Pelo segundo mês consecutivo, a economia chinesa mostrou expansão, o que mostra que o país deve estar superando o impacto da política de covid-zero antes do estimado. A produção industrial do mês subiu no ritmo mais rápido em dez anos. Além disso, a pesquisa Caixin PMI, a qual mede a atividade de empresas do setor privado chinês, relatou recuperação no poder de precificação, nas cadeias de suprimento, nos pedidos e no emprego, além do nível de confiança nos negócios mais alto desde 2021. Essa melhora na economia do país deve compensar parte da desaceleração das economias de países desenvolvidos, principalmente dos EUA.
Nos Estados Unidos o ISM Industrial de fevereiro mostrou uma aceleração em relação ao período anterior de 47,7 pontos, contra 48 pontos estimados. Dessa forma, o indicador se mantém, pelo quarto mês consecutivo, em patamar de contração, isto é, abaixo de 50 pontos. A leitura foi heterogênea, com aceleração no componente de novos pedidos e queda no índice de produção. Já o índice de preços avançou para níveis acima do esperado pelo consenso, atingindo 51,3 pontos e voltando para o patamar de expansão. De maneira geral, a leitura mostrou uma continuação da normalização da oferta, porém com retomada das pressões de preços. Esses dados, entretanto, não alteram a visão de resiliência da economia americana.
O ISM de Serviços ficou praticamente estável na leitura de fevereiro em relação a de janeiro. O indicador ficou em 55,1 pontos, acima dos 54,5 pontos esperados pelo mercado. O avanço nos indicadores de novos pedidos e emprego foram os responsáveis por manter o índice em nível tão elevado, explicados pelo aumento da demanda com a proximidade da primavera e novas contratações. No índice de preços, o indicador sofreu uma leve desaceleração, porém continua em patamar bastante pressionado, mostrando resistência em suas últimas leituras. Esse resultado corrobora com a expectativa de que a demanda volte a acelerar no 1T23, o que implica em revisões altistas para o crescimento da economia americana no período.
Brasil
O desemprego do trimestre encerrado em dezembro, sem ajuste sazonal, registrou sua décima queda consecutiva, ficando em 7,9% e levemente abaixo dos 8% esperados pelo consenso. Dessa forma, a taxa de desemprego média de 2022 ficou em 9,3%. Apesar da queda no desemprego, foi constatado o encerramento de 733 mil vagas no setor formal e informal. O rendimento médio habitual, por outro lado, mostrou continuidade no movimento de aceleração, registrando alta de 1,1% m/m, chegando mais pertos dos níveis pré-pandemia. A alta de juros e desaceleração da economia brasileira indicam mais fechamentos de vagas e, consequentemente, uma tendência de aumento do desemprego.
No 4T22 o PIB registrou uma queda de -0,2% t/t, ficando em linha com a expectativa do consenso, sendo o primeiro trimestre de queda depois de cinco períodos seguidos de leituras positivas. A desaceleração foi disseminada entre os setores, causada pelo aperto das condições financeiras. Dessa forma, o PIB encerrou o ano com um crescimento de 2,9% a/a. Mesmo com a desaceleração trimestral, o produto interno bruto ainda está 4% acima do nível do 4T19, já que o setor de serviço atingiu o maior patamar da série histórica. Pelo lado da oferta, o setor agropecuário foi o único que apresentou crescimento no período. Para 2023, espera-se que o PIB mantenha o movimento de desaceleração tendo em vista o cenário de condições financeiras apertadas, porém em menor magnitude pela expectativa de crescimento no setor agropecuário provenientes da perspectiva de safra recorde de soja.
