15/08/22

Análise da Semana - 8 a 12 de Agosto

 

As bolsas apresentaram resultados positivos na semana, S&P500 +3,3%, Nasdaq + 3,1% e Ibovespa + 5,9%, em função dos dados de inflação divulgados globalmente abaixo das estimativas e a expectativa de que os BCs, daqui pra frente, sejam menos agressivos na alta de juros. Continua a discussão se essa melhora é um “bear market rally”, ou seja, uma correção técnica pontual depois de uma queda forte, ou se realmente é o início de um processo de recuperação mais estrutural.

 

O CPI, isto é, a inflação ao consumidor nos EUA, teve uma desaceleração depois de dois meses de surpresas altistas. O índice no mês de julho foi de 0% m/m, ficando 20 bps abaixo da expectativa de mercado. Isso aconteceu especialmente por conta da deflação de -4,6% m/m no setor de energia. Por mais que essa deflação fosse esperada, a magnitude da queda dos preços foi mais alta do que pensavam. Além disso, no agregado a deflação em passagens aéreas, vestuários e carros usados contribuíam para a descompressão do índice. Ainda, os principais componentes do núcleo perderam a força. De qualquer forma, os grupos de habitação e serviços ainda apresentam avanços acima do normal, de 0,5% m/m e 0,4% m/m respectivamente. Pode-se dizer que a composição veio mais favorável. Assim, a inflação acumulada no ano está em 8,5%. Espera-se que em agosto aconteça mais uma deflação nos preços de energia, mais especificamente, no preço da gasolina, porém com uma intensidade menor do que a observada em julho. Fora isso, o aumento do custo de crédito e a confiança do consumidor em queda deve impactar no consumo, acomodando as pressões no setor. Em contrapartida, o mercado de trabalho apertado e as pressões salariais devem manter o núcleo em um nível elevado nos próximos meses. Tudo isso pode indicar que a inflação pode estar perto do seu pico. Mesmo assim, trazer a inflação para a meta de 2% ainda será um grande desafio, principalmente por conta do setor de serviços e habitação, nos quais os preços não param de subir.

Também foi divulgado a Inflação ao Produtor dos EUA, chamada de PPI, do mês de julho, a qual teve um resultado bem abaixo do esperado. Foi registrada uma deflação de -0,5% m/m contra a expectativa de uma leitura de 0,2% m/m. Nesse caso, a surpresa foi potencializada pela queda no setor de energia que sozinho contribuiu com -60 bps para o resultado do mês. Essa desaceleração foi menor no núcleo, ficando em 0,2 m/m enquanto o consenso esperava um índice de 0,4% m/m. Isso se deu por conta de reduções em comércio e transporte e armazenagem. No curto prazo essa tendência de desaceleração dos preços das commodities deve se manter. Tanto o PPI quanto o CPI abaixo do esperado podem diminuir a expectativa de mais uma alta de 75 bps na taxa de juros americana em setembro. De qualquer forma, até a próxima reunião já terá sido calculado e divulgado o CPI e o payroll de agosto, o que pode mudar o cenário.

 

No Brasil, o IPCA de julho apresentou uma deflação a um patamar de -0,68% m/m, pouco abaixo da expectativa de mercado de -0,65% m/m. Quando comparamos com o mês de junho, os principais fatores que fizeram com que o índice caísse foram os preços de combustíveis e energia elétrica, causados pela mudança de tributos federais e estaduais, além de um corte de preços dos combustíveis promovidos pela Petrobras. Sendo assim, transporte e habitação representam -1,16 p.p. da leitura. Por outro lado, o setor de alimentação no domicílio acelerou 1,47% m/m e o de alimentação fora do domicílio arrefeceu ficando em 0,82% m/m. A média dos núcleos desacelerou para 0,53% m/m, isso aconteceu principalmente pela queda de bens industriais. Serviços se manteve em um nível elevado. Dessa forma, o IPCA está com uma taxa de 4,77% acumulado no ano. Espera-se que em agosto tenhamos mais um mês de deflação, ainda por conta dos preços de combustíveis e energia. De qualquer forma, ainda temos riscos altistas e baixistas no curto prazo. Os altistas estão relacionados com a distribuição do Auxílio Brasil, junto de uma atividade econômica resistente e um mercado de trabalho forte, o que deve manter os preços de serviços elevados. De maneira contrária, a desaceleração das commodities deve resultar em pressões baixistas.

A ata do Copom pareceu mais dovish do que o que foi comunicado semana passada na reunião. Como consequência de uma normalização das cadeias globais de suprimento há um menor desequilíbrio no mercado de bens industriais, isso por conta da desaceleração da atividade global. Isso faz com que o Banco Central acredite que há uma maior chance de redução de preços de commodities. Assim, seria possível observar impactos desinflacionários. Foi dito também que os efeitos defasados da política monetária irão desacelerar a economia de forma mais significativa de agora em diante. Em suma, parece que o comitê reforçou de forma mais explícita a vontade de acabar com o ciclo de aperto monetário. Mesmo assim, ainda existe a possibilidade de aumento de 25 bps em setembro.

