13/04/23

Análise da Semana - 13 a 17 de Março

O anúncio da quebra do Sillicon Valley Bank na última segunda-feira preocupou os investidores dado que o banco está entre os vinte maiores dos Estados Unidos. O SVB é o principal banco das startups e há quarenta anos vinha sendo a principal ponte entre as companhias e o setor bancário. Com os juros altos na economia americana, as empresas deixaram de tomar crédito e começaram a consumir liquidez para honrar seus cronogramas operacionais. Em suma, esse movimento massivo de resgates foi o calcanhar de Aquiles para o banco, que não tinha liquidez suficiente no momento, sinalizando ao mercado um possível risco de insolvência da instituição. O Silvergate Bank, contaminado pelo risco sistêmico, também declarou incapacidade de arcar com os resgates simultâneos.  Dada situação, o FDIC (Federal Deposit Insurance Corp) e o Banco Central americano anunciaram um fundo de US$ 15 bilhões de dólares para garantir todos os depósitos dos clientes e evitar o efeito “dominó”.

Recentemente, onze bancos se juntaram para formular um plano para salvar o First Republic Bank, outra instituição que apresentou risco de falência. Os grandes bancos, que foram favorecidos, recebendo um fluxo de bilhões de dólares de depósitos de clientes de instituição de menor porte, contribuíram com o sistema, depositando US$ 30 bilhões no First Republic. O mercado tem discutido se o que foi feito até agora é suficiente para conter a crise e restaurar a confiança no sistema. De qualquer modo, as autoridades monetárias estão mobilizadas para lidar com novos problemas. E a pronta resposta dos Bancos Centrais, coordenada com os grandes bancos passaram uma sinalização positiva para os mercados.

E o Credit Suisse, outro componente desta crise, vai tomar US$ 53,7 bilhões em empréstimos do Banco Central da Suiça, aliviando os temores dos investidores. Para completar, a decisão do Banco Central Europeu (BCE) de manter o ciclo de alta de juros, elevando em 0,50 ponto percentual contribui para reduzir a tensão do mercado. Passou a ideia de que por enquanto, o foco da autoridade monetária está no combate à inflação, e não na estabilidade do sistema financeiro.

O CPI, principal índice de preços ao consumidor dos EUA, veio em linha com o consenso, com uma leitura de 0,37% m/m. No núcleo, a inflação também está em linha com o consenso, ficando em 0,45% m/m. Esse resultado só não foi maior por conta de uma deflação forte no segmento de carros usados, a qual pode ser revertida logo, tendo em vista os indicadores anteriores. Além disso, os preços de serviços de saúde também caíram. Vale ressaltar que os segmentos relacionados a habitação continuam pressionados, sem sofrer a desaceleração esperada. A composição do índice não está piorando, mas continua desafiadora, de forma que não acreditamos que a inflação possa ficar abaixo de 4% esse ano. Os preços de energia e de bens não devem ter mais contribuições para deflação nos próximos meses. Todo esse cenário corrobora com a ideia de que o FOMC deve optar por mais um aumento de 25 bps na próxima reunião, sem espaço para os cortes de 75 bps até o fim do ano que a curva futura está precificando.

As vendas no varejo em fevereiro nos EUA caíram 0,4% a/a, de acordo com o esperado pelo consenso. A desaceleração foi disseminada entre os setores, com destaque para a queda de vendas de bens duráveis, mais especificamente, no setor automotivo e vestuário, além da queda no setor de serviços, em especial alimentação e bebidas e posto de gasolina. Por outro lado, o núcleo do varejo mostrou um aumento de 0,5% m/m, bem acima dos -0,3% m/m da expectativa. Apesar da queda nesse mês, o carrego do varejo agregado ainda é forte, ficando em 1,2% t/t no 1T23. No médio prazo, entretanto, o consumo deve diminuir por conta da inflação e juros altos. Mesmo assim, o balanço das famílias está em um nível saudável e o mercado de trabalho está apertado, fatores que podem segurar o nível do varejo no curto prazo.

O PPI, inflação ao produtor americana, sofreu uma queda de -0,1% m/m vs. 0,3% m/m esperado pelo mercado. A deflação pode ser explicada pela queda nos preços de alimentos, comércio e transporte. Além disso, o dado de janeiro caiu 40 bps após a revisão, fazendo com que a taxa acumulada dos últimos 12 meses ficasse em 4,6 % a/a, abaixo dos 5,4% a/a da expectativa. O núcleo do índice também ficou 10 bps abaixo da estimativa do consenso, ficando em 0,2% a/a. Entendemos que a volta das cadeias produtivas para uma normalidade e a queda nos preços de energia são os grandes responsáveis pela deflação que estamos observando. Vale ressaltar que a composição setorial da queda de preços não deve surtir muito efeito na dinâmica de preços ao consumidor no curto prazo. Ou seja, provavelmente esse dado não produzirá um viés baixista para o ciclo de alta de juros de 2023.

 

Brasil

Depois de dez meses de queda na taxa de desemprego sem ajuste sazonal, o resultado do trimestre móvel terminado em janeiro registrou alta, ficando em 8,4% e acima da expectativa. Vale ressaltar que ajustando pela sazonalidade a taxa tem se mostrado estável nos últimos oito meses, flutuando entre 8,6% e 8,7%. Além disso, o rendimento médio real habitual sofreu uma queda de 0,2% m/m, representando uma surpresa negativa. Essa leitura corrobora com o cenário de desaceleração do mercado de trabalho e perda de força da economia brasileira. Para esse ano, esperamos que ocorra uma piora na composição do mercado de trabalho, apesar de acreditarmos que a taxa de desemprego não oscile muito.