As empresas brasileiras continuam em temporada de divulgação dos resultados do 4T22. A Hapvida apresentou uma sinistralidade de 72,9% no período, representando uma piora de 1,8 ponto percentual na comparação anual e um aumento de 0,1 p.p. t/t, enquanto o mercado esperava uma melhora perto de 1 p.p t/t. Isso fez com que o EBITDA da empresa sofresse uma queda de 9,3% a/a, ficando em R$ 599 milhões, bem abaixo das expectativas do mercado. O CEO, Jorge Pinheiro, disse que a sinistralidade caixa deve voltar aos níveis históricos nos próximos trimestres e, para isso, a empresa pode fazer maiores reajustes de preços no próximo ciclo. Entretanto, o discurso da empresa nos últimos trimestres tem sido incoerente em relação aos resultados apresentados. Mesmo com comunicados de reajustes mais agressivos, isso não transparece nos números trimestrais, causando perda de confiança nos investidores.
A Petrobras também divulgou seus números referentes ao 4T22 junto a aprovação da distribuição trimestral de dividendos. De maneira geral, o resultado da empresa foi abaixo do esperado pelo mercado. O EBITDA recorrente ficou em R$ 76 bilhões, 18% abaixo das expectativas do BTG, mesmo com a receita líquida em linha. A principal surpresa negativa foi proveniente dos custos, em que os custos de exploração foram 4 vezes maiores do que a estimativa e os de extração também vieram acima do esperado. Assim, o lucro foi de R$ 43 bilhões, 18% abaixo das projeções do BTG. Por outro lado, vale ressaltar que o fluxo de caixa da empresa continua robusto, com alavancagem 0,81x Dívida Líquida/EBITDA, contra os 0,85x do último trimestre. Os dividendos, por outro lado, representaram uma boa notícia, com anúncio de distribuição de R$ 35,8 bilhões, cerca de 23% acima do esperado, o que significa um yield de 11%. Foi anunciada a possibilidade de retenção de parte desse dividendo anunciado, ficando com um pagamento de R$ 29 bilhões, 9% de yield, o que ainda será votado em assembleia. A empresa está muito exposta ao risco Brasil e, consequentemente, o risco político, com provável redução de pagamentos de dividendos para níveis bem abaixo do atual.
A Cosan apresentou números sólidos no 4T22. O EBITDA da empresa foi de R$ 3,5 bilhões, levemente abaixo do esperado, afetado pelos resultados mais fracos de Raízen, Rumo e de despesas corporativas maiores. O lucro líquido ficou em R$ 806 milhões, com efeitos de eventos não recorrentes. Além disso, a alavancagem melhorou em relação ao trimestre anterior, fechando o ano com o nível de 2,2x dívida líquida/EBITDA. Consideramos uma boa empresa, com um portfólio diversificado em vários setores do Brasil com boas perspectivas, como açúcar e alcool, gás e mineração.
Para o 4T22, a Suzano divulgou resultados dentro da normalidade. Seu EBITDA ficou um pouco abaixo das expectativas do mercado, somando R$ 8,2 bilhões, porém, acredita-se que a empresa foi prejudicada pelo alto custo de caixa da celulose, que superou R$ 900/t no período. As receitas da Suzano vêm mostrando consistência, assim como os demais demonstrativos operacionais. Para os próximos trimestres, espera-se que o preço da celulose reflita negativamente nos resultados, já o custo de caixa deve levar mais tempo para refletir sua deflação frente à queda da receita.
Ações Brasil
A maior aversão ao risco nos EUA, dados positivos vindos da china e ruídos políticos no Brasil foram os principais aspectos que marcaram a semana. No âmbito doméstico, (i) a reoneração dos combustíveis, (ii) a aprovação de impostos sobre a exportação da produção dos mesmos, (iii) o pedido por parte do governo, da suspensão da venda de ativos da Petrobras por 90 dias e (iiii) resultados corporativos trouxeram muita volatilidade para o índice e para as curvas futuras de juros. Com isso, o Ibovespa acumulou uma queda de 1,83%, fechando aos 103.865 pontos. Os melhores desempenhos da semana ficam para Energias Brasil (EDP), Embraer, CSN Mineração e Marfrig enquanto os piores ficam para Hapvida, CVC, Magazine Luiza, 3R Petroleum e Rede D’or.
