pressionado pelo salto no custo de seguro de títulos da instituição contra risco de inadimplência. Em suma, as ações recuaram em decorrência do disparo dos CDS (Credit Default Swap), indicando uma maior precificação de risco no sistema europeu como um todo.

De qualquer jeito, analistas afirmam que o estresse bancário agora na Europa não é driver intenso o suficiente para interromper a política contracionista do BCE, que recentemente subiu os juros em 50 bps por lá.

No Ibovespa, tanto os ruídos internos quanto o cenário internacional fizeram preço nos ativos na semana. Dado isso, índice acumulou uma queda de 3,5%, fechando aos 98.829 pontos. Vale ressaltar que com a forte realização pós Copom, o IBOV rompeu seu famoso suporte de 100 mil pontos na última quinta-feira, algo que não acontecia desde julho de 2022. No quesito corporativo, a Locaweb destacou-se negativamente ao apresentar um resultado do 4T22 muito fraco. Por mais que a empresa tenha reportado um salto no lucro líquido, os números vieram abaixo do esperado e a leitura é de que os mesmos ainda são insuficientes para a situação atual da companhia. Como já falado diversas vezes, empresas em que a tese é de crescimento e de consumo tendem a sofrer com variações nas curvas de juros e é por isso que além de Locaweb, vemos papéis como Magazine Luiza sofrerem na semana.

Em linhas gerais, o movimento de adição de prêmio de risco nas curvas de juros longas atrelado a forte apreciação do dólar e volume baixo no IBOV foram a tempestade perfeita, explicando a performance negativa do índice.

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