17/02/23

Análise da Semana - 13 a 17 de fevereiro

Global - O CPI, índice de preços ao consumidor americano, de janeiro teve um avanço de 0,52% m/m, em linha com as expectativas do mercado.  Em relação ao dado de novembro, 0,1% m/m, observamos um aumento, influenciado pelos maiores preços de energia, tendo em vista a retomada dos preços de gasolina. Além disso, o núcleo teve uma aceleração de 0,41% m/m, também em linha com o consenso, pressionada pelo setor de serviços. Com a revisão das últimas leituras, a média móvel do CPI dos últimos 3 meses voltou para o patamar positivo, o que não é um bom sinal para o Fed. Essa leitura reforça a baixa probabilidade de cortes na taxa de juros, além de sustentar o discurso do FOMC.

Já o PPI, inflação ao produtor americano, de janeiro surpreendeu o mercado, com uma leitura de 0,7% m/m vs. 0,4% m/m projetado pelo mercado. Dessa forma, encerramos 2022 com uma alta de 6,5% a/a. Setorialmente, a principal alta foi em bens, serviços e construção. Mesmo com a melhora nos gargalos produtivos, as tensões no leste europeu e a reabertura chinesa devem manter o nível de preços ao produtor elevado durante o ano.

 As vendas no varejo nos EUA apresentaram um aumento de 3% m/m em janeiro vs. 2% m/m estimados pelo consenso, ainda representando uma aceleração em relação ao dado do mês anterior. Essa leitura sugere uma resiliência na demanda, enquanto do lado da oferta houve estabilidade. No varejo (demanda), foram observados avanços em todos os grupos pesquisados, com destaque para vendas de veículos e para o grupo de serviços. Já do lado da indústria (oferta), tivemos uma surpresa negativa, tendo em vista que se esperava um aumento de 0,5% m/m na atividade. Dessa forma, esse dado junto dos fortes resultados de payroll e ISM, junto a melhora do ambiente global, faz com que existam menores riscos de recessão no curtíssimo prazo.

 O mercado americano precifica taxas de juros em torno de 5,3%, ante uma projeção anterior de 4,9%. A Goldman Sachs agora espera que o Fed eleve os juros para um patamar de 5,25-5,5% em junho, com mais três altas de 0,25 pontos percentuais.

Os estrategistas do BofA estimam a chegada de uma recessão tardia nos EUA, que pesará sobre os mercados de ações na segunda metade do ano. Os dados que mostram uma economia resiliente até agora implicam taxas de juros mais altas por mais tempo. Uma pesquisa recente, também realizada pelo BofA, entre os gestores globais de fundos, indicou que eles não estão convencidos de que o rali das ações de 2023 vai durar, diante dos comentários hawkish dos dirigentes do Fed e dados de inflação ainda pressionada. Michael Wilson, do Morgan Stanley, disse essa semana que as ações americanas podem passar por um período de correção negativo, depois de precificar prematuramente uma pausa nos aumentos do Fed. Já estrategistas do Wells Fargo acreditam que uma correção em torno de 5% nas ações americanas seria um ponto de entrada, dado que eles entendem que uma aterrisagem forçada nesse momento é improvável, uma vez que a economia continua resiliente. Nossa opinião é de cautela, por enquanto, em relação às ações americanas.

 Brasil

Foi divulgado o IBC-Br de dezembro, índice de atividade econômica usado como proxy do PIB mensal, o qual apresentou um avanço de 0,29% m/m, acima das expectativas de mercado de 0,10% m/m. Dessa forma, o índice encerra o ano com uma alta de 2,9%. Setorialmente, a leitura foi bastante heterogênea. No varejo tivemos uma forte surpresa baixista, causada pelo encarecimento do crédito e aumento da inadimplência. A indústria registrou estabilidade, mas fechou o ano com queda em todas as categorias. Por outro lado, a surpresa altista veio do setor de serviços, impactado pelas festas de final de ano e copa do mundo. Os dados mais fracos de atividade econômica mostram um sentimento de menor crescimento. Se o índice permanecer estável, devemos observar um recuo de -0,1% no 1T23 em relação ao 4T22.