O indicador de serviços de junho mostrou uma surpresa positiva, com um resultado de 0,7% m/m, contra uma expectativa de 0,4% m/m. Dessa forma, o setor teve uma alta no 2T22 de 1,1% t/t. Os grupos que tiveram melhor desempenho foram transportes terrestres, serviços técnicos profissionais e outros serviços prestados às famílias. Espera-se que no 3T22, se o setor se mantiver estável, serviços deve crescer 0,6% t/t. Ou seja, há uma expectativa de desaceleração em relação ao 2T22, mas ainda com contribuição positiva para a atividade econômica.

Estão saindo vários resultados das empresas brasileiras. O resultado divulgado pela 3R Petroleum do 2T22 foi positivo. A partir do ajuste realizado, relativo à aquisição do polo Macau, o EBITDA alcançou R$ 206 milhões representando um aumento anual de 127% e um desempenho acima da expectativa de mercado. Vale destacar que o plano de crescimento da companhia, sustentado pelo aumento de ativos no portfólio, deve resultar na elevação de custos temporários acima do crescimento da receita. Entretanto, acreditamos que com a consolidação do aumento da produção e a manutenção da eficiência na extração, a performance da empresa deve melhorar. Gostamos dessa empresa e representa uma boa opção de investimento.

A Santos Brasil apresentou um trimestre de resultados positivos e margens sólidas. De maneira geral, os números ficaram acima do consenso. Mesmo com os volumes de movimento nos terminais portuários sendo fracos no trimestre a receita líquida cresceu 32% a/a, ficando em um patamar de R$ 501 milhões. Isso aconteceu especialmente por conta dos altos tickets médios, fruto de renegociações contratuais com seus clientes. O EBTIDA foi de R$ 213 milhões, representando um crescimento de 44% a/a, gerando uma margem de 43%. Além disso, o lucro líquido foi de R$ 102 milhões, quase o dobro do lucro líquido no 2T21. Esse desempenho é reflexo de um bom momento na indústria no curto prazo. Gostamos dessa empresa e representa uma boa opção de investimento.

A Magazine Luiza mostrou um resultado do 2T22 fraco. Isso principalmente por conta da difícil base de comparação do e-commerce do ano passado, as condições de mercado mais difíceis, além da operação de lojas físicas terem sido impactadas pelas pressões inflacionárias e pela menor demanda de eletrodomésticos e eletrônicos. O SSS, ou seja, vendas em mesmas lojas, apresentou uma queda de 8,2% a/a, ficando 5% abaixo da expectativa do BTG. Mesmo assim, uma maior participação do e-commerce nas vendas foi compensada por maiores vendas de serviços e aumento de preços. Isso fez com que a margem bruta aumentasse 300 bps a/a, a margem EBTIDA ajustada cresceu 60 bps a/a e o EBTIDA ajustado cresceu 8,1% a/a, chegando a R$ 494 milhões, isso se deu especialmente por conta da alavancagem operacional da empresa. De qualquer forma, foi apresentado um prejuízo líquido ajustado de R$ 112 milhões, muito influenciado pela piora nos resultados financeiros, por conta da alta da taxa de juros no período. A Magalu teve um fluxo de caixa operacional positivo de R$ 1,3 bilhão vs -R$ 2,9 bilhões no 1T22. A expectativa é de que as ações da empresa continuem voláteis nos próximos meses e, mesmo que as ações estejam sendo negociadas a níveis extremamente baixos de EV/vendas, acredita-se que os preços continuarão pressionados no curto prazo.

O Banco do Brasil também divulgou seu resultado essa semana, apresentando ótimos números para o trimestre. O banco teve um lucro líquido ajustado de R$ 7,6 bilhões, representando um ROE de 19,7% e uma alta de 15% t/t e 38% a/a. Esse resultado ficou 20% acima do consenso. Nesse contexto, o BB aproveitou para anunciar uma revisão de seu guidance, aumentando seu lucro líquido de 2022 para R$ 27-30 bilhões. Além disso, revisaram também o crescimento de crédito, o qual deve ficar entre 12% e 16%, e o crescimento da margem financeira, que deve ser maior do que o crescimento do portfólio em 13-17%. No momento, a empresa está sendo negociada a 4,0x P/L, o que significa que seu valuation continua atraente, mesmo depois de um aumento significativo do preço das ações ao longo do ano. O crédito teve um aumento de 3% t/t e 15% a/a, impulsionado por crédito rural, crédito consignado, empréstimos corporativos e cartões de crédito. Dessa forma, o crescimento da margem financeira do crédito foi de 10% t/t. Além disso, levando em consideração a alta dos juros nos títulos de renda fixa atrelados à Selic, o banco teve 27% t/t e 136% a/a de crescimento nos ganhos em tesouraria. Tudo isso resultou em uma forte margem financeira, com um aumento de 19% a/a. Com a aproximação das eleições presidenciais a ação deve apresentar uma maior volatilidade. De qualquer forma, O BB representa uma opção interessante de investimento, tendo em vista seu forte momento operacional e seu valuation atrativo.

 

A performance da Cyrela no 2T22 se mostrou sólida, mas não gerou grandes surpresas no mercado. A receita líquida da companhia ficou em R$ 1,25 bilhão, significando um aumento de 5,8% a/a e 1,5% t/t. Fora isso, a margem bruta chegou a um patamar de 31,3%, apresentando uma evolução de 20 bps t/t e –530 bps a/a. Tal margem foi influenciada por produtos com margens menores e os custos de construções mais elevados. Ainda, o lucro líquido foi de R$ 151 milhões, reportando uma queda de 43,5% a/a.

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