Essa semana foi divulgado o resultado do 4T22 da Eztec, mostrando queda no lucro e no EBITDA, como esperado. Mais especificamente, o lucro líquido da companhia foi de R$ 31,5 milhões, o que representa uma queda de 56,5% a/a e o EBITDA ficou em R$ 25,2 milhões, 49,8% abaixo do dado no mesmo período do ano anterior. Por outro lado, a receita líquida deu um salto de 76,2% a/a e 10,8% t/t, ficando em R$ 310,8 milhões. O resultado fraco é proveniente do provisionamento das multas que a empresa deve pagar aos compradores do empreendimento Parque da Cidade, tendo em vista o atraso nas obras. Com isso, a margem bruta foi de 26%, muito abaixo dos 40% do 3T22. Apesar do atual cenário complexo para o setor de incorporadoras imobiliárias, consideramos uma boa empresa, com management sólido, mas entendemos que os juros restritivos podem prejudicar a performance da empresa no curto prazo.

Os números divulgados pelo Fleury referentes ao 4T22 foram fracos, porém em linha com o esperado. O crescimento orgânico da empresa foi suave, além de terem apresentado margens menores. A receita líquida aumentou 9% a/a, ficando em R$ 1,1 bilhão, não representando uma surpresa. Esse número foi impulsionado por fusões e aquisições, porém a sazonalidade, o menor fluxo de pacientes durante a Copa do Mundo e o pior serviço B2B para hospitais foram fatores prejudiciais. Ainda, o EBITDA ajustado sofreu uma queda de 9% a/a, ainda em linha com o esperado, atingindo R$ 233 milhões. Tendo em vista as maiores despesas financeiras líquidas, o lucro líquido sem minoritários foi de R$ 31 milhões, um arrefecimento 56% a/a, mas ainda acima das expectativas do BTG. O resultado fraco da companhia gera dúvidas sobre sua capacidade de crescimento orgânico no negócio principal. Mesmo assim, a fusão com Hermes Pardini gera um viés positivo para a empresa.

 

Mercado

Em uma semana complexa, a intensificação da crise bancária nos Estados Unidos refletiu bastante volatilidade para os mercados. Por lá, a falência de dois bancos relevantes descritas acima, a divulgação do CPI (índice de preços ao consumidor) e vendas no varejo foram os principais headlines. No âmbito doméstico, o mercado se contaminou pelo exterior e as atenções seguem voltadas para a proposta fiscal do novo governo, que foi apresentada ao presidente Lula na tarde de hoje.

Como dito acima, o CPI e as vendas no varejo americano vieram dentro das expectativas. Em linhas gerais, o fato curioso é que foram segmentos específicos que contribuíram para as quedas nos índices e não um resultado em cadeia de todos os componentes. Ou seja, não existe uma desaceleração generalizada nos números dos setores que compõe os índices, apenas quedas pontuais. Dado isso, podemos concluir que a economia americana continua muito aquecida, fator negativo quando pensamos nos próximos passos da política monetária da maior economia do mundo. Para a próxima reunião do FED, acreditamos que o governo se mantenha neutro em relação ao patamar de juros devido ao agravamento da crise bancária. Entretanto, é notória a resiliência da economia, sendo a política monetária atual ainda incapaz de trazer a inflação à meta desejada.

No Ibovespa, a crise bancária internacional, a continuidade de resultados corporativos e o vencimento de opções ditaram o ritmo da semana. Dentre os destaques positivos, pode-se citar a Ecorodovias e a 3R Petroleum. A operadora de concessões de infraestrutura divulgou seus resultados do 4T22, superando todas as expectativas. A companhia teve lucro recorrente de R$194,5 milhões, alta de 180% na comparação com o mesmo período do ano anterior.  Ainda que os custos tenham mostrado elevação, a empresa conseguiu entregar excelentes números, justificados pelo forte EBITDA e resultado operacional. Deve-se isso principalmente ao maior tráfego de veículos, reajustes das tarifas e início de cobrança de pedágio em alguns pontos.

A 3R Petroleum comunicou aos investidores que a Petrobrás ratificou a continuidade do processo de transição do polo Potiguar. Devido a declaração do governo da suspensão da venda de ativos da Petrobras por noventa dias, o mercado passou a precificar um risco de a transação não ocorrer. A 3R reutiliza os campos da Petrobras e caso a transação já acordada fosse suspensa, implicaria não só no crescimento da 3R, mas também em um risco adicional relacionado ao novo governo e transações futuras. Porém, com o comunicado, os investidores passam a entender que o risco da aquisição foi eliminado, gerando um forte fluxo comprador e uma valorização de 16% no pregão de hoje.

O destaque negativo fica para o setor de construção civil. No geral, as companhias apresentaram resultados muito fracos, impactados pelo cenário atual desafiador. Com uma possível extensão do ciclo de juros, desacelerando o consumo, os lançamentos de novos empreendimentos tendem a perder força, prejudicando o crescimento e a capacidade de geração de caixa futura dessas empresas.

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