11/08/23

Análise da Semana - 7 a 11 de Agosto

O CPI, índice de preços ao consumidor americano, teve uma alta de 0,2% m/m em julho, no núcleo a aceleração foi de mesma magnitude. Essa leitura não mostrou surpresa em relação ao consenso Refinitv. Na comparação anual, o índice registra um aumento de 3,2%, pouco abaixo dos 3,3% a/a estimados pelo consenso. O maior contribuinte para o aumento mensal do CPI foi o componente de habitação, sendo responsável por mais de 90% da alta. Além disso, os componentes de seguros para veículos também ajudaram a elevar o nível de preços. Essa leitura reforça o sentimento de que a inflação está cedendo e, consequentemente, o FED deve interromper o ciclo de aumento de juros. O nível de preços ainda está bem abaixo da meta, corroborando com a ideia de “higher for longer” que o comitê já havia antecipado há algumas reuniões.

Na China, o CPI de julho recuou 0,3% a/a, registrando a primeira deflação desde fevereiro de 2021. Já na comparação mensal, a variação do índice foi de 0,2%. A leitura foi um pouco abaixo das expectativas. Esse dado reforça a preocupação sobre um processo de deflação na China, tendo em vista que a demanda doméstica fraca atrapalha a recuperação econômica do país já que deixa as empresas privadas mais resistentes em investir e expandir negócios.

A Berkshire Hathaway reportou seu resultado referente ao 2T23 em linha com o esperado. O lucro operacional da empresa cresceu 6,6% a/a e o lucro atingiu US$ 35,91 bilhões de dólares após reverter perdas não recorrentes que aconteceram no ano passado. O caixa da empresa cresceu 12,8% t/t, chegando próximo de US$ 150 bilhões. Além disso, a empresa recomprou menos ações no trimestre, totalizando US$ 1,4 bilhão e acumulando um total de US$ 5,8 bilhões no ano, representando um yield de um pouco mais de 1%. A empresa tem a Apple como uma das suas maiores posições e reduziu recentemente sua posição de Chevron. P/E = 20,3x.

Brasil

A Ata do Copom sinalizou que o BC não deve intensificar o ritmo dos ajustes na taxa de juros. Para isso será necessário que a dinâmica inflacionária melhore, ou seja, que aconteça uma reancoragem mais sólida das expectativas, que o hiato do produto seja mais negativo e que seja observada uma melhor dinâmica para a inflação de serviços do que o esperado. Aparentemente os membros do BC não consideram isso provável, por isso salientam que a taxa terminal deve permanecer em terreno contracionista. A principal preocupação do comitê é em relação ao hiato do produto, tendo em vista um mercado de trabalho e inflação resilientes. Mesmo com essa sinalização, o mercado não reduziu as probabilidades de -75 bps em dezembro. Continuamos achando que até o final do ano acontecerão 3 cortes de 50 bps. O relatório Focus já aponta uma taxa de juros em 9% em 2024.

O IPCA de julho teve uma aceleração de 0,12% m/m, acima dos 0,07% m/m projetada pelo Valor Data, depois de uma deflação em junho. Com essa leitura, acumulamos uma alta no índice de preços de 3,99% nos últimos 12 meses, acima do centro da meta inflacionária estabelecida pelo Banco Central de 3,25% para 2023. A difusão do índice caiu para 46,2% contra 49,6% em junho. A principal contribuição do mês foi o preço da gasolina, que aumentou 4,75% m/m, representando um impacto de 0,23 ponto percentual.

O volume de vendas no comércio varejista ficou estável em junho na comparação mensal, abaixo da estimativa do mercado de 0,4% m/m. Os principais detratores da leitura foram os grupos de equipamentos e material para escritórios, outros artigos de uso pessoal e doméstico, artigos farmacêuticos e combustíveis. Dessa forma, o primeiro semestre do ano acumula um crescimento de 14,5% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Essa alta é especialmente explicada pelo bom desempenho que o setor teve em janeiro, desde então o comércio varejista vem perdendo o ritmo.

Essa semana a companhia paranaense de distribuição e geração de energia elétrica, Copel, concluiu sua privatização. Essa foi a segunda privatização recente mais importante, depois de Eletrobrás. A transação teve uma alta demanda de reservas, registrando mais de R$ 15 bilhões. Com isso, o estado do Paraná embolsou R$ 3,16 bilhões com a oferta, vendendo parte de suas ações e deixando o controle da empresa. Por sua vez, a Copel aproveitou a operação para reforçar o seu caixa, ganhando fôlego para fazer frente aos investimentos já contratados.