 A temporada de resultados continua no Brasil. O Banco do Brasil reportou um resultado trimestral recorde, com lucro líquido de R$ 9 bilhões, representando um ROE de 22,5%, no 4T22. Isso significa que o lucro líquido aumentou 8% t/t e 52% a/a, acima do consenso do BTG. Em 2022 totalizou-se R$ 31,8 bilhões de lucro líquido ajustado, 3% acima do Itaú e superando em 30% o guidance inicial reportado pelo banco no início do ano. Agora, a expectativa do BB é que essa métrica ainda aumente 10% a/a. Vale destacar que as provisões no período aumentaram 29% t/t, ficando em R$ 8,2 bilhões devido ao maior custo de crédito para o varejo e pelas provisões relacionadas a Americanas, as quais foram apenas 50% contabilizadas. Dessa forma, podemos entender que o resultado divulgado não é tão incrível quanto parece. Fora isso, o balanço da empresa está forte, com uma carteira de crédito defensiva. Assim, caso o guidance se concretize, a ação ainda está sendo negociada abaixo do preço justo estimado pelo BTG. Os principais riscos do papel são políticos apesar do novo management ser técnico e competente.

O BTG Pactual fechou 2022 com um ROE de 20,8%, acima do guidance de 20% que o banco havia informado para o ano. As receitas cresceram 24% no ano para R$ 17,2 bilhões. O lucro foi de R$ 8,3 bilhões, um ganho de 28%. Os números consideram uma provisão de R$ 1,2 bilhão para a Americanas. O banco disse que o número equivale a 63% de sua exposição de R$ 1,9 bilhão – mas este número exclui o R$ 1,2 bilhão bloqueado pelo BTG para compensar dívidas da varejista e que segue em discussão na Justiça. Excluindo a provisão, o ROE teria sido de 22,1% e o lucro teria crescido 37% para R$ 8,9 bilhões. A área de wealth management e consumer banking apresentou uma receita de R$ 2,5 bilhões, 66% maior que no ano anterior. No asset management, a receita foi de R$ 1,6 bilhão, uma alta de 31%. Os ativos sob gestão chegaram a R$ 1,3 trilhão. O banco divulgou um guidance para 2023 de um ROE superior ao 20,8% de 2022, já que as receitas crescerão mais do que os custos. Temos uma visão positiva das ações do BTG.

A XP reportou o resultado do 4T22 significativamente abaixo do consenso. A lucro foi de R$ 782 milhões, uma queda de 21% a/a e abaixo da expectativa. A receita líquida também decepcionou, atingindo R$ 3,2 bilhões, 12% abaixo do esperado. Essa queda se deu principalmente pelo segmento institucional, que engloba os serviços de mesa de operações e derivativos para gestoras, e corporate and issuer services, operações de hedge para empresas, sendo responsáveis por 80% da queda. O CFO, Bruno Constantino, afirmou que a queda desses segmentos era esperada devido a uma antecipação dos clientes no terceiro trimestre por conta das eleições, entretanto, não sabiam qual seria a magnitude desse impacto. Além disso, os negócios também foram impactados pela Copa do Mundo, que diminuiu os dias úteis do período e, consequentemente, atrapalhou o business de investimento. Entretanto, vale destacar que a receita da corretora cresceu 10% no ano de 2022 enquanto o lucro se manteve estável.

Vamos, do grupo Simpar, apresentou resultados acima das expectativas otimistas no 4T22. Um aumento na receita era esperado, ainda assim a empresa conseguiu surpreender com seu crescimento de 73% ao ano na sua receita líquida, totalizando R$ 1,4 bilhão. O EBITDA foi de R$ 567 milhões, 89% a/a, e seu ROIC em 12 meses corridos foi de 19%. A empresa foi amplamente beneficiada pelo impacto no subsídio do ICMS na base de cálculo do IR impulsionando seu lucro líquido para R$ 254 milhões, um aumento de 116% a/a e 59% acima do consenso do BTG. O lucro líquido desconsiderando este impacto seria de R$ 197 milhões de reais, com um crescimento de 68% a/a e cerca de 24% acima da expectativa do mercado. Ao que tudo indica, a empresa deve continuar a mostrar números fortes e sólidos, com maior frota e boas tendências de yield.

A Rumo, empresa do logístico, apresentou resultados do quarto trimestre mais fracos do que esperado, ainda que tenham crescido na comparação anual. A receita líquida atingiu R$ 2,2 bilhões, representando um aumento de 47% a/a, mas ficando 8% abaixo das expectativas. Além disso, o EBITDA ajustado foi de R$ 905 milhões contra R$ 419 milhões no ano passado. O lucro líquido chegou a R$ 243 milhões, impulsionado por impactos não recorrentes. O guidance da empresa mostra menores volumes e melhor EBITDA, o que indica uma melhor base de precificação da Rumo.

Weg fechou 2022 com um trimestre sólido, e destaque para seu lucro líquido. A empresa teve uma receita líquida de R$ 8 bilhões, valor próximo da estimativa do BTG e subiu 22% ao ano, vindo majoritariamente da receita doméstica, com um acréscimo de 32% a/a. O EBITDA do 4T22 também chamou atenção, alcançando R$ 1,6 bilhão, 39% a/a, ultrapassando o consenso do mercado em cerca de 7%. O lucro líquido somou R$ 1,2 bilhão, aumento de 37% ao ano, e surpreendendo as expectativas do mercado, que foram um pouco mais conservadoras. Além disso, o ROIC do período foi de 29%, variou –1,10% a/a e 1,50% t/t. Acreditamos que a empresa continuará performando bem, apesar dos múltiplos estarem elevados.

A Vale teve um trimestre sólido, trazendo uma sensação de confiança para o ano. O EBITDA atingiu US$ 5 bilhões, em linha com o consenso. Além disso, foram anunciados dividendos de US$ 1,8 bilhão, representando um yield de 2,3% no semestre, com previsão de 11-13% no ano pelo BTG. O desempenho operacional apresentou uma melhora geral, estabilizando os custos em 5% t/t. Por outro lado, a empresa apresentou uma baixa geração de caixa por conta de um investimento não recorrente em capital de giro, o que deve ser revertido no futuro. A empresa deve se beneficiar bastante com a reabertura da economia chinesa e com a recuperação da atividade econômica brasileira.

Ações Brasil

Nessa semana mais movimentada, tivemos a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI), índice de preços ao produtor (PPI) e vendas no varejo dos Estados Unidos, como já dito acima. Em linhas gerais, os números vieram acima das expectativas, o que gera um questionamento acerca dos próximos passos do Fed em relação à política monetária e o patamar futuro de juros da economia americana. Na esfera doméstica, o mercado repercutiu os dados dos EUA e seguiu acompanhando o enredo entre Lula e o Banco Central. Tivemos também a divulgação do resultado da Vale referente ao 4T22 e vencimento de opções. Dado isso, o Ibovespa acumulou uma alta de 1,02%, fechando aos 109.176 pontos. Os melhores desempenhos da semana ficam para Hapvida, Via Varejo, Bradesco, Grupo Soma e Tim, enquanto os piores ficam para Azul, Petro Rio, 3R Petroleum, Braskem e Magazine Luiza.

Dentre os destaques positivos, Hapvida teve a melhor performance na semana. Não vemos nenhuma questão de fundamento ou estrutural envolvida. Basicamente, o papel estava muito líquido e relativamente barato nos últimos dias. Com isso, o papel sofreu ajustes normais de mercado, atrelados principalmente a volatilidade implícita, que atualmente é muito alta.

Em evento para o mercado, CEO da Via Varejo disse que a crise das Americanas simboliza uma grande oportunidade a frente. Roberto Fulcherberguer disse que a empresa é grande capturadora de market share deixado pela concorrente. Fora isso, sinalizou um curto prazo ainda desafiador, mas longo prazo como sendo uma grande oportunidade para quem detém participação relevante no setor.

As ações do Bradesco apresentaram um reajuste na semana após fraco balanço divulgado anteriormente. Em um evento direcionado ao mercado nessa semana, a possível antecipação do arcabouço fiscal para março animou o mercado e impulsionou o índice, puxado por Vale e bancos, como Itaú e Bradesco. O papel também teve um forte e constante fluxo comprador ao longo da semana, contribuindo para a valorização. Isso também se aplica ao grupo Soma, que teve um fluxo similar após sofrer na semana passada com dados fracos do varejo.

A Tim anunciou uma nova CFO recentemente e publicou projeções para o período entre 2023 e 2025. A companhia planeja pagar dividendos significantes já nesse ano e projeta crescimento do EBITDA. Com isso, tem-se um Dividend Yield maior que dos concorrentes, como Vivo. Vemos esse dividendo anunciado como um sinal positivo para as tendências de lucro líquido futuro. Em suma, projeções de crescimento da capacidade de geração de caixa e pagamentos de bons dividendos são dinâmicas muito bem-vistas pelo mercado, que certamente contribuíram para otimismo implícito no valor do papel.

Já nos destaques negativos, a 3R Petroleum divulgou os dados de produção referentes a janeiro, com uma queda de 6,6% na produção do Polo Potiguar. De qualquer forma, a visão de longo prazo continua positiva. Com a finalização dos trabalhos em Macau, a produção tem potencial de atingir 7 mil boe/d (barris de óleo equivalentes por dia), uma alta de 82% na comparação com janeiro desse ano. O fim do processo de incorporação do Polo Potiguar também deve contribuir, adicionando cerca de 20 mil boe/d à produção. No geral, as petroleiras acompanharam a queda do preço do barril no exterior com o anúncio de que os Estados Unidos iriam vender uma parcela da sua reserva estratégica, adicionando oferta ao mercado e pressionando, portanto, os preços da commodity.

O mercado continua precificando um cenário difícil para a Azul, refletindo diretamente na cotação dos papéis. Como dito na semana passada, o aumento de custos resultante da valorização do dólar e do petróleo impacta diretamente nas margens. Fora isso, uma Selic a 13,75%, que pressiona ainda mais as despesas financeiras e pesa na decisão de consumo da população como um todo, é outro fator desfavorável para a companhia.

A expectativa ruim de resultado do 4T22 da Braskem, com spreads ainda espremidos, impactam diretamente o papel. Deve-se isso a uma menor demanda chinesa e processo de normalização dos spreads dado que a economia global caminha para uma desaceleração esse ano. É necessário se atentar a uma menor procura por resinas e estoques globais sólidos, além da inflação global e reabertura chinesa mais lenta que o previsto.

Com um cenário de curto prazo bem desafiador dado patamar de juros para Magalu, vemos esse movimento de queda como uma realização de lucros em função de uma alta de 48% desde começo do ano. O mercado vê a empresa como possível detentora do market share disponível decorrente do ocorrido com as Lojas Americanas. Vale destacar que o spread de crédito maior não se justifica só pelos juros, mas porque o risco de crédito também aumentou. Além dos juros, o endividamento das famílias e inflação são outros dois inimigos do varejo como um todo.

Topo

Artigos relacionados

Escritório

  • Rua do Rócio, 350 
    1º andar
    Vila Olímpia, São Paulo - SP
    CEP 04552-000

Contatos

  • (11) 2147 0450

  • Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

2022  Todos os Direitos Reservados | Política de Privacidade