Dentre os destaques positivos, os papéis da EDP avançaram 12% na semana. A empresa anunciou o fechamento do capital, ofertando um prêmio de 22% ao valor de mercado dos papéis aos acionistas. Esse valor foi bem recebido pois está acima do intervalo apresentado no laudo da consultoria contratada, que é de R$20,20 - R$22,09. Segundo a EDP, o objetivo é simplificar a estrutura organizacional geral para ter mais flexibilidade na gestão das operações brasileiras e ampliar o foco para fontes de energia renováveis e redes de eletricidade.
O consenso de mercado de que a Embraer está mal precificada atualmente resultou em um forte volume comprador durante a semana, acumulando uma alta de 11%. Segundo analistas, as expectativas de crescimento não estão corretamente precificadas dado que a empresa continuará entregando melhorias operacionais nesse ano conforme os pedidos são entregues e a lucratividade aumenta. Em linhas gerais, uma expectativa de crescimento maior do que a refletida nos múltiplos, além do boom do segmento de aviação executiva e posicionamento sólido na divisão de defesa e segurança, são fatores que corroboram o otimismo evidenciado.
Com dados animadores vindos do setor industrial chinês, as empresas de siderurgia e mineração como CSN acumularam ganhos na semana. O setor industrial chinês demonstrou certo fôlego dado que o PMI avançou para 55,0, o maior aumento na atividade desde agosto de 2022. É válido afirmar que esse forte crescimento funciona como um termômetro para uma previsão de demanda mais forte pelo minério de ferro, impactando positivamente o setor.
Mesmo com um resultado ruim no 4T22, a Marfrig entregou uma valorização na semana. A operação da América do Norte apresentou uma contração na margem EBITDA no trimestre, principalmente devido ao aumento do preço do gado, decorrente da desaceleração do ciclo nos EUA. Essa perspectiva desafiadora no curto prazo resulta em margens menores que poderiam intensificar o nível de alavancagem da empresa. O momento desfavorável que a BRF atravessa impactou no resultado geral da Marfrig, porém, excluindo BRF, os números vieram em linha com o consenso, que já esperava um trimestre fraco. Justifica-se a alta a ajustes de mercado e a volatilidade implícita do papel. Vale ressaltar que o papel da Marfrig acumula uma queda de 19% desde o começo do ano.
Já nos destaques negativos, o resultado do 4T22 da Hapvida veio bem abaixo do esperado pelo mercado. Como descrito acima, a sinistralidade e capacidade de geração de caixa da empresa sofreram uma piora na base de comparação anual. O último resultado demonstrou que o crescimento da carteira e a evolução do ticket parecem estar bem abaixo do projetado, sinalizando um cenário de curto e médio prazo desafiador em termos de crescimento e ampliação das margens.
A reoneração dos impostos sobre os combustíveis e o anúncio do ministro Fernando Haddad de que o governo taxaria em 9,2% as exportações de petróleo bruto por quatro meses trouxe volatilidade para as petroleiras e resultou em recuos significativos para os ativos. Com a incidência de tributos sobre as exportações, é provável que haja um aumento de oferta de petróleo no mercado interno, influenciando diretamente nos preços. Para a 3R, o fator exportação não é primordial dado que ela vende toda sua produção para a Petrobrás. A notícia da paralisação temporária do Polo Papa Terra para manutenção e o pedido, por parte do governo, da suspensão das vendas de ativos da Petrobrás por 90 dias foram headlines que prejudicaram a cotação dos papéis. Como a 3R compra campos já explorados pela Petrobrás, o mercado precificou um risco para aquisições futuras e em andamento, como a do Polo Potiguar, já acordada por ambas as partes.
Para os ativos de consumo não discricionário, como CVC e Magazine Luiza, essa desvalorização se deu principalmente por fatores externos e o descarte da hipótese do corte da Selic no Brasil ainda esse ano. A indicação do FOMC de uma possível extensão do ciclo de juros americano para conter uma inflação ainda resiliente estressa ainda mais as curvas longas de juros, prejudicando essas empresas que (i) estão alavancadas ou (ii) cuja tese é de crescimento, extremamente sensíveis à Selic. Teve-se também um forte volume vendedor de Magazine Luiza, com Investidores realizando lucros após rally oriundo de especulações do case Americanas.
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