A bolsa americana interrompeu a trajetória de recuperação após o discurso mais hawkish do Jerome Powell no Jackson Hole. Essa semana o S&P 500 caiu -4,0%, Nasdaq -4,4% e Ibovespa subiu 0,7%. Após a recuperação da bolsa americana, os investidores já levantavam dúvidas sobre a sustentabilidade do movimento. Existem análises sugerindo que a recuperação foi muito mais baseada na cobertura de posições a descoberto do que em montagens de posições de longo prazo. Entendemos que o mercado vai ficar monitorando mais intensamente os dados da economia americana e inflação neste momento.
Essa semana ocorreu o simpósio de Jackson Hole, o qual une presidentes de bancos centrais, políticos e economistas do mundo. O tema da reunião deste ano foi “Reavaliando as restrições à economia e à política”. O discurso de Jerome Powell, presidente do Fed, afirmou que o ciclo de alta dos juros americanos precisa, inevitavelmente, continuar até que ele sinta confiança de que a inflação está controlada. Ele deixou claro que o foco do Fed no momento é controlar a inflação e reduzi-la para a meta de 2%. Assim, foi sinalizado que as medidas para chegar nesse objetivo podem causar uma desaceleração no mercado de trabalho americano. Acrescentou ainda que a inflação baixa no mês de julho é boa, mas não o bastante para que haja alívio no aperto monetário. Ele disse que, em algum momento, o Fed será capaz de reduzir o ritmo de altas de juros, mas esclareceu que isso não acontecerá antes que o BC americano veja sinais claros de que a inflação está seguindo em direção à meta de 2%. A bolsa americana reagiu com uma queda de -3,4% em relação à essa fala mais direta e explícita do Powell no sentido de reduzir a inflação.
O PCE, isto é a inflação ao consumidor, de julho nos EUA mostrou uma deflação de -0,1% m/m vs. a expectativa de estabilidade no mês. O núcleo também teve uma surpresa positiva, apresentando alta de +0,1%, contra +0,2% estimado. Essa queda pode ser explicada pelo arrefecimento nos preços de energia, com destaque para gasolina, mas especialmente pela menor pressão em serviços. Em contrapartida, o setor de alimentos sofreu uma aceleração nos preços. Esse dado fortalece um cenário de queda da demanda na economia americana, o que pode também resultar em uma desaceleração do PIB na parte de consumo no 2S22.
A prévia do PMI de agosto, índice que mede a atividade econômica dos EUA, teve um declínio na leitura. O PMI Composto, ou seja, aquele que inclui indústria e serviços, apresentou um recuo, ficando em 45 pontos, o menor nível desde maio de 2020. A explicação para essa queda ficou centralizada na leitura de serviços, o que aconteceu por conta da desaceleração da demanda em meio à inflação elevada e alguma queda na confiança dos consumidores. Mesmo com esse dado abaixo da expectativa, essa perda de força da economia americana já era esperada.
No Brasil, o IPCA-15 de agosto teve uma leitura de -0,73% m/m, representando uma leve surpresa, já que o mercado esperava queda de -0,83% m/m. Isso aconteceu principalmente por conta de um índice ainda pressionado nos setores de bens industriais subjacentes, alimentos e serviços. Por outro lado, a deflação foi intensificada pela atenuação nos preços dos combustíveis e energia elétrica, decorrente da diminuição de impostos e reajustes do preço de gasolina. Para o IPCA cheio do mês também se espera deflação especialmente por conta de uma dispersão nos preços de combustíveis e energia. Ainda, temos riscos altistas no curto prazo. O programa de Auxílio Brasil junto de um mercado de trabalho forte e uma atividade econômica firme, podem manter pressões nos preços. De qualquer jeito, a desaceleração na cotação das commodities no mercado internacional deve resultar em pressões baixistas.
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