19/08/22

Análise da Semana - 15 a 19 de agosto

Existe uma discussão atual se o aperto nas condições financeiras nos EUA já está fazendo um papel importante na desaceleração da economia, sendo que a alta de juros não precisaria ser tão intensa. Além disso, o Fed acaba de começar seu programa de aperto quantitativo que reverterá suas enormes compras de ativos destinadas a respaldar as bolsas e a economia nos últimos anos. A taxa do crédito imobiliário saltou dos 3,3% do início deste ano para 5,46% atuais. E o salto nas taxas de juros de curto e longo prazo nos mercados de renda fixa já realizou parte do aperto para o Fed. Nesse sentido a taxa estimada de juros de pico de 3% a 3,25% talvez seja suficiente para o atual processo de normalização da política monetária.

A Ata do FOMC foi divulgada e mostrou uma preocupação com a pressão inflacionária. Isso já era esperado, entretanto, a novidade está relacionada com uma demonstração de maior atenção para as evidências de desaceleração da economia. Agora, incluíram na discussão o ritmo de consumo do 2S22 e o aperto do mercado de trabalho, sendo uma primeira sinalização mais dovish. Mesmo assim, o comitê afirma que eles podem começar a diminuir a magnitude os ajustes, de 75 bps para 50 bps, no futuro, mas que os juros devem continuar em um nível restritivo por mais tempo.

O índice de produção industrial em julho nos EUA foi uma surpresa positiva. Enquanto o consenso esperava um aumento de 0,3%, a leitura do índice foi de 0,6% m/m. Essa surpresa foi catalisada pela produção de veículos automotores favorecendo o grupo de bens duráveis, o qual avançou 3,5% depois de alguns meses de queda. Mesmo tirando os veículos da conta, a medida ainda tem uma aceleração 0,3% m/m. Setorialmente, foi possível observar uma queda de -0,8% m/m em utilities enquanto em manufatura e mineração houve uma alta de 0,7%. Os indicadores antecedentes industriais mostram um ambiente desafiador para os próximos meses. Ao mesmo tempo que há espaço para aumento da produção por conta da necessidade de recomposição de estoques, a diminuição da demanda de bens e o aumento da taxa de juros devem dificultar o aumento do índice. Se o segmento apresentar estabilidade nos próximos dois meses, a indústria deve apresentar um aumento de 0,54%.

Os investidores têm analisado a China para tentar entender se pode vir uma desaceleração econômica numa das maiores economias do mundo. A China sofre os efeitos da política de tolerância zero de Pequim no combate à covid-19, e do esvaziamento de uma possível bolha imobiliária. A China vem lidando com problemas no setor imobiliário já faz algum tempo. Os preços dos imóveis residenciais estão caindo em muitas cidades depois de um período prolongado de aumentos. As maiores incorporadoras chinesas registram quedas – em termos anuais – nas vendas de apartamentos no país há mais de um ano. E milhões de apartamentos vendidos na planta, pelos quais os compradores adiantaram parte do valor do imóvel, permanecem inacabados, o que está levando alguns compradores a ameaçar suspender os pagamentos da prestação do financiamento. Além disso, alguns dados divulgados, incluindo a produção industrial, os investimentos em imóveis, os gastos de consumo e a contratação de jovens, tem mostrado que a economia chinesa está desacelerando em julho, indicando um desafio econômico que as autoridades monetárias irão enfrentar em um ano politicamente sensível para o presidente Xi Jinping, que busca um extraordinário terceiro mandato no poder. Um dos dados críticos foi o desemprego entre os jovens, que atingiu 19,9%, maior nível desde que esses dados começaram a ser divulgados em 2018. O governo reagiu cortando juros e injetando recursos na economia num esforço para amenizar essa desaceleração.

A nova evidência da desaceleração da China soma-se aos desafios diante da economia global, que já sofre com as consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia e os esforços dos bancos centrais dos EUA, Europa e de outros países para controlar a inflação via aumento dos custos de financiamentos. Esse cenário começa a impactar a tese de investimento positiva em relação aos produtores globais de commodities. Considerando que a China é a maior consumidora de matérias primas do mundo, os dados têm repercutido nos mercados de commodities. Entendemos ainda ser prematuro construir uma visão negativa em relação ao preço futuro das commodities, mas é uma situação a ser monitorada ao longo dos próximos meses.

Chegando perto do fim da temporada de resultados no Brasil, a IRB mostrou um prejuízo líquido de R$ 373,3 milhões. Esse número representou um prejuízo 80,4% maior do que as perdas de R$ 206,9 milhões no 2T21, impactado principalmente por um menor recebimento de prêmios e por um maior pagamento de sinistros. Outro motivo da piora, segundo a empresa, se deu pelos efeitos climáticos, os quais afetaram os riscos rurais. O índice de sinistralidade saiu de 95,7% para 124,2% alta de 28,5 p.p. t/t. Além disso, a companhia tem uma insuficiência de patrimônio líquido, o qual equivalia a 64% do capital mínimo requerido, representando uma insuficiência da cobertura de provisões técnicas e liquidez regulatória de R$ 729,7 milhões. Diante desse problema, o mercado estima que a empresa deve partir para uma capitalização entre R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão. E é provável que o mercado queira um desconto significativo no preço atual das ações para participar da operação. Nesse sentido as ações devem entrar num período de alta volatilidade.

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