06/08/22

Análise da Semana - 1 a 5 de Agosto

Essa semana as bolsas apresentaram performances positivas, Ibovespa +3,2%, S&P 500 +0,4% e Nasdaq +2,2%. A postura do Fed na semana passada, falando sobre a possibilidade da alta de juros ser mais gradativa causou uma forte recuperação na bolsa americana no mês de julho, S&P +9,1%, impactando positivamente outras bolsas, Ibovespa +4,7%. Os fundamentos ainda estão complexos e o mercado se questiona se esse rally pode continuar ou foi um movimento isolado. Parte dessa alta pode ser explicada também pelo stop nas posições shorts, que é quando os fundos que estão apostando na queda da bolsa americana, montando posições vendidas, desmontam as posições para estancar as perdas. Fundos quantitativos que operam momentum também podem ter iniciado processos de compra. Difícil falar sobre a continuidade desse movimento de recuperação, mas talvez essa alta seja sustentável em função do excesso de pessimismo pelos gestores de fundos americanos. Continuamos mais positivos com a bolsa brasileira do que em relação à bolsa americana.

 

Nos Estados Unidos a criação de vagas em julho teve uma leitura surpreendente. Enquanto o mercado esperava uma criação de 250 mil vagas, geraram 528 mil, ou seja, o resultado foi mais do que o dobro das expectativas. Assim, no ano já temos a criação de 3,3 milhões de vagas. O setor de serviços tem tido uma forte criação de empregos, principalmente em cargos de baixa remuneração. Ademais, o ganho médio por hora apresentou um aumento de 0,5% m/m, acima da expectativa de 0,3% m/m. Ainda, a taxa de desemprego caiu para 3,5%, levemente abaixo do esperado. Nos próximos meses a criação de vagas pode continuar crescendo, especialmente por conta do setor de serviços e pelo alto nível de vacância. Fora isso, o medo dos americanos da recessão deve causar uma maior busca de emprego, mantendo os efeitos positivos de preenchimento de vagas.

 

Ainda nos EUA, os resultados da Caterpillar surpreenderam as estimativas de Wall Street. Gostamos de analisar os resultados de Caterpillar por ser um indicador global de como estão os setores de mineração e construção pesada. A empresa teve uma receita de vendas de US$ 14,2 bilhões, gerando um lucro ajustado por ação de US$ 3,18, contra a expectativa de US$ 3,03/ação. Mesmo com as ações da empresa caindo 0,6% no S&P500 após o anúncio, a gestão teve um bom sentimento em relação aos resultados, além de não haver nenhum ponto preocupante na leitura. O bom resultado do trimestre é produto de uma demanda saudável. Isso é um bom sinal, o volume das unidades aumentou assim como os preços. Essa alta de preços mais do que compensou os custos crescentes. A empresa espera que as vendas no 3T22 cresçam enquanto o mercado acredita que haja uma queda. Além disso, há a expectativa de que a margem de lucro operacional também cresça no 2S22.

No Brasil, ocorreu a reunião do Copom e, como esperado pelo mercado, anunciaram uma alta de 50 bps na taxa Selic. Assim, o nível da taxa de juros atinge um patamar de 13,75%. O comunicado dado pelo comitê indicou que vão avaliar a possibilidade de um novo ajuste de menor magnitude (+25 bps) na próxima reunião de setembro, porém já praticamente encerraram as chances de mais ajustes em outubro. O momento para o fim do ciclo é bem desfavorável, já que houve um aumento nas expectativas de IPCA 2023 acima do teto de inflação e, fora isso, há também uma deterioração do cenário fiscal nos próximos anos proveniente da possível continuidade das medidas ficais para estimular a demanda. Como estamos encarando esse cenário adverso, acreditamos que em setembro mais um movimento na taxa seja adequado, mas deve ser um movimento menor e sinalizando o fim do ciclo de alta.

 

No mês de junho o resultado da produção industrial no Brasil mostrou um recuo de -0,4%, após de 4 meses de alta. Essa desaceleração valida as últimas leituras mais comedidas, tendo em vista a queda de produção de papel ondulado e a redução do volume de transportes de cargas nas estradas. Por outro lado, a produção de veículos aumentou 6,1% m/m. Dessa forma, o índice de produção industrial do 2T22 fechou com uma alta de 0,86%. No 3T22, caso haja estabilidade nas divulgações do setor, devemos observar uma queda -0,2% t/t. Junto com a desaceleração dos indicadores anteriores isso seria um sinal de perda de força na indústria. Com isso, no 2S22 o setor industrial pode ter um impacto negativo levado pelo aperto nas condições financeiras.



Continuamos com a temporada de divulgação de resultados no Brasil. O resultado do Mercado Livre teve uma leitura positiva, apresentando crescimento e resiliência. O GMV (Volume Bruto de Vendas) cresceu 22% a/a, sendo 7% acima do esperado, e o TPV (Volume Total de Pagamentos) subiu 72%, acima da projeção do mercado. Além disso, a receita líquida consolidada foi de US$ 2,6 bilhões, representando um crescimento de 53% a/a. As eficiências de custo na rede de transporte e alavancagem operacional nas cobranças de taxas de pagamento impulsionaram o aumento de 150 bps a/a na margem bruta. Além disso, foi reportado um lucro líquido de US$ 123 milhões, ainda estável em relação ao mesmo período do ano anterior e abaixo das projeções, ocasionado por maiores despesas financeiras e perdas cambiais. Todas essas informações reforçam que a empresa tem um modelo de negócio resiliente. Entretanto, a inadimplência, a exposição à Argentina e a correlação com as taxas de juros globais devem fazer com que o preço da ação mantenha certa volatilidade no curto prazo. Por fim, acreditamos que Mercado Livre esteja a frente de seus pares no sentido de que além de crescer, ela cria valor para os seus acionistas. Gostamos da operação e recomendamos a compra com o horizonte de longo prazo.

Simpar também divulgou seus resultados, mostrando um fechamento de trimestre sólido. A receita líquida da empresa atingiu R$ 5,5 bilhões, um crescimento de 73% a/a, contra a projeção da OBB Capital de 78% a/a. O EBTIDA também veio em linha com nossas estimativas, crescendo 77% a/a. Entretanto, despesas financeiras causadas principalmente por juros, derrubaram o lucro líquido em -46% a/a. As empresas de aluguel são destaque do trimestre novamente. A Vamos também mostrou resultados sólidos, com expansão de frota. A Movida também apresentou bons números, com desempenho operacional robusto. Por último, a JSL teve números acima do esperado proveniente de margens sólidas e um crescimento inorgânico relevante. A holding parece estar no caminho certo para bons resultados no longo prazo. Contando com os valuations de suas empresas listadas e estimados para suas outras subsidiárias e a dívida líquida, pode-se dizer que o valor atual da holding apresenta um desconto de 31% sobre seu valor justo.

Iguatemi apresentou um bom resultado no 2T22. Os números saíram bem em linha com as expectativas do BTG. A receita líquida teve um crescimento de 49% a/a, atingindo R$ 254 milhões e o EBTIDA ajustado cresceu 58% a/a, ficando em R$ 172 milhões, com uma margem de 68%. O lucro líquido ajustado, excluindo os efeitos não recorrentes e o resultado do swap de ações, foi de R$ 55,4 milhões, +58% a/a. Além disso, o portfólio da Iguatemi teve um bom desempenho, fora o crescimento robusto de SSS e SSR, o índice de inadimplência dos varejistas foi de -2,3%, ou seja, arrecadaram aluguéis atrasados, e a taxa de vacância está em 7,4%, representando uma queda de -250 bps a/a. Ainda, a empresa diminuiu seu custo de ocupação dos lojistas deixando mais espaço para ganhos de receita. Com isso, acreditamos que a empresa deve entregar um forte desempenho ano que vem. A ação ainda está sendo negociada perto dos níveis de 2020, coisa que não parece justificável.

Por fim, o resultado das Lojas Renner mostrou números melhores em comparação ao 2T21. A receita líquida do varejo teve um aumento de 41% a/a, ficando em um patamar de R$ 3,2 bilhões. Disso, o canal digital representa 13% do GMV, crescendo 27% a/a. A receita líquida da bandeira Renner subiu 44% a/a, as vendas da Youcom cresceram 66% e, indo em sentido contrário, as da Camicado sofreram uma queda de 14%, tendo em vista o cenário em que o segmento de móveis para casa está prejudicado. Por outro lado, as despesas de vendas, gerais e administrativas cresceram 56% em relação a 2T19, com maior alavancagem operacional no período. Dessa forma, o EBTIDA ajustado do varejo foi R$ 690 milhões, 52% mais alto do que no mesmo período em 2019, mas em linha com nossas expectativas, e a margem EBTIDA caiu 70 bps em comparação com 2T19. Com as vendas em recuperação e margens melhorando quando comparadas aos trimestres anteriores, a empresa deve ganhar participação de mercado no segmento de varejo de vestuário. Continuamos achando a ação uma boa opção para investir no setor de varejo no Brasil.

Topo

Artigos relacionados

Escritório

  • Rua do Rócio, 350 
    1º andar
    Vila Olímpia, São Paulo - SP
    CEP 04552-000

Contatos

  • (11) 2147 0450

  • Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

2022  Todos os Direitos Reservados | Política de Privacidade