Itaú apresentou resultados do 2T23 em linha com as expectativas e se destaca entre seus concorrentes.  Mesmo que o setor bancário venha apresentando pouco crescimento de crédito, a carteira de empréstimo do banco subiu 7% a/a e 1,3% t/t e mostrou estabilidade, se superando entre seus pares. O ROE foi em linha com o consenso, ficou em 21%, valor bem acima dos outros bancos. O lucro líquido foi de R$ 8,74 bilhões, cresceu 4% t/t e 14% a/a, levemente acima do esperado pelo BTG. P/E = 7,1x

Lucro líquido da Vivara cresceu 23,5% no ano em trimestre favorecido pelo Dia das Mães e dos Namorados. Sua receita foi de R$ 559,9 milhões, aumento de 19,3% a/a, enquanto o EBITDA teve margem de 23,6% e ficou em R$ 132,4 milhões. Já o lucro líquido atingiu R$ 109,9 milhões e o lucro bruto R$ 390,1 milhões. A marca Life foi a grande impulsionadora desse resultado, já que a performance está 20% acima do esperado segundo o CEO, crescendo ao lado da presença online da empresa. O ticket médio da Life é de R$ 500, uma loja da marca hoje soma R$ 6 milhões de vendas por ano em média e é responsável por 34,8% dos negócios da Vivara hoje. P/E = 18,5x.

SLC Agrícola reportou 2T23 dentro do esperado, mostrando solidez mesmo com queda em números no ano a ano. O índice de alavancagem da empresa foi de 1,8x, mesmo havendo uma queima de caixa devido à sazonalidade do capital de giro e pagamento de leasings. O EBITDA foi de R$ 570 milhões, em linha com as estimativas do BTG, apesar dos custos mais altos. O lucro líquido de R$ 334 milhões foi 71% acima da previsão do BTG. Os resultados do 2T23 refletiram a desaceleração que o setor enfrenta, ao mesmo tempo que a SLC se mostrou resiliente dentro das limitações do cenário, superando as expectativas. Apesar das expectativas de queda para os preços agrícolas, achamos que a empresa está negociando a múltiplos atrativos e temos uma visão positiva. P/E = 7,8x.

Com recorde histórico de lucro líquido, BTG se torna segundo maior banco da bolsa de valores brasileira. As receitas somaram R$ 5,4 bilhões, enquanto o NNM (Net New Money) foi de R$ 61 bilhões, com altas de, respectivamente, 21% e 31% ao ano. O Corporate Lending e PMEs cresceram 46% a/a e contribuíram para uma carteira de crédito quase 30% maior, sem prejudicar as taxas de inadimplência. O ROE foi de 22,7%, o maior já reportado, devido aos bons números da tesouraria e crédito. O lucro também foi recordista, no total de R$ 2,6 bilhões, alta de 18% a/a e 14% t/t. Além disso, usando a métrica de ações ordinárias e preferências, o Bradesco ficou para trás do BTG em valor de mercado. Acreditamos ser o melhor banco de investimentos entre seus concorrentes, com uma boa capacidade de se posicionar no mercado. O banco digital tem criado bastante valor para o grupo. P/E = 12,7x.

O resultado de Simpar foi levemente acima do consenso e teve um 2T23 com números operacionais sólidos. Entre suas subsidiárias, a JSL foi destaque, enquanto Movida sofreu com custos de adição de frota e Vamos teve pontos positivos e negativos. No acumulado, a empresa apresentou receita líquida de R$ 7,6 bilhões, subindo 40% a/a., em linha com a estimativa do BTG. O consenso do mercado estimava um EBITDA de R$ 2,15 bilhões, e a Simpar entregou R$ 2,3 bilhões, registrando alta de 33% a/a. Já o lucro líquido somou R$ 12 milhões, 53% de queda ao ano, que já era esperada pelo mercado devido ao grande aumento das despesas financeiras. P/E = 5,9x.

Banco do Brasil mostrou um resultado sólido no 2T23, sem grandes surpresas. Assim como alguns dos seus pares, a carteira de crédito do BB cresceu 14% a/a, mas a qualidade é questionável, já que nesse trimestre houve um significativo aumento na inadimplência, com uma alta de 144% a/a no custo de crédito, impulsionada pela provisão da Americanas. A sua receita de serviços subiu 6% a/a, e ficou em R$ 8,3 bilhões, abaixo da expectativa do mercado, enquanto a margem da receita total foi recorde histórico de 28,3%, influenciada pelas receitas financeiras da instituição. Seu lucro líquido foi de R$ 8,8 bilhões, que representa um aumento de 21% a/a, e refletiu que mesmo com a baixa qualidade de crédito e receita de serviços abaixo das provisões, o banco conseguiu se manter resiliente em seu faturamento e com um ROE de 20,4%. P/E = 3,5x.

Os números da Santos Brasil vieram em linha com as expectativas no segundo trimestre. A receita líquida empresa foi de R$ 507 milhões e o EBITDA totalizou R$ 222 milhões, se mantendo estável em relação ao ano anterior. Dessa forma, a margem EBITDA foi de 44%, 100 bps abaixo das expectativas do BTG, porém maiores do que os 43% no mesmo período do ano passado. Além disso, o lucro líquido foi um pouco abaixo do previsto, ficando em R$ 94 milhões contra os R$ 107 milhões esperados. Os volumes nas operações nos cais foram 12% menores do que os praticados no 2T22 por conta de uma desaceleração nas importações, menores exportações de commodities e menor movimentação de cabotagem, de forma que a receita líquida sofresse uma queda de 3% a/a. Espera-se resultados melhores a partir do terceiro trimestre, tendo em vista volumes beneficiados pela sazonalidade e renegociação de contratos. Gostamos do investment case, porém ela já está negociando mais próxima do preço justo. P/E = 14,8x.

Mercados

Nessa segunda semana de agosto, os mercados permaneceram majoritariamente no campo negativo, digerindo a recalibração das perspectivas futuras acerca das direções das políticas monetárias de algumas das principais economias do mundo. Na esfera global, índice de preços ao consumidor dos Estados unidos e China e dados da balança comercial chinesa foram os principais drivers de preço. No âmbito doméstico, mercado repercutiu a divulgação da ata do COPOM, IPCA de julho e a continuidade da bateria de resultados corporativos.

A aceleração do IPCA de julho e a ata do COPOM demonstraram aos investidores que ainda há um caminho longo a ser percorrido no ciclo de baixa de juros, o que eliminou algumas apostas de reduções mais agressivas na Selic até o final do ano. Como já precificado, a ata do COPOM sinalizou o corte de mais 50 bps em setembro, o que levaria a Selic a patamares abaixo de 13%. Vale ressaltar que a declaração do presidente do BACEN de que as expectativas de inflação para 2025 estão muito perto da meta gerou otimismo e os juros futuros caíram ontem, com DI embutindo 60 pontos de corte no próximo mês.

Os números do índice de preços ao consumidor (CPI) dos Estados Unidos vieram levemente abaixo das previsões do mercado. O número ainda está bem acima da meta do FED, mas reforçou o sentimento que a inflação vem cedendo e de que o Federal Reserve pode pausar o ciclo contracionista na próxima reunião. Assim, após a divulgação, viu-se os vencimentos mais curtos da curva americana cederem, ou seja, yields sinalizando que há espaço para queda de juros e que não serão necessários novos aumentos. Já os vencimentos mais longos permaneceram mais próximos da estabilidade.

A China reportou dados decepcionantes nessa semana, como a queda nas exportações, importações e desaceleração do índice de preços ao consumidor. O conjunto de números fracos resultou em uma deflação em julho, algo que não acontecia desde fevereiro de 2021. Com números ruins e, também, uma piora no cenário imobiliário, o mercado passou a precificar um view negativo para a demanda chinesa. Nesse sentido, viu-se bastante volatilidade no minério de ferro, que por sua vez, impactou as ações da Vale e o Ibovespa como um todo, considerando a relevante participação da companhia no índice.

Repercutindo a bateria de resultados corporativos e as constantes variações no preço das commodities em geral, o Ibovespa acumulou uma baixa de 1,21% e fechou a semana aos 118.065 pontos. O grande destaque da semana fica para o resultado do 2T23 do BTG Pactual, que superou as expectativas. O banco apresentou recorde de lucros e mais um avanço em sua eficiência, com um ganho de rentabilidade de dois pontos percentuais (ROE de 22,7%).

Resumindo a semana, o dólar se apreciou em relação ao real e os vencimentos mais longos da curva de juros brasileira mostraram uma leve inclinação. Teve-se um volume predominantemente vendedor no Ibovespa, com um contínuo movimento de realização de lucros após o índice testar os 122 mil pontos no começo do mês. Após os dados dessa semana, vemos no geral uma reprecificação dos mercados, que ajustaram suas expectativas acerca do prolongamento do ciclo de suas respectivas contrações monetárias vigentes